domingo, março 07, 2010

UMA NOVA CASTA

Nas democracias (não somente nas democracias) a classe política passou a ser vista como uma verdadeira casta, onde os privilégios e as oportunidades de bem arranjar-se na vida são os principais factores que, frequentemente, a desprestigiam: é esta a ideia comum.

Em meados de 2007, dois jornalistas do Corriere della Sera – Gian António Stella e Sérgio Rizzo - publicaram um livro cuja edição superou um milhão de exemplares vendidos: “A CASTA”. “E assim os políticos italianos tornaram-se intocáveis”.

È uma obra de inquérito que, mercê de documentos oficiais, reportagens, análise de factos bem visíveis e incontestáveis, apresenta um amplo retrato do que são os privilégios, abusos, desperdícios e falta de pudor de quem se auto-elevou à posição de casta superior intocável, onde tudo é permitido, em detrimento do erário público e ultrajando o poder de que fora investida.

Dos múltiplos exemplos que apontaram e descreveram, somos levados a concluir que não é só na classe política italiana que se verificam essas desenvolturas. Nos demais países, ninguém pode cuspir para o ar, embora em alguns se verifique uma concepção ética superior.

Concentremos, agora, a atenção no momento actual das nossas vicissitudes nacionais, nas polémicas que a mediocridade mantém acesas, já que existe um deserto total de ideias construtivas para pôr remédio aos problemas que nos atenazam.
E como não há ideias, tão-pouco homens políticos de uma certa espessura que as possam elaborar e propor com tenacidade e determinação, uma nova casta apoderou-se do palco, tentando criar heróis onde apenas vemos uma clara insignificância.

Não me refiro aos nossos políticos: vejo-os tão vergastados que já têm pouco de casta preeminente.

Há uma nova casta que em Portugal medrou e se autoproclamou intocável, senhora única das verdades e presumível vítima de atentados contra a própria sacralidade impoluta: a classe dos jornalistas (com apreciáveis excepções).

A liberdade de Imprensa, embora equivalente, coloca-se num plano paralelo à liberdade de expressão, liberdade esta em grave perigo, segundo proclamam.
Não consta que haja qualquer mecanismo pidesco que nos amordace e impeça de dizermos sempre o que pensamos, desde que assumamos a responsabilidade das nossas afirmações, obviamente.
Logo, é uma perfeita cretinice gritar que, em Portugal, não existe liberdade de expressão.

Quanto à liberdade de imprensa, um pouco mais condicionada por variados factores, o relatório de “Repórteres Sem Fronteiras” de Outubro 2009, numa lista de 175 países, colocou-nos em 30.º lugar.
Descemos na escala, mas ainda permanecemos na zona de imprensa livre, “de boa situação” – a França está em 43.º; a Espanha, em 44.º.

À Itália atribuíram-lhe o 49.º, isto é, um país com uma liberdade de imprensa muito comprometida. Que novidade!...
Mais que na liberdade de imprensa, o deterioramento concretiza-se na actual desinformação televisiva, por vezes descarada e arrogante. Ora, cerca de 75% dos italianos é informado através dos noticiários ou programas de comunicação televisivos. Não estranhemos, portanto, que Berlusconi ganhe as eleições. Domina o mercado.

Voltando à terra Lusa, não podemos ignorar a maneira totalmente errada como o nosso Primeiro-Ministro reagiu às críticas que a imprensa lhe movia. Paralelamente, é lamentável que ninguém lhe recordasse que todas e quaisquer críticas devem ser enfrentadas como uma normalidade em quem ocupa lugares políticos de responsabilidade.

Posto isto e conhecendo bem a situação italiana, é-me impossível não sentir uma certa náusea, nestes últimos tempos, perante o insistente comportamento teatral da maior parte da nossa imprensa e dos respectivos jornalistas.

É-me difícil compreender a palhaçada (e não retiro a palavra) a que se continua a assistir na Comissão de Ética do Parlamento, com a passarela de quem se crê imolado no altar da sua alta profissionalidade.
Mas a que alta profissionalidade se pretende aludir!? No grupo que mais se manifestou, podemos discernir bons jornalistas? Não me apercebi da existência de tais exemplares; bem pelo contrário.

Se dúvidas houvesse, bastou a interpretação de Manuela Moura Guedes no papel de mártir da informação. Penosa!
A senhora exprimiu-se sem que os freios da elegância e do equilíbrio lhe aconselhassem bom gosto e bom senso. Acusou tudo e todos, sem um mínimo de responsabilidade, quer no que asseria, quer nas acusações lançadas a esmo.
É este o jornalismo, infinitamente mais baixo ainda do género tablóide, que se quer impor? Onde está o respeito pelos leitores ou aquelas pessoas que desejam ser informadas e esclarecidas com honestidade?

Insistem na denúncia de pressões políticas. Quando um jornalista é bem consciente do seu profissionalismo, da perseverança e rigor no uso da objectividade e equidistância, nunca lhe faltarão fortes e válidos argumentos para se opor à humilhação da própria integridade.

Em toda esta comédia de “jornalismo oprimido”, houve uma Senhora que se demarcou. Com dignidade e aprumo, a excelente jornalista Teresa de Sousa recusou-se a desfilar na passarela das queixinhas. Efectivamente, nada tem que ver com os representantes da "nova casta" que, por "direito divino", interpretam a liberdade de imprensa como uma liberdade do vale tudo.
Oportuno recordar o velho axioma: “a tua liberdade acaba onde começa a minha”. Mas os "direitos divinos" não se prendem com estas bagatelas.
Alda M. Maia

2 Comments:

At 7:55 da tarde, Blogger Teresa Fidalgo said...

D. Alda,

E a arrogância daquela gente até enjoa!!!
Como em tudo, quando os carrascos querem passar a vítimas, dá-me náuseas incapazes de suster...
A Sr.ª Manuela M G, por ex., nunca foi boa jornalista, sempre se revelou tendenciosa, emproada e altaneira. E como política… uma nulidade.
Quis juntar uma coisa à outra, resultou num deplorável espectáculo.
E os outros… o mesmo do mesmo, são fracos e querem ser senhores, que fazer?

 
At 10:25 da tarde, Blogger Alda M. Maia said...

Repito o "Boa noite" que te desejei, agora mesmo, no teu cmentário ao post precedente.

Boa noite, Maria Teresa

Mas tu achas que Madame Manuela Moura Guedes seja verdadeiramente uma jornalista?!
Sempre a tomei, nas raríssimas vezes que a ouvi, como uma simples ledora das notícias e que colhia a casião para exibir as suas simpatias ou rancores. Chamas a isto jornalismo? Conhecendo-te, penso que não.

Um abraço
Alda

 

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