GRANDES ESPERANÇAS; PROBLEMAS CICLÓPICOS
Quando se deve resolver os graves problemas que a administração Bush semeou aos quatro ventos, deixando uma herança calamitosa, não se pode esperar que o novo Presidente os resolva rápida e urgentemente.
Não se pode pretender que, embora brilhante na forma como exprime o seu pensamento e atento a todas as dificuldades que o esperavam, Barack Obama dê imediatas soluções a causas que, praticamente, se tornaram gangrenosas.
Recompor os tecidos dessas causas é possível, mas penso seja empreendimento titânico: uma tarefa que exigirá infinita paciência, grande sagacidade, inflexível firmeza, diplomacia de alta classe.
Penso que Barack Obama possua essas qualidades.
O seu mandato vê-se assediado por sérios problemas que tem de sanar. Entre outros, a crise económica actual, a reforma sanitária, os cartéis dos traficantes mexicanos que contaminam o território americano, os frutos das asneiras de Bush: talvez sejam estes os que mais se impõem por maior dimensão e gravidade.
Efectivamente, quantos erros e abusos será obrigado a corrigir, quantos ódios deverá mitigar, quantas incompreensões terá de esclarecer!
A guerra ao Iraque não se pode considerar um erro de Bush, mas um crime. Quiseram combater o terrorismo, mas enfraqueceram a luta no Afeganistão, onde este se aninhava e crescia.
No ímpeto da guerra à Al Qaeda e vingar o 11 de Setembro, aproveitaram para enveredar por outras vias que nada tinham que ver com a luta aos terroristas. Assim, invadiram o Iraque, escaqueirando a solidariedade que a América obtivera e provocando tragédias em cadeia.
A grande maioria do Congresso deu o nihil obstat a essa injustificada e indecente prepotência.
Sempre tão minuciosos a contrabalançar prós e contras, deixaram-se dominar pelas emoções, embora muitos congressistas tivessem votado sim por ocultos e banais interesses. Assisadamente, houve quem votasse não: um deles foi Obama.
Como era fácil de prever, estabeleceu-se o caos, provocou-se a catástrofe, sacrificou-se o povo iraquiano.
As consequências dessa loucura perduram e urge resolvê-las, o que levará o seu tempo. Praticamente, dois conflitos – Afeganistão e Iraque - a que se deve dar uma solução de paz.
****
"Obama ainda não me convenceu plenamente. Não basta ser bom orador, pois é preciso acompanhar a retórica de acção e firmeza” – assim escreveu o bom amigo deste blogue Ferreira-Pinto, no seu último comentário.
Tenha paciência e não se zangue comigo, amigo Ferreira Pinto, mas devo contrastar as suas perplexidades.
A retórica, quando prenhe de significado e bem endereçada, na boca de um Presidente dos EUA, é já uma acção.
Esses belíssimos discursos podem estabelecer um clima de amizade ou de ódios alargados. Podem ser mensageiros de concórdia ou de conflitos.
Recordemos a execrável linguagem de Bush e sócios, quando aludiam à Síria, Irão, Coreia do Norte, Líbia: Eixos do mal; Países canalha.
Esqueciam que tais países significam povos e estes, frequentemente, são as primeiras vítimas da tirania e autoritarismo de quem os governa. Logo, não surpreende a onda de ódios que a América desencadeou e atraiu.
O que Obama disse em Gana, embora já outros tivessem expressado o mesmo, vindo de um personagem que concentra tantos símbolos, adquire uma força muito superior e deixa os africanos sem argumentos válidos.
A grande qualidade de Obama, que se torna difícil não reconhecer, é precisamente a busca do bom entendimento entre as nações, usando cautela e bom senso. Se necessário, dizendo claramente verdades que uma diplomacia, inoportunamente usada, tentaria ocultar - neste caso, sim, seria pura e oca retórica.
Forçosamente, terá de caminhar com pés de chumbo, embora lhe sejam necessários nervos de aço para não responder com dureza aos tarados que patroneam o Irão e Coreia do Norte, por exemplo. Porém, acção e firmeza, sem prever e calcular bem as consequências, que obteriam?
Há ainda uma última observação: nos problemas e causas que merecem e solicitam graves decisões, há sempre que ter em linha de conta as múltiplas almas políticas que habitam o Congresso dos EUA. Também disso dependem as acções firmes e necessárias.
God bless Obama, que bem precisa.
Quando se deve resolver os graves problemas que a administração Bush semeou aos quatro ventos, deixando uma herança calamitosa, não se pode esperar que o novo Presidente os resolva rápida e urgentemente.
Não se pode pretender que, embora brilhante na forma como exprime o seu pensamento e atento a todas as dificuldades que o esperavam, Barack Obama dê imediatas soluções a causas que, praticamente, se tornaram gangrenosas.
Recompor os tecidos dessas causas é possível, mas penso seja empreendimento titânico: uma tarefa que exigirá infinita paciência, grande sagacidade, inflexível firmeza, diplomacia de alta classe.
Penso que Barack Obama possua essas qualidades.
O seu mandato vê-se assediado por sérios problemas que tem de sanar. Entre outros, a crise económica actual, a reforma sanitária, os cartéis dos traficantes mexicanos que contaminam o território americano, os frutos das asneiras de Bush: talvez sejam estes os que mais se impõem por maior dimensão e gravidade.
Efectivamente, quantos erros e abusos será obrigado a corrigir, quantos ódios deverá mitigar, quantas incompreensões terá de esclarecer!
A guerra ao Iraque não se pode considerar um erro de Bush, mas um crime. Quiseram combater o terrorismo, mas enfraqueceram a luta no Afeganistão, onde este se aninhava e crescia.
No ímpeto da guerra à Al Qaeda e vingar o 11 de Setembro, aproveitaram para enveredar por outras vias que nada tinham que ver com a luta aos terroristas. Assim, invadiram o Iraque, escaqueirando a solidariedade que a América obtivera e provocando tragédias em cadeia.
A grande maioria do Congresso deu o nihil obstat a essa injustificada e indecente prepotência.
Sempre tão minuciosos a contrabalançar prós e contras, deixaram-se dominar pelas emoções, embora muitos congressistas tivessem votado sim por ocultos e banais interesses. Assisadamente, houve quem votasse não: um deles foi Obama.
Como era fácil de prever, estabeleceu-se o caos, provocou-se a catástrofe, sacrificou-se o povo iraquiano.
As consequências dessa loucura perduram e urge resolvê-las, o que levará o seu tempo. Praticamente, dois conflitos – Afeganistão e Iraque - a que se deve dar uma solução de paz.
****
"Obama ainda não me convenceu plenamente. Não basta ser bom orador, pois é preciso acompanhar a retórica de acção e firmeza” – assim escreveu o bom amigo deste blogue Ferreira-Pinto, no seu último comentário.
Tenha paciência e não se zangue comigo, amigo Ferreira Pinto, mas devo contrastar as suas perplexidades.
A retórica, quando prenhe de significado e bem endereçada, na boca de um Presidente dos EUA, é já uma acção.
Esses belíssimos discursos podem estabelecer um clima de amizade ou de ódios alargados. Podem ser mensageiros de concórdia ou de conflitos.
Recordemos a execrável linguagem de Bush e sócios, quando aludiam à Síria, Irão, Coreia do Norte, Líbia: Eixos do mal; Países canalha.
Esqueciam que tais países significam povos e estes, frequentemente, são as primeiras vítimas da tirania e autoritarismo de quem os governa. Logo, não surpreende a onda de ódios que a América desencadeou e atraiu.
O que Obama disse em Gana, embora já outros tivessem expressado o mesmo, vindo de um personagem que concentra tantos símbolos, adquire uma força muito superior e deixa os africanos sem argumentos válidos.
A grande qualidade de Obama, que se torna difícil não reconhecer, é precisamente a busca do bom entendimento entre as nações, usando cautela e bom senso. Se necessário, dizendo claramente verdades que uma diplomacia, inoportunamente usada, tentaria ocultar - neste caso, sim, seria pura e oca retórica.
Forçosamente, terá de caminhar com pés de chumbo, embora lhe sejam necessários nervos de aço para não responder com dureza aos tarados que patroneam o Irão e Coreia do Norte, por exemplo. Porém, acção e firmeza, sem prever e calcular bem as consequências, que obteriam?
Há ainda uma última observação: nos problemas e causas que merecem e solicitam graves decisões, há sempre que ter em linha de conta as múltiplas almas políticas que habitam o Congresso dos EUA. Também disso dependem as acções firmes e necessárias.
God bless Obama, que bem precisa.
Alda M. Maia
6 Comments:
Se eu alguma dia pensava que uma simples nota de rodapé em jeito de comentário fosse merecer a laboriosa atenção da minha cara amiga.
Mas, posto que assim foi, procuremos, pois, responder.
Tudo isto a propósito de eu ter dito que Obama ainda não me convencera.
Devo admitir que possa estar a ser demasiado exigente ou até injusto, mas quando as expectativas que se criaram ou se deixaram criar foram da amplitude que foram e são é legítimo que se possa questionar.
Em primeiro lugar, o senador Barack Obama conseguiu granjear os favores de quase tudo o que é “talking head” nos EUA para, na fase primordial da campanha, ter conseguido suplantar os obstáculos que lhe surgiam no campo Democrata.
Aqui chegados, faço uma pequena declaração de interesses embora ridícula porquanto nem sequer sou estado-unidense, nem lá voto: achava que Hillary Clinton era a aposta com mais credibilidade.
Contudo, um conjunto de erros sucessivos e má gestão da campanha, fizeram soçobrar a candidatura.
Paradoxalmente, aquilo que se criticava em Hillary, nomeadamente o da opção pela candidata, representar o regresso de Bill Clinton (falava-se até em Billary, o que, quanto a mim, igualmente desprestigiou a candidata e o antigo Presidente), viria a confirmar-se em boa parte com a composição da equipa de Obama que foi buscar quase todos os “gurus” das políticas económicas de Bill Clinton.
E, num claro sinal de que mais vale tê-la por perto do que por longe, chamou Hillary a desempenhar um cargo de enorme relevo na Administração.
Já sobre os adversários à Direita, McCain foi profundamente penalizado do cansaço de anos de “bushismo” e pela escolha/imposição de Sarah Palin. Esta pode agradar aos sectores mais conservadores do eleitorado, mas não era certamente a escolha ideal para aquela altura dado que a Nação ansiava por uma descompressão!
Ora, num quadro destes, e onde a máquina estava profundamente oleada com voluntários e, mais que isso, uma incrível capacidade de ir buscar dinheiro a tudo quanto era sítio, o mais difícil era Obama ter perdido.
Serve isto para dizer que não teve mérito?
Certamente que não. Aliás, começou por o ter quando decidiu partir na saga da conquista da Casa Branca.
Teve-o quando soube gerir com pinças factores que potencialmente o podiam prejudicar.
E tirou enorme proveito da sua capacidade oratória.
Contudo, durante a campanha, poucas receitas apresentou, coisa em que aqui por Portugal Manuela Ferreira Leite parece apostar também.
Quem não promete, não se queima é o lema!
Há que dar tempo ao tempo e quando escrevi o que escrevi pretendia apenas referir que me parece que estão a colocar Obama num patamar que, provavelmente, nem o próprio queria.
Toda a gente espera demasiado dele e o próprio não dá sinais suficientemente fortes de não querer enveredar por vias que ponham cobro a isso; recordo, por exemplo, o célebre discurso de Praga. Para quê? E com que fim? Serviu para alguma coisa? Ou quedou-se simplesmente por uma demonstração mediática?
É bem verdade que os discursos podem estabelecer um clima de amizade ou de ódios alargados, podem ser mensageiros de concórdia ou de conflitos mas têm de ser acompanhados de acções concretas no terreno.
Por exemplo, aponta um dos países a quem nem Bush e, ao que parece, Obama sabem o que fazer mas que tem de ser devidamente punido no cenário internacional e dentro do quadro legal do Direito Internacional Público: a Coreia do Norte!
No mais, que pretende fazer Obama com o Sudão? E com a Somália? Vai efectivamente ter capacidade para obrigar Israel a sentar-se de forma séria à mesa das negociações ou vai ceder ante os interesses do poderoso lobby judaico?
Não nos esqueçamos que Obama beneficia da grande maioria de que necessita nas duas câmaras e isso faz toda a diferença, embora se tenha, como diz, de atender ás idiossincrasias inerentes a cada um dos senadores e congressistas.
Portanto, reitero que ainda não me convenceu plenamente o que não quer dizer que o não venha a fazer. E, como diz, bem sei que é preciso dar tempo ao tempo, mas têm sido dados sinais contraditórios nalguns domínios que mostram já, e claramente, que Obama é, antes do mais, presidente dos EUA e não do Mundo como muitos esperavam.
E isso faz toda a diferença!
Sobre a administração Bush penso que ainda muito há para dizer e se saber, mas o que já se sabe é suficientemente execrável e mostra bem do carácter de pessoas como Cheney, Rumsfeld, Rice e afins. E, obviamente, naquela Administração dificilmente o interesse público esteve em primeiro lugar!
Já de há uns tempos que os meus pensamentos vadiavam à volta deste tema.
Leio e ouço opiniões contraditórias (algumas com as quais concordo ou não), pretensões que me parecem fora do possível, em conclusão, o seu comentário veio mesmo a talho de foice para que eu pusesse um pouco de ordem no que pensava sobre este assunto. Assim, caríssimo Sr. Ferreira Pinto, só lhe devo agradecer por me ter dado o empurrão final e, portanto, oferecer-me o tema da semana.
Estou de acordo com as suas reflexões.
A propósito de Hillary Clinton, também “torci” por ela. O marido, que em fim de contas foi um bom presidente, estragou tudo.
Fala da punição da Coreia do Norte. Como estou de acordo consigo!! O meu maior regalo seria ver todos os Kim Jong varridos do país e aquele povo liberto de tanta opressão. Mas como se poderá actuar, se China e Rússia imediatamente interpõem vetos ou criam obstáculos?
Veja como estes dois países se comportam com a Birmânia, protegendo uma das piores ditaduras e, entretanto, saqueando as matérias-primas daquele desgraçado país.
Já reparou que iniciaram uma espécie de nova colonização em vários países africanos?
E também já reparou que Bush invadiu o Iraque, pelo petróleo, e serão estes dois a tirar os lucros?
Fico-me por aqui, pois que estes assuntos são como as cerejas.
A presto
Alda
Noto que, sendo pessoa de fino trato, insiste no cerimonioso, educado e relativamente em desuso tratamento por Senhor Ferreira-Pinto; bem sei que os cabelos vão estando grisalhos mas, e por obséquio, apenas Ferreira-Pinto!
Bill Clinton foi um dos erros de campanha. Não creio, contudo, que a culpa fosse dele, antes de quem resolveu que ele seria o trunfo ideal para combater a maré da "obamania" que se fazia sentir.
Provavelmente teria sido preferível deixar que Hillary corresse por si, embora eu perceba o dilema. Hillary, para além de ser mulher, é vista por muitos sectores como demasiado liberal. E Bill ainda é uma máquina de comunicação e de angariação de fundos! Enfim, a vida dos "spin doctors" e estrategas de campanha nunca é fácil. Antes, é-o quando se tem nas mãos um candidato vencedor.
Quanto ao xadrez internacional, eu diria que muitas coisas são como um teatro de sombras chinesas. Efectivamente, tanto Pequim como Moscovo (mas mais a China) funcionam como tampão protector à Coreia do Norte. Não que este país lhes sirva de muito, mas apenas porque permitir uma eventual queda do regime e a reunificação seria perder a face no Extremo-Oriente.
Não tenho grandes certezas, mas para Pequim o factor Taiwan e até das províncias revoltosas e do Tibete também devem influenciar as suas movimentações face à Coreia do Norte.
Quanto à afirmação e presença em vários cenários, Pequim necessita desesperadamente de grandes recursos e é por isso que marca presença em quase todos os sectores e países. E para garantir os seus interesses, normalmente exporta grandes quantidades de emigrantes.
Já a Rússia, para além de querer aceder a certos recursos naturais, penso que Putin (que é quem manda) vê nisso uma possibilidade de afirmação, já que Moscovo anseia que a Rússia volte a ser vista como uma potência e até a recuperar para a sua esfera de influência alguns países.
Nem de propósito ou talvez a contribuir para esta nossa reflexão o "Público" divulga na sua edição electrónica o que segue:
A taxa de popularidade de Barack Obama é inferior à do antigo Presidente George W. Bush - embora por apenas um ponto - no mesmo período do mandato, segundo uma sondagem realizada hoje pelo diário americano "USA Today".
Seis meses depois da tomada de posse de Obama, 55 por cento dos americanos inquiridos na sondagem aprovam a actividade do presidente. Em 2001, Bush recolheu 56 por cento de opiniões favoráveis.
Os cidadãos americanos desaprovam em particular a política económica que Obama estipulou como resposta à crise, de acordo com o inquérito realizado pelo instituto Gallup. A reforma do sistema de saúde pretendida pelo novo Presidente é igualmente posta em causa.
No entanto, a sondagem indica que a personalidade de Obama é muito apreciada e dois terços dos inquiridos reconhecem de boa vontade as suas qualidades de líder.
David Axelrod, conselheiro especial de Obama, declarou ao "USA Today" que considera estas “turbulências” previsíveis, mas está confiante do apoio constante dos americanos ao Presidente.
A sondagem foi realizada por telefone entre 17 e 19 de Julho, a uma amostra de 1006 adultos e tem uma margem de erro de mais ou menos quatro pontos.
A reforma do sistema de saúde, naquele grande país, onde cerca de 48 milhões de habitantes não têm qualquer cobertura, está a desencadear muitas oposições, mesmo da parte de quem seria beneficiado.
As sondagens mostram águas agitadas e estão a demonstrar que a lua-de-mel dos primeiros fatídicos cem dias não poderia continuar inalterada. Seria monótono, não acha?
Que vá para a frente com bons propósitos e mande passear as sondagens.
Enviar um comentário
<< Home