domingo, novembro 18, 2007

OS TARIMBEIROS DA POLÍTICA

Observando os mais recentes acontecimentos de carácter político, nacionais e internacionais, frequentemente o meu pensamento fixa-se na palavra tarimbeiro, sobretudo na acepção negativa.

Ninguém perdeu a ocasião de comentar ou criticar o “por qué no te callas” do Rei Juan Carlos dirigido a um papagaio grulhento que, praticamente, impedia outros oradores de serem ouvidos.
Esse papagaio grulhento, todavia, é um Chefe de Estado. Foi elegante mandá-lo calar?
Elegante não foi; protocolar, muito menos; inédito num vértice de altas individualidades, inegável.

É possível que o Rei de Espanha tivesse transgredido o protocolo. Mas quanta alegria deu a muitos de nós, sul-americanos, e a tantos milhões de venezuelanos!”Mário Vargas Llosa.

Dentro de impressões contraditórias, não pude deixar de sorrir, satisfeita, por ver aquele perfeito exemplo do que considero “tarimbeiro político”, ser convidado a calar-se, a fim de refrear às suas proverbiais intemperanças.

Presidente ou não presidente, que o Sr. Chavez aprenda a comportar-se com educação, dignidade e a moderar as poses de caudilho achamboado.
Certamente que o Rei de Espanha, embora com atenuantes, foi deselegante; porém, não foi a sua intervenção que humilhou a Venezuela, mas a incivilidade de quem a representava.

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Como todos sabemos, tarimbeiro, além do sentido próprio - e que pode ser lisonjeiro - tem outros significados absolutamente negativos: mal-educado. Inculto, rude, grosseiro, incivil, ordinário.
Aplicando-os na esfera política, além destas últimas acepções, e por extensão, acrescento: populismo desbragado; a falta de sentido de estado; o pouco ou nenhum respeito pela coisa pública e pelo adversário político; o carreirismo sem ética.

Os exemplos abundam. Cito dois e dos dois países que mais tocam os meus sentimentos.

Quando vejo um líder, entre as tantas bacoradas por que se tornou conhecido, asserir que “é preciso ser um “coglione” (não é necessário traduzir nem quero) para votar o centro-esquerda”; ou que “votar aqueles “coglioni” (os adversários) é estúpido”; q
uando esse mesmo líder, recentemente, com a febre de fazer cair um governo democraticamente eleito, tenta aliciar senadores da coligação governativa para votar contra o Orçamento - o que não conseguiu - o epíteto de tarimbeiro e amoral não poderia ser mais apropriado.
Aliás, escreveram que tentou comprá-los, prometendo futuros altos cargos ou mesmo dinheiro. Certamente que não há provas e os aliciados negaram, como não podia deixar de ser!

Entremos no nosso País.
Quando um ex-ministro da Defesa, nos últimos dias de “reinado”, faz copiar 60 mil páginas dos arquivos do ministério de que era responsável, alegando que se trata apenas de notas pessoais – o que parece uma anomalia – como poderemos classificar este acto?

Se eram notas pessoais, acaso tinha um apartamento privado no ministério? Sendo assim, entendeu ali armazenar todos os documentos acumulados durante a sua vida e, à saída, decidiu coligi-los num gigantesco ficheiro de quase setenta mil páginas, para maior comodidade de transporte e que nada se perdesse? É isto credível? Evidentemente que não.

Aludindo a notas pessoais, e se era Ministro da Defesa, essas notas não fazem parte do conjunto de documentos inalienáveis desse ministério? E se eram documentos que se relacionavam com a “Nato, Iraque, submarinos”, conforme noticiaram, um ex-ministro tem o direito de se apropriar?
Que credibilidade pode ter o nosso País, se matérias confidenciais, dos vários ministérios, são páginas de colecção de um comum cidadão?

Há perguntas que gostaria fossem formuladas por qualquer Procurador do Ministério Público: qual a finalidade da posse dessas 60 mil páginas?! Qual interesse, legal, pode justificar a digitalização de documentos de um ministério?
Se essa iniciativa - que nenhum outro ministro teve, pelo menos tão descaradamente – é legítima, não seria hora de pôr travão, com uma lei bem clara, a um acto fora de qualquer ética, direi mesmo indecente?
Se não houve respeito pelo recato devido a documentos de estado; se com tanta desenvoltura se fazem milhares de cópias de ficheiros de um ministério de que se foi titular; se a ética foi espezinhada, como devemos classificar este indivíduo, isto é, o Sr. Paulo Portas? Um petulante tarimbeiro, obviamente.
Alda M. Maia