segunda-feira, agosto 03, 2009

OS DESAGUISADOS DA POLÍTICA ELEITORAL

Por vezes, estas contendas roçam a superficialidade, quando não se apresentam como querelas pouco dignas de pessoas adultas e com experiência de navegação nos mares políticos.

Gostaria que alguém explicasse, com razões aceitáveis, a importância, na vida nacional, do convite - ou não convite - socialista à Senhora Joana Amaral Dias.

São dias e dias que o “caso” ocupa as páginas dos jornais, da blogosfera e espaço nos múltiplos noticiários televisivos.
São dias e dias que se assiste a declarações ofendidas, a desmentidos, a reafirmações acusatórias, a solicitações de pedidos de desculpa, ao uso de chavões como “tráfico de influências”.
É caso de, deselegantemente, praguejar como um marinheiro dos romances de Salgari: com seiscentos milhões de baleias, acabem lá com essa conversa! Sejam honestos, uns e outros, expliquem-se e passem a ocupar-se de temas mais construtivos.

Quanto aos meios de informação, seria belo se não se degradassem a atear desavenças próximas do infantilismo, da coscuvilhice ou de rancores políticos, quase sempre fictícios.

Não a conhecendo, atrevo-me a fazer uma pergunta: sob o ponto de vista político, pois foi neste palco que o cancã se desenfreou, a Senhora Joana Amaral Dias é uma figura de tal relevo que justifique este prolongado "caso nacional" por ela mesma desencadeado?

Também pode haver outra explicação: Governo e PS, neste período, são o inimigo público n.º 1. As baterias dos demais partidos atiram, sem tréguas, sobre esse alvo e todas os motivos são válidos.

Assim funciona a democracia! E não funciona mal. Necessitaria apenas de reforçar e exigir o insubstituível culto pela ética - no fazer e no falar - pois caminha com um passo muito rasteiro. A ética pretende alturas; infelizmente, nem sempre há os apetrechos necessários para a escalada!

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Não se pode deixar de aplaudir a recente sentença do Tribunal Constitucional em anular algumas normas do Estatuto Político-Administrativo dos Açores.
Quando o Presidente da República não ratificou a lei sobre este Estatuto, dei-lhe toda a razão. As suas competências foram inconstitucionalmente alteradas e confesso que não vi nenhuma indispensabilidade nem urgência na votação de uma lei tão discutível.
Satisfazia a sede de comando dos maiorais - partidariamente afins - das regiões autónomas? Razões muito frágeis e pouco defendíveis.

O que achei estranho foi o modo teatral como o Senhor Presidente quis dar a conhecer ao País o seu desagrado e recusa. Era necessário? Não creio.

Visto que lhe compete vigiar o respeito pela Constituição, a praxe comum seria não assinar e enviar o diploma, acto contínuo, para o Tribunal Constitucional.
Por que o não fez? Para quê tanta dramatização sobre deliberações legislativas inconstitucionais que poderiam ser neutralizadas? Os contrapesos democráticos não têm esse fim?

Relativamente a esses fundamentais contrapesos, discordo e censuro as críticas do PS/Açores ao Tribunal Constitucional. O que este decidiu foi muito bem decidido e os itens da Constituição
devem ser observados.
Reacções de quem se pensa casta do “quero, posso e mando”, somente porque foram eleitos?

E já que falamos de reacções, pois foi esta faceta da questão que me arrastou a escrever sobre o assunto, as da oposição são dignas de um Gil Vicente moderno. Que farsantes sem pudor! À frente da trupe, o bastão do comando pertence ao PSD.

Vitória para o Presidente da República; vitória para o PSD; derrota para Sócrates e PS… e por aí adiante.
Na minha modestíssima opinião, jamais usaria os termos vitória e derrota, por inadequados.
O Presidente da República cumpriu o que o seu alto cargo exigia e só nos devemos congratular com a sua atenta vigilância. Se houve vitória, foi a da democracia e do respeito pelas regras democráticas.

A lei de 19 de Dezembro 2008 foi aprovada – estupidamente, deve-se concordar - com os votos do PS, PCP, CDS/PP, BE e Verdes.
O PSD, ambiguamente, absteve-se. Ulteriormente, requereu a fiscalização do Tribunal Constitucional, juntamente com o Provedor de Justiça.
Por que não votou contra, na devida altura? Neste episódio, que farsa interpretou?
A que vitória aludem, agora, os representantes do PSD? Baseada em que atitudes límpidas e incontestáveis?

Aqui está mais um exemplo da inconsciente (?) arrogância da casta partitocrática: ostentação permanente de uma natural desenvoltura no diz e não diz, no faz e não faz, mandando para as ortigas a consideração pela normal inteligência de quem os vota, observa e julga.
Alda M. Maia

10 Comments:

At 7:26 da tarde, Blogger a d´almeida nunes said...

Viva, Alda

De facto, a questão NACIONAL da sra. do BE passou pela minha inteligência como se eu estivesse completamente a leste do que se passa neste país!

Mas...para quê tanta verborreia por um caso sem qualquer importância de assinalar? Qual o problema da sra. ter sido ou não ter sido convidada a passar-se para outro grupo político? Como independente, presumo!
Nem o PS nem o BE se deviam ter envolvido em acusações e explicações esfarrapadas! Olha o grande problema nacional que se levantou!
Vamos a coisas sérias, que é do que precisamos! Mas não! Agora foi tudo de férias e, como que por artes mágicas, acabaram-se os casos político/peixeirada!
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Quanto à questão do Estatuto dos Açores, também estou consigo quando se espanta com o o facto de o PSD, na altura devida não se ter pronunciado e agora vem cantar vitória. Porquê? Porque conseguiu juntar um Triunvirato a pensar no próximo futuro Governo de PORTUGAL?

Não consigo entender estes profissionais da política! Já cá andam há tanto tempo, que se calhar já perderam a noção do ridículo!?

Um abraço e um beijinho da Zaida

 
At 2:18 da tarde, Blogger Quint said...

Na análise que faz ao caso (sejamos bondosos e digamos que aquilo é um caso) da Joana Amaral Dias, também me questiono sobre a real necessidade de andar o PS e membros do Governo a reboque de afirmações mais ou menos sibilinas de um Francisco Louçã que, tirando a verborreia conveniente de um líder de um agrupamento, uma confederação de extrema-esquerda, nada mais de relevo deu à Nação; interrogo-me porque, como diz, se a senhora entendeu ir a correr contar ao dirigente máximo do seu partido (o mesmo que a ostracizou nos órgãos nacionais depois de ela ter aceite integrar a candidatura presidencial de Mário Soares, ainda antes do BE ter anunciado que iria ter um candidato) e aquele, vislumbrando ali mais uma soberana oportunidade de, com aquele tom catastrofista que dá a cada palavra, vir novamente a terreiro apontar públicos vícios ao PS, não entendo porque tiveram Sócrates, Campos e mais uns quantos de andar a justificar-se, a enredarem-se e a atrapalharem-se.

Ofertas públicas de aquisição na política é coisa que todos os dias sucede; basta ver, por agora, e por exemplo no plano autárquico, quantos eleitos ou candidatos se passam miraculosamente de campo a troco, muitas vezes, de coisa nenhuma a não ser o dinheiro ao fim do mês. É pouco, mas a alguns o que tiram nas Juntas de Freguesia mais o que esticam nas assembleias municipais é quase meio ordenado!

Se o PS convidou, convidou; também nos tempos do cavaquismo esmagador o PSD convidava e desconvidava, por exemplo.

Quanto ao Estatuto da Região Autónoma dos Açõres custa a perceber como é que o PS se quis meter tão a jeito; uma coisa é a Madeira e outra bem diferente os Açores conforme Cavaco já teve oportunidade de mostrar várias vezes.

Aliás, o cinismo de Cavaco vai ao ponto de calar ante Alberto João Jardim e ter primado pela deselegãncia de, enquanto Presidente da República, não ter felicitado Carlos César aquando da sua vitória nas últimas eleições para o Parlamento Regional.

Quanto à questão do acórdão do Tribunal Constitucional, mais uma vez se viu que ainda há muito quem insista em tomar a nuvem por Juno pois havia quem proclamasse que o Estatuto era inconstitucional. É falso. São-no apenas os artigos alvo da polémica.

Quanto à coerência do PSD que vota o diploma para depois ir pedir a sua fiscalização, está tudo dito. Aliás, coerência é o que mais há naquela casa.

 
At 3:52 da tarde, Blogger Alda M. Maia said...

Boa tarde, António

O “caso” é, efectivamente, ridículo - insisto neste conceito – mas mais estranho ainda é o papel da “heroína” desta história”, não lhe parece?

Já agora, completo o que não disse antes. Serei injusta, mas a Senhora Joana Amaral Dias demonstrou um aprumo muito pouco vertical.
Se alguém a contactou, e com certeza seria uma pessoa amiga ou conhecida, era o caso de, solicitamente, fazer chegar a notícia aos jornais?

É isto que não compreendo e que me deixou uma impressão absolutamente negativa. Vejo-o como uma vistosa mediocridade política e a ambição de trepar para a ribalta, nada mais.
Mediocremente, fizeram-lhe a vontade e ninguém teve escrúpulos de abusar da nossa paciência.

O PSD, idem. Ufa!
Um abraço e um beijinho à Zaida

 
At 4:36 da tarde, Blogger Alda M. Maia said...

Boa tarde também a si, amigo Ferreira Pinto!

Posso ser curiosa, perdoando-me a indelicadeza e ignorância?
Acerca do seu nome, “Quinn” está para quê?

Recordou a candidatura de Mário Soares e agora me lembro de ter lido o nome de Joana Amaral Dias. Todavia, continua a ser, para mim, uma ilustre desconhecida.

Repito o que acima disse ao António – que lhe apresento como um bom amigo, colega radioamador de Leiria e cujo blogue leio diariamente. Se calhar, conheço agora melhor Leiria que alguns leirienses!

Ah! Mas voltando ao que disse ao António: no meio desta palhaçada, não gostei do papel da senhora. Em tudo, aprecio o estilo e repetir o que se ouve, nunca se faz justiça às palavras e ao tom justo do que se ouviu. Quando informou o jornal Público, desejou mesmo levantar alarido. Pouca classe!

Concordo plenamente, quando alude a transferências de candidatos: muitas são correctas; a maior parte tresanda a conveniência. Tudo isto é política, Ferreira Pinto!

Ao menos, cá pela nossa Terra, não temos o nojo de sabermos que há quem tenta comprar senadores para derrubar o governo que representam. Na Itália, o Governo Prodi caiu, vítima desta indecência e da cretinice da extrema-esquerda.

Aliás, no que respeita aquela esquerda que julga lavar mais branco, esta tem o condão de criar desavenças e, com os seus cálculos e pedantice, actuar em pró do conservadorismo ou de candidatos discutíveis: olhemos Lisboa.

Continuação de boas férias.

 
At 7:31 da tarde, Blogger Alda M. Maia said...

Já me Esquecia.
Em vez de escrever “sentença”, deveria usar o termo acórdão, não é, Signor Avvocato Ferreira Pinto? O colectivo dos juízes pronunciou-se, logo, é um acórdão. Ou digeri mal estas distinções?
Benevolência! Sou apenas uma professora primária (gosto imensamente desta expressão: “professora primária”!)

 
At 11:30 da tarde, Anonymous Anónimo said...

É uma coisa impressionante!
A peixeirada e a mediocridade nas mais altas instancias políticas!
O país de cangalhas, trucidado e vêm trazer caras lindas à ribalta, numa de diz que disse... parece impossível!
Haja vergonha!

Beijinho :)

 
At 4:54 da tarde, Blogger Manuela Araújo said...

O blogue Sustentabilidade É Acção atribuiu a este blogue o prémio COMPROMETIDOS Y MAS 2009.
Um beijinho

 
At 5:49 da tarde, Blogger Quint said...

Caríssima, acórdão é proferido por tribunais superiores. Nos colectivos são sentenças à mesma; mas não se apoquente que ninguém fará disso cavalo de batalha.

Quinn = Quintino.

 
At 3:01 da tarde, Blogger Alda M. Maia said...

Manelinha

Já agradeci, no seu blogue, mais este prémio.
Como expliquei, estes dois últimos dias não pude usar o computador. Assim, só hoje soube do novo galardão.
Grata e lisonjeada.
Um grande abraço
Alda.

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Linda Fada

Não se escandalize: a maior parte tem um especialíssimo jeito para a comédia. A tristeza toda é que se tomam a sério e pensam que somos todos ou parvinhos ou ingénuos.
Um beijinho
Alda

 
At 3:14 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Eu não me escandalizo...
Mas que este País precisava de uma boa revolução, é verdade!
Isto é demais... fazer pouco dos cidadãos! APRE!!!

 

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