É ESTE O MULTICULTURALISMO QUE DESEJAMOS?
(…) Mas será mesmo verdade que a pátria, com as suas instituições de Estado, pertence ao passado ou, então, condenada pela história? Não é credível.
Os teóricos do fim do Estado descuraram uma constante antropológica: a necessidade humana de pertença a uma comunidade e a um território. Em italiano – e em português – recorre-se frequentemente ao termo “pátria” para descrever o espaço nacional e o sentimento de tal pertencimento.
Na interpretação nacionalista, a pátria é una e exclusiva: não vive entre, mas contra as outras.
Na versão mais evoluída, a determinação de si não exclui o encontro com os outros e com as suas pátrias; nisto está a pré-condição: não existem outros se não existimos nós; e vice-versa. (…)
Excerto de um artigo de Lúcio Caracciolo, no jornal La Repubblica, a propósito do «V Festival Internacional da História» - “èStoria2009” – que se conclui hoje, na cidade de Gorizia, e cujo tema é “As Pátrias”.
Este assunto, por uma associação de ideias, levou-me a recordar uma reportagem lida há dias na revista L’Espresso e que imprimi, a fim de a ler com mais atenção:” Na Casbah de Roterdão”, de Giulio Meotti.
Quis ler com atenção, pois o autor é colaborador de um jornal, Il Foglio, que não costumo ler, por excessivo facciosismo e intransigência na defesa dos “valores não negociáveis” do Vaticano. O director, Giuliano Ferrara, entra na categoria dos que foram apelidados como ateus devotos!
Toda a matéria desse serviço jornalístico deixou-me muito perplexa. Primeiro, iniciei a leitura com uma certa suspeição sobre a objectividade; por último, desconcertada, porque muitos pormenores e descrições do que se passa na Holanda são irrefutáveis.
Já anteriormente lera artigos sobre o modo como a Holanda interpreta o multiculturalismo e as consequências bastante negativas da integração islâmica naquele país. Ora, “Na Casbah de Roterdão”, os exemplos são inquietantes.
“A falência do multiculturalismo é o encontro fatal entre a perda do sentimento religioso e a globalização: explica Jos de Beus, filósofo da política, na Universidade de Amesterdão. Dados provenientes da sede central das dioceses holandesas informam que, entre 1973 e 2002, mais de 240 igrejas católicas foram reconvertidas em mesquitas, salas de conferências ou de exposições. A igreja protestante «O Semeador» de Amesterdão, hoje é a mesquita Fatih”.
A religião muçulmana inicia a dominar todos os aspectos da vida. Há três meses, The Economist falava de Roterdão como de um «pesadelo eurábico».
(…) Em Roterdão, os advogados muçulmanos querem mudar as regras do direito. (…) O advogado Mohammed Enait ficou sentado, quando os magistrados entraram na aula do Tribunal, dizendo que «o Islão ensina que todos os homens são iguais» - só os homens, não as mulheres!...
(…) Mas será mesmo verdade que a pátria, com as suas instituições de Estado, pertence ao passado ou, então, condenada pela história? Não é credível.
Os teóricos do fim do Estado descuraram uma constante antropológica: a necessidade humana de pertença a uma comunidade e a um território. Em italiano – e em português – recorre-se frequentemente ao termo “pátria” para descrever o espaço nacional e o sentimento de tal pertencimento.
Na interpretação nacionalista, a pátria é una e exclusiva: não vive entre, mas contra as outras.
Na versão mais evoluída, a determinação de si não exclui o encontro com os outros e com as suas pátrias; nisto está a pré-condição: não existem outros se não existimos nós; e vice-versa. (…)
Excerto de um artigo de Lúcio Caracciolo, no jornal La Repubblica, a propósito do «V Festival Internacional da História» - “èStoria2009” – que se conclui hoje, na cidade de Gorizia, e cujo tema é “As Pátrias”.
Este assunto, por uma associação de ideias, levou-me a recordar uma reportagem lida há dias na revista L’Espresso e que imprimi, a fim de a ler com mais atenção:” Na Casbah de Roterdão”, de Giulio Meotti.
Quis ler com atenção, pois o autor é colaborador de um jornal, Il Foglio, que não costumo ler, por excessivo facciosismo e intransigência na defesa dos “valores não negociáveis” do Vaticano. O director, Giuliano Ferrara, entra na categoria dos que foram apelidados como ateus devotos!
Toda a matéria desse serviço jornalístico deixou-me muito perplexa. Primeiro, iniciei a leitura com uma certa suspeição sobre a objectividade; por último, desconcertada, porque muitos pormenores e descrições do que se passa na Holanda são irrefutáveis.
Já anteriormente lera artigos sobre o modo como a Holanda interpreta o multiculturalismo e as consequências bastante negativas da integração islâmica naquele país. Ora, “Na Casbah de Roterdão”, os exemplos são inquietantes.
“A falência do multiculturalismo é o encontro fatal entre a perda do sentimento religioso e a globalização: explica Jos de Beus, filósofo da política, na Universidade de Amesterdão. Dados provenientes da sede central das dioceses holandesas informam que, entre 1973 e 2002, mais de 240 igrejas católicas foram reconvertidas em mesquitas, salas de conferências ou de exposições. A igreja protestante «O Semeador» de Amesterdão, hoje é a mesquita Fatih”.
A religião muçulmana inicia a dominar todos os aspectos da vida. Há três meses, The Economist falava de Roterdão como de um «pesadelo eurábico».
(…) Em Roterdão, os advogados muçulmanos querem mudar as regras do direito. (…) O advogado Mohammed Enait ficou sentado, quando os magistrados entraram na aula do Tribunal, dizendo que «o Islão ensina que todos os homens são iguais» - só os homens, não as mulheres!...
O Tribunal da Relação de Roterdão reconheceu-lhe esse direito: «Não existe nenhuma obrigação jurídica que imponha aos advogados muçulmanos de levantar-se, quando entram os magistrados, pois tal gesto vai contra os ditames da fé islâmica»
Sempre entendi que tal gesto, embora não seja obrigatório, é um sinal de respeito perante a Justiça; os magistrados, naquele momento, simbolizam esse grande esteio de um Estado de direito. É em nome desse Estado que se pronunciam
Justificar a arrogância e insolência do advogado Mohammed Enait com «os ditames da fé islâmica», só me pergunto onde esconderam a obrigatoriedade da observância da laicidade, num Tribunal de um Estado democrático europeu. Inacreditável!
Mas que espécie de multiculturalidade é esta?! Um politicamente correcto mal digerido ou medo das reacções do islamismo fundamentalista?
Os exemplos de violência assassina já se verificaram naquele país – Theo Van Gogh e Pim Fortuyn – além das ameaças à senhora Ayaan Hirsi Ali, membro do Parlamento holandês que se opunha aos extremismos da própria religião. As autoridades holandesas não foram capazes de a defender. Teve de refugiou-se nos Estados Unidos.
Sempre entendi que tal gesto, embora não seja obrigatório, é um sinal de respeito perante a Justiça; os magistrados, naquele momento, simbolizam esse grande esteio de um Estado de direito. É em nome desse Estado que se pronunciam
Justificar a arrogância e insolência do advogado Mohammed Enait com «os ditames da fé islâmica», só me pergunto onde esconderam a obrigatoriedade da observância da laicidade, num Tribunal de um Estado democrático europeu. Inacreditável!
Mas que espécie de multiculturalidade é esta?! Um politicamente correcto mal digerido ou medo das reacções do islamismo fundamentalista?
Os exemplos de violência assassina já se verificaram naquele país – Theo Van Gogh e Pim Fortuyn – além das ameaças à senhora Ayaan Hirsi Ali, membro do Parlamento holandês que se opunha aos extremismos da própria religião. As autoridades holandesas não foram capazes de a defender. Teve de refugiou-se nos Estados Unidos.
Onde está a defesa da liberdade de expressão, concordemos ou não com o que cada um exprime?
Todo a reportagem anda à volta da predominância do secularismo, a perda da identidade cristã, uma ideia exacerbada de respeito pelas minorias que «deveriam viver segundo os próprios costumes», nenhuma forma programada de integração dos imigrantes - entre estes, uma forte maioria muçulmana; segregação nas escolas a fim de salvaguardar os valores islâmicos; as mulheres muçulmanas consideradas como cidadãs de segunda classe.
Em conclusão: da parte do Estado, máxima tolerância, envolvida na indiferença de prevenir consequências que originam restrições de direitos; Do outro lado, intolerância e ameaças dos beneficiados a quem lhes interpõe obstáculos.
Não fiquei satisfeita por saber que tudo isto sucede num dos países da União Europeia e de consolidadas tradições democráticas.
Se este modelo de multiculturalismo é plausível, então cultivo ideias muito erradas acerca do respeito que me merecem os imigrantes.
Entram num Continente cujos valores se foram sublimando através dos séculos – o Iluminismo não existiu só para fazer boa figura na História.
Todo a reportagem anda à volta da predominância do secularismo, a perda da identidade cristã, uma ideia exacerbada de respeito pelas minorias que «deveriam viver segundo os próprios costumes», nenhuma forma programada de integração dos imigrantes - entre estes, uma forte maioria muçulmana; segregação nas escolas a fim de salvaguardar os valores islâmicos; as mulheres muçulmanas consideradas como cidadãs de segunda classe.
Em conclusão: da parte do Estado, máxima tolerância, envolvida na indiferença de prevenir consequências que originam restrições de direitos; Do outro lado, intolerância e ameaças dos beneficiados a quem lhes interpõe obstáculos.
Não fiquei satisfeita por saber que tudo isto sucede num dos países da União Europeia e de consolidadas tradições democráticas.
Se este modelo de multiculturalismo é plausível, então cultivo ideias muito erradas acerca do respeito que me merecem os imigrantes.
Entram num Continente cujos valores se foram sublimando através dos séculos – o Iluminismo não existiu só para fazer boa figura na História.
Onde não há Estados teocráticos e o laicismo é característica sine qua non de um Estado de direito – precisamente para salvaguardar a liberdade de religiões diversas.
Onde «os direitos do homem» fazem parte inalienável das respectivas constituições e as mulheres têm exactamente os mesmos direitos de qualquer outro cidadão.
A esses imigrantes, que serão os novos cidadãos europeus, apenas se lhes exige que respeitem as leis do país que escolheram e que não pretendam impor novos valores que a nossa consciência cívica não pode aceitar. Outros valores que enriqueçam a nossa cultura, sejam bem-vindos.
È isto o que entendo como multiculturalismo e integração de quem deseja ser um cidadão igual e com os mesmos direitos dos autóctones europeus.
Alda M. Maia
A esses imigrantes, que serão os novos cidadãos europeus, apenas se lhes exige que respeitem as leis do país que escolheram e que não pretendam impor novos valores que a nossa consciência cívica não pode aceitar. Outros valores que enriqueçam a nossa cultura, sejam bem-vindos.
È isto o que entendo como multiculturalismo e integração de quem deseja ser um cidadão igual e com os mesmos direitos dos autóctones europeus.
Alda M. Maia
2 Comments:
Muito bem dito, muito bem escrito e muito bem pensado! Os meus sinceros parabéns!Queria também acrescentar, que o papel da Holanda, no que respeita à cidadania, por exagero ou não, deixa muito a desejar...
Nestas últimas Europeias, o Partido Pirata ganhou um deputado! Coisa realmente bastante absurda, devido aos "valores" que este mesmo partido defende. Por isso peço que clique na "minha" foto e aceda ao meu perfil de blogger; clique a seguir no blog " A Escada de Penrose e dê por lá uma "volta"! O Berlusconi também lá está... e clique nas letras azuis ou vermelhas para aceder a toda o informação.
Começo a aperceber-me que as convulsões sociais estão a ser implementadas, pelos próprios governantes ditos democráticos!...
Qual a finalidade?! Nem quero pensar...
Abraço
Pos Scriptum Gosto muito de ler o seu blog
Recomendo também o blog "Escrita Em Dia", do qual sou seguidora fiel e tem coisas muito interessantes, sobre a política do nosso país.
Eu referi foto, mas no seu blog não aparece, tem de ser no nome...
Abraço :)
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