OS ABUTRES DA FINANÇA INTERNACIONAL
A SURDEZ DA NOSSA POLÍTICA
Tenho a impressão que certos economistas de fama internacional, embora sem más intenções – assim o espero - não resistem ao chamamento da visibilidade e, logo, à autoridade da própria opinião sobre os problemas financeiros deste ou daquele país, acerca dos quais já outros exprimiram opiniões, críticas, pareceres, vaticínios.
Não compreendo a insistência em apontar “as próximas vítimas”, quando estas são membros da União Europeia, mas países menores.
Jogo de massacre ou entendem que a zona euro é o alvo príncipe, no momento de crise económica actual?
Quando lemos alguns destes economistas ou opinionistas especializados, levados pela impaciência de continuamente termos de ouvir o prognóstico de um inevitável contágio da situação grega, os maus pensamentos também são inevitáveis: não se tratará de mensagens criptadas aos especuladores, abutres sempre à espera das boas oportunidades de cravar garras nas dívidas de Estados em dificuldade, quer as condições sejam ou não catastróficas?
Sê-lo-ão, se as especulações financeiras sem ética nem regras dirigirem as atenções rapaces para as dívidas soberanas - e se os países em questão não adoptarem a austeridade e as correcções necessárias, acrescente-se.
Só me pergunto quando virá à luz uma séria reforma do sistema financeiro mundial!
Abstenho-me de falar das "agências de notação financeira" que se crêem juízes infalíveis, mas cuja infalibilidade é muito discutível. Não se explica a ausência, no Banco central Europeu ou outra entidade afim, de organismos que efectuem, com autoridade e rigor, as mesmas funções de avaliação.
Os mercados esquecem que as classificações destas agências não são atestados de fiabilidade, mas opiniões. Devem as populações dos países fortemente endividados sofrer pelas “sentenças” – assim as vêem os mercados – deste oligopólio das agências de rating?
Somente Portugal, Espanha (que não é um país pequeno), Irlanda e, em certos aspectos, a Itália serão a próxima Grécia? Um jornal alemão vê essa probabilidade como “Um Pesadelo”. Que se acalme!
No alarido das várias opiniões, é confortante conhecer a de Dominique Strauss-Kahan, Director Geral do Fundo Monetário Internacional, onde esclarece que “Não há uma varinha mágica para resolver os problemas da Grécia, mas não vê, de imediato, riscos de contágio. Além disso, não crê que os problemas de Portugal e Espanha sejam maiores do que qualquer outro país, na zona euro.” Aleluia!
Só é pena que outros responsáveis do FMI não ponham um bocadinho mais de atenção nas declarações públicas. Que deixem falar os relatórios e tenham o bom senso de não apontar o dedo a quem quer que seja.
É já bem comprovado que declarações irreflectidas de pessoas com cargos de responsabilidade, nestas matérias, frequentemente provocam terramotos.
Lamento a situação económica grega e o que isso representa para a população.
Lamento ainda mais, isto é, tornou-se-me verdadeiramente detestável a política europeia da Alemanha de Ângela Merkel: oportunista, míope, egoísta - a União é válida, mas somente quando vai ao encontro dos interesses nacionais.
Digo claramente que não aprecio esta dirigente alemã. Não me parece a digna sucessora dos precedentes chanceleres alemães, os quais foram, inegavelmente, excelentes políticos e grandes propulsores da União Europeia.
Sobre a senhora Merkel, transcrevo a opinião de Jean Claude Juncker: “Olha para a Europa com os óculos da política interna, em vez de olhar os problemas internos com olhos europeus”.
Tem levantado mil dificuldades nas ajudas e solidariedade à Grécia: mais um sinal favorável aos especuladores; muito negativo para o nosso País.
Pretende rigor, quando esquece que na Alemanha também existem muitos rabos-de-palha, a começar pelos bancos. “As pesadas perdas dos grandes bancos alemães, no recente tsunami financeiro, demonstrou, na realidade, quanto seja postiça esta altaneira demonstração da disciplina teutónica. Também na Alemanha, nas barbas da vigilante Bundesbank, fez-se tanta finança alegre”. – Massimo Riva
Há outro aspecto deste socorro da União que me deixa perplexa. Fazer passar por ajuda um empréstimo a cinco por cento e continuar a exigir ulteriores medidas de rigor à pobre Grécia, francamente, a isso chama-se usura misturada com arrogância: solidariedade, sim, mas com lucro!...
Vejamos, agora, a situação económica e financeira de Portugal. Melhor, observemos o comportamento político português. Olhemos para os partidos que nos representam.
Não sei se é surdez, se é cegueira, irresponsabilidade, impreparação, mediocridade. Continuo a preocupar-me e a não compreender a superficialidade, diria mesmo leviandade, como os nossos políticos tratam a grave situação em que nos encontramos.
Parece que ninguém dá a mínima atenção aos tambores de alarme externos que, como acima digo, apontam Portugal como muito perto da bancarrota. Possível que esta surdez, esta indiferença política seja tão irresponsável?
Esperar-se-ia concórdia, tréguas nas rivalidades entre partidos, união e vontade de encontrar soluções, confrontando-as serenamente.
Veria com grande simpatia uma coalizão, nestas circunstâncias, dos dois maiores partidos. Porém, o Governo, pecando por arrogância de auto-suficiência, dá a impressão de dispensar pareceres, sugestões: não gostei da expressão “mão cheia de nada”, do ministro da economia, dirigida às propostas do PSD.
A oposição, por sua vez, entende que as "Comissões Eventuais de Inquérito" são mais interessantes e que os demais problemas do País são de somenos importância.
Talvez para justificar a presença na Assembleia da República, displicentemente, atiram com propostas não devidamente estudadas e ponderadas.
Ponho esperanças no novo líder do PSD, Passos Coelho. Pelo menos, que seja mais comedido e elegante nas críticas aos adversários e que, neste período de crise, saiba renunciar a propostas de efeito.
Gostaria que tivesse, juntamente com os responsáveis do seu partido, uma longa conversa com o Governo. Gostaria que depusessem as armas e estudassem uma estratégia sólida e de longo alcance, enviando, deste modo, um sinal forte e convincente ao exterior.
Gostaria que dessem avio a medidas clarividentes, austeras e enérgicas, sustentadas por uma coesão política séria e determinada.
Penso que operariam aqueles milagres que os profetas do pessimismo pretendem negar.
A SURDEZ DA NOSSA POLÍTICA
Tenho a impressão que certos economistas de fama internacional, embora sem más intenções – assim o espero - não resistem ao chamamento da visibilidade e, logo, à autoridade da própria opinião sobre os problemas financeiros deste ou daquele país, acerca dos quais já outros exprimiram opiniões, críticas, pareceres, vaticínios.
Não compreendo a insistência em apontar “as próximas vítimas”, quando estas são membros da União Europeia, mas países menores.
Jogo de massacre ou entendem que a zona euro é o alvo príncipe, no momento de crise económica actual?
Quando lemos alguns destes economistas ou opinionistas especializados, levados pela impaciência de continuamente termos de ouvir o prognóstico de um inevitável contágio da situação grega, os maus pensamentos também são inevitáveis: não se tratará de mensagens criptadas aos especuladores, abutres sempre à espera das boas oportunidades de cravar garras nas dívidas de Estados em dificuldade, quer as condições sejam ou não catastróficas?
Sê-lo-ão, se as especulações financeiras sem ética nem regras dirigirem as atenções rapaces para as dívidas soberanas - e se os países em questão não adoptarem a austeridade e as correcções necessárias, acrescente-se.
Só me pergunto quando virá à luz uma séria reforma do sistema financeiro mundial!
Abstenho-me de falar das "agências de notação financeira" que se crêem juízes infalíveis, mas cuja infalibilidade é muito discutível. Não se explica a ausência, no Banco central Europeu ou outra entidade afim, de organismos que efectuem, com autoridade e rigor, as mesmas funções de avaliação.
Os mercados esquecem que as classificações destas agências não são atestados de fiabilidade, mas opiniões. Devem as populações dos países fortemente endividados sofrer pelas “sentenças” – assim as vêem os mercados – deste oligopólio das agências de rating?
Somente Portugal, Espanha (que não é um país pequeno), Irlanda e, em certos aspectos, a Itália serão a próxima Grécia? Um jornal alemão vê essa probabilidade como “Um Pesadelo”. Que se acalme!
No alarido das várias opiniões, é confortante conhecer a de Dominique Strauss-Kahan, Director Geral do Fundo Monetário Internacional, onde esclarece que “Não há uma varinha mágica para resolver os problemas da Grécia, mas não vê, de imediato, riscos de contágio. Além disso, não crê que os problemas de Portugal e Espanha sejam maiores do que qualquer outro país, na zona euro.” Aleluia!
Só é pena que outros responsáveis do FMI não ponham um bocadinho mais de atenção nas declarações públicas. Que deixem falar os relatórios e tenham o bom senso de não apontar o dedo a quem quer que seja.
É já bem comprovado que declarações irreflectidas de pessoas com cargos de responsabilidade, nestas matérias, frequentemente provocam terramotos.
Lamento a situação económica grega e o que isso representa para a população.
Lamento ainda mais, isto é, tornou-se-me verdadeiramente detestável a política europeia da Alemanha de Ângela Merkel: oportunista, míope, egoísta - a União é válida, mas somente quando vai ao encontro dos interesses nacionais.
Digo claramente que não aprecio esta dirigente alemã. Não me parece a digna sucessora dos precedentes chanceleres alemães, os quais foram, inegavelmente, excelentes políticos e grandes propulsores da União Europeia.
Sobre a senhora Merkel, transcrevo a opinião de Jean Claude Juncker: “Olha para a Europa com os óculos da política interna, em vez de olhar os problemas internos com olhos europeus”.
Tem levantado mil dificuldades nas ajudas e solidariedade à Grécia: mais um sinal favorável aos especuladores; muito negativo para o nosso País.
Pretende rigor, quando esquece que na Alemanha também existem muitos rabos-de-palha, a começar pelos bancos. “As pesadas perdas dos grandes bancos alemães, no recente tsunami financeiro, demonstrou, na realidade, quanto seja postiça esta altaneira demonstração da disciplina teutónica. Também na Alemanha, nas barbas da vigilante Bundesbank, fez-se tanta finança alegre”. – Massimo Riva
Há outro aspecto deste socorro da União que me deixa perplexa. Fazer passar por ajuda um empréstimo a cinco por cento e continuar a exigir ulteriores medidas de rigor à pobre Grécia, francamente, a isso chama-se usura misturada com arrogância: solidariedade, sim, mas com lucro!...
Vejamos, agora, a situação económica e financeira de Portugal. Melhor, observemos o comportamento político português. Olhemos para os partidos que nos representam.
Não sei se é surdez, se é cegueira, irresponsabilidade, impreparação, mediocridade. Continuo a preocupar-me e a não compreender a superficialidade, diria mesmo leviandade, como os nossos políticos tratam a grave situação em que nos encontramos.
Parece que ninguém dá a mínima atenção aos tambores de alarme externos que, como acima digo, apontam Portugal como muito perto da bancarrota. Possível que esta surdez, esta indiferença política seja tão irresponsável?
Esperar-se-ia concórdia, tréguas nas rivalidades entre partidos, união e vontade de encontrar soluções, confrontando-as serenamente.
Veria com grande simpatia uma coalizão, nestas circunstâncias, dos dois maiores partidos. Porém, o Governo, pecando por arrogância de auto-suficiência, dá a impressão de dispensar pareceres, sugestões: não gostei da expressão “mão cheia de nada”, do ministro da economia, dirigida às propostas do PSD.
A oposição, por sua vez, entende que as "Comissões Eventuais de Inquérito" são mais interessantes e que os demais problemas do País são de somenos importância.
Talvez para justificar a presença na Assembleia da República, displicentemente, atiram com propostas não devidamente estudadas e ponderadas.
Ponho esperanças no novo líder do PSD, Passos Coelho. Pelo menos, que seja mais comedido e elegante nas críticas aos adversários e que, neste período de crise, saiba renunciar a propostas de efeito.
Gostaria que tivesse, juntamente com os responsáveis do seu partido, uma longa conversa com o Governo. Gostaria que depusessem as armas e estudassem uma estratégia sólida e de longo alcance, enviando, deste modo, um sinal forte e convincente ao exterior.
Gostaria que dessem avio a medidas clarividentes, austeras e enérgicas, sustentadas por uma coesão política séria e determinada.
Penso que operariam aqueles milagres que os profetas do pessimismo pretendem negar.
Alda M. Maia
3 Comments:
Excelente análise, Alda
Como não concordar consigo integralmente?
Todos os dias temos sido bombardeados com declarações de entidades e instituições de referência, a acenar com fantasmas de todos os feitios sobre o estado das nossas contas públicas. Ora se usam as cores mais negras que imaginar se possa ora surge uma ou outra declaração a tentar dar-nos algum alento.
Já não podemos ter qualquer dúvida.
Somos meros piões neste jogo de interesses egoístas e especulativos!
Esperemos que a Fortuna não nos abandone, que bem necessitamos dela.
Um abraço
António
Viva, António.
Muito satisfeita por estar de acordo comigo. Acredite que estou saturada e, simultaneamente, irritada com a leviandade da classe política e a inconsciência do nosso povo.
Já reparou que ninguém quer abdicar de quaisquer benefícios e a situação financeira do País que se lixe, passe a expressão?
Mas haverá informação suficiente, a fim de melhor compreenderem a gravidade do que se passa? penso que não.
Entretanto, os especuladores esfregam as mãos.
Um abraço
Alda
Mas é claro que têm bons intentos tais economistas! Garantir chorudas compartidas a que lhes paga! Aliás se tal gente fosse tão competentes nunca haveria crises, ou será que as criam com os intentos antes referidos. Arrisque-se acabar com os "Off-Shores" e congelar as bolsas defenindo-se como limite dos investimentos em bolsa a soberania dos factores e capacidades produtivas das empresas e dos Estados, sobre os factores especulativos, numa relação de cinco para um, e a crise acaba logo!
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