RITA LEVI-MONTALCINI
PRÉMIO NOBEL DA MEDICINA EM 1986
Uma grande cientista e uma grande Senhora.
Nasceu em Turim em 22 de Abril de 1909, formou-se em Medicina na universidade de Turim e dedicou-se à investigação no campo da neurologia.
Não somente é digna de grande respeito e admiração como mulher laureada com um prémio Nobel, como também pela sua acção benemérita a favor dos jovens e pelas campanhas de interesse social.
Não desejo, todavia, escrever sobre a grande cientista, membro das mais prestigiosas academias científicas internacionais ou do seu empenho social. Quero, sim, falar da actividade de Rita Levi-Montalcini como senadora vitalícia do Senado da República Italiana e do comportamento repulsivo de um outro senador, pertencente a um minúsculo partido de extrema-direita de recente formação (“La Destra”), contra esta grande Senhora. E não me canso de repetir esta expressão: Grande Senhora, referida a Rita Levi-Montalcini.
Foi nomeada senadora vitalícia – justa e meritoriamente nomeada - pelo Presidente da República, Carlo Azeglio Ciampi, em 2001.
Este novo governo de centro-esquerda – “L’Unione” - tem uma maioria de apenas um ou dois votos, no Senado. Os votos de alguns senadores vitalícios, frequentemente, reforçam essa estreitíssima maioria. Ora, Rita Levi-Montalcini nunca deixou de, com o seu voto, apoiar “L’Unione”.
A oposição - cujo único fim é derrubar o governo e não controlar a sua correcta actuação - quando este passa indemne com os votos de senadores vitalícios, dá lugar a cenas comparáveis às das piores tabernas.
O argumento a que recorrem é que o voto dos senadores vitalícios é imoral, porque não foram eleitos. Assim, “Imoral” – termo tão estúpido quanto revelador de má-fé - são os que votam este governo que, segundo a sua lógica, lhe “roubou” o poder. Bela concepção de alternância democrática!...
Certamente que L’Unione – coligação de governo formada por nove partidos – não raramente merece severas críticas pelo protagonismo doentio e um irritante corporativismo de alguns componentes.
Mas confesso, e desapaixonadamente, que nunca vi uma oposição tão incivilizada, e direi mesmo ordinária, como a actual.
Mas vamos ao caso: triste e indecente.
O vilão da cena (e não metaforicamente), o senador Francesco Storace, decidiu enviar a Rita Levi-Montalcini (98 anos) umas muletas. Alguns jovens militantes, sequazes de Storace, tentaram a entrega a domicílio.
Se o governo não cai, porque senadores vitalícios o votam, portanto resiste com estas “muletas”, insulta-se Rita Levi-Montalcini – “culpada de ser democrática, antifascista e judia” - com uma iniciativa digna do personagem que a lançou.
Wikipedia, em italiano, dá um retrato fiel deste indivíduo.
O Presidente da República Italiana, numa cerimónia onde estava presente a senadora vitalícia, entre várias frases de enaltecimento, afirmou: “Faltar ao respeito, importunar, tentar intimidar a senadora Rita Levi-Montalcini, que é motivo de honra para a Itália, é indigno”.
Não se fez esperar a arrogância de Storace… A propósito, estou a recordar-me, neste momento, do famigerado “Secretário Nacional do Partido Fascista” (1933/ 1939): Achille Starace. Devemos convir que estes dois parónimos foram mesmo predestinados!...
Ia a dizer, então, que não se fez esperar a reacção arrogante e grosseira de Storace (este tem só um a), insultando o Presidente sem o mínimo respeito, nem responsabilidade nos comentários proferidos.
Os seus simpatizantes, quer em entrevistas, quer online, demonstraram a mesma grosseria, chegando a apreciações próximas do anti-semitismo. Storace, então, aludiu aos milhões que o Estado deve pagar a Rita Levi-Montalcini. A quais milhões se refere, gostaria eu de saber!
Que género de políticos miserável!
Rita Levi-Montalcini respondeu a todo este lixo com uma carta, publicada na primeira página do jornal La Repubblica, em 10/10/2007:
Caro Director
Li, em La Repubblica de ontem, que Storace desejaria entregar-me, levando-as directamente a casa, um par de muletas. A este respeito, desejaria expor algumas considerações.
Eu, abaixo assinada, em pleno poder das minhas faculdades mentais e físicas, continuo a minha actividade científica e social, completamente indiferente aos ataques ignóbeis que me dirigem alguns sectores do Parlamento Italiano.
Na qualidade de senadora vitalícia e em base ao artigo 59 da Constituição Italiana, cumprirei as minhas funções de voto até que o Parlamento não aponha relativas modificações. Portanto, exerço tal direito segundo a minha inteira consciência e coerência.
Dirijo-me a quem tem a ideia de entregar-me as muletas, a fim de amparar a minha “deambulação”, assim como a do actual Governo, para informar que de tal coisa não existe nenhuma necessidade. Além disso, quero que fique bem esclarecido que não possuo “os milhões”, visto que sempre destinei os meus modestos recursos a favor, não somente das pessoas necessitadas, mas também para apoiar causas sociais de importância prioritária.
A quantos demonstraram não possuir as minhas mesmas “faculdades”, mentais e de comportamento, exprimo o mais profundo desdém, não pelos ataques pessoais, mas porque as suas manifestações reconduzem a sistemas totalitários de triste memória.
*****
Concebendo um parlamento, na vida democrática de um país, como uma instituição dotada de grandeza e profundo significado, fico literalmente furibunda quando o vejo ocupado por pessoas indignas de serem classificadas como senadores ou deputados.
Mas, desgraçadamente, há quem as proponha e quem as vote, e isto também é democracia. Aguentemos, portanto, os cretinos eleitos; mas não é justo.
PRÉMIO NOBEL DA MEDICINA EM 1986
Uma grande cientista e uma grande Senhora.
Nasceu em Turim em 22 de Abril de 1909, formou-se em Medicina na universidade de Turim e dedicou-se à investigação no campo da neurologia.
Não somente é digna de grande respeito e admiração como mulher laureada com um prémio Nobel, como também pela sua acção benemérita a favor dos jovens e pelas campanhas de interesse social.
Não desejo, todavia, escrever sobre a grande cientista, membro das mais prestigiosas academias científicas internacionais ou do seu empenho social. Quero, sim, falar da actividade de Rita Levi-Montalcini como senadora vitalícia do Senado da República Italiana e do comportamento repulsivo de um outro senador, pertencente a um minúsculo partido de extrema-direita de recente formação (“La Destra”), contra esta grande Senhora. E não me canso de repetir esta expressão: Grande Senhora, referida a Rita Levi-Montalcini.
Foi nomeada senadora vitalícia – justa e meritoriamente nomeada - pelo Presidente da República, Carlo Azeglio Ciampi, em 2001.
Este novo governo de centro-esquerda – “L’Unione” - tem uma maioria de apenas um ou dois votos, no Senado. Os votos de alguns senadores vitalícios, frequentemente, reforçam essa estreitíssima maioria. Ora, Rita Levi-Montalcini nunca deixou de, com o seu voto, apoiar “L’Unione”.
A oposição - cujo único fim é derrubar o governo e não controlar a sua correcta actuação - quando este passa indemne com os votos de senadores vitalícios, dá lugar a cenas comparáveis às das piores tabernas.
O argumento a que recorrem é que o voto dos senadores vitalícios é imoral, porque não foram eleitos. Assim, “Imoral” – termo tão estúpido quanto revelador de má-fé - são os que votam este governo que, segundo a sua lógica, lhe “roubou” o poder. Bela concepção de alternância democrática!...
Certamente que L’Unione – coligação de governo formada por nove partidos – não raramente merece severas críticas pelo protagonismo doentio e um irritante corporativismo de alguns componentes.
Mas confesso, e desapaixonadamente, que nunca vi uma oposição tão incivilizada, e direi mesmo ordinária, como a actual.
Mas vamos ao caso: triste e indecente.
O vilão da cena (e não metaforicamente), o senador Francesco Storace, decidiu enviar a Rita Levi-Montalcini (98 anos) umas muletas. Alguns jovens militantes, sequazes de Storace, tentaram a entrega a domicílio.
Se o governo não cai, porque senadores vitalícios o votam, portanto resiste com estas “muletas”, insulta-se Rita Levi-Montalcini – “culpada de ser democrática, antifascista e judia” - com uma iniciativa digna do personagem que a lançou.
Wikipedia, em italiano, dá um retrato fiel deste indivíduo.
O Presidente da República Italiana, numa cerimónia onde estava presente a senadora vitalícia, entre várias frases de enaltecimento, afirmou: “Faltar ao respeito, importunar, tentar intimidar a senadora Rita Levi-Montalcini, que é motivo de honra para a Itália, é indigno”.
Não se fez esperar a arrogância de Storace… A propósito, estou a recordar-me, neste momento, do famigerado “Secretário Nacional do Partido Fascista” (1933/ 1939): Achille Starace. Devemos convir que estes dois parónimos foram mesmo predestinados!...
Ia a dizer, então, que não se fez esperar a reacção arrogante e grosseira de Storace (este tem só um a), insultando o Presidente sem o mínimo respeito, nem responsabilidade nos comentários proferidos.
Os seus simpatizantes, quer em entrevistas, quer online, demonstraram a mesma grosseria, chegando a apreciações próximas do anti-semitismo. Storace, então, aludiu aos milhões que o Estado deve pagar a Rita Levi-Montalcini. A quais milhões se refere, gostaria eu de saber!
Que género de políticos miserável!
Rita Levi-Montalcini respondeu a todo este lixo com uma carta, publicada na primeira página do jornal La Repubblica, em 10/10/2007:
Caro Director
Li, em La Repubblica de ontem, que Storace desejaria entregar-me, levando-as directamente a casa, um par de muletas. A este respeito, desejaria expor algumas considerações.
Eu, abaixo assinada, em pleno poder das minhas faculdades mentais e físicas, continuo a minha actividade científica e social, completamente indiferente aos ataques ignóbeis que me dirigem alguns sectores do Parlamento Italiano.
Na qualidade de senadora vitalícia e em base ao artigo 59 da Constituição Italiana, cumprirei as minhas funções de voto até que o Parlamento não aponha relativas modificações. Portanto, exerço tal direito segundo a minha inteira consciência e coerência.
Dirijo-me a quem tem a ideia de entregar-me as muletas, a fim de amparar a minha “deambulação”, assim como a do actual Governo, para informar que de tal coisa não existe nenhuma necessidade. Além disso, quero que fique bem esclarecido que não possuo “os milhões”, visto que sempre destinei os meus modestos recursos a favor, não somente das pessoas necessitadas, mas também para apoiar causas sociais de importância prioritária.
A quantos demonstraram não possuir as minhas mesmas “faculdades”, mentais e de comportamento, exprimo o mais profundo desdém, não pelos ataques pessoais, mas porque as suas manifestações reconduzem a sistemas totalitários de triste memória.
*****
Concebendo um parlamento, na vida democrática de um país, como uma instituição dotada de grandeza e profundo significado, fico literalmente furibunda quando o vejo ocupado por pessoas indignas de serem classificadas como senadores ou deputados.
Mas, desgraçadamente, há quem as proponha e quem as vote, e isto também é democracia. Aguentemos, portanto, os cretinos eleitos; mas não é justo.
Alda M. Maia
2 Comments:
A questão básica é - parece que em todas as democracias - que os eleitores, na sua maioria, votam por sugestão e não por convicção.
E enquanto assim for, a ignorância, mais fácil e ao alcance das maiorias, vence e os vencedores ficam todos convencidos!
Dilema da Democracia, que não há maneira de ultrapassar!
Um grande abraço
Alda
E já reparou que quanto maior é a ignorância mais gordos se tornam os demagogos vendedores de milagres? A desgraça toda é que acreditam neles!
Muito prazer em vê-lo por estas bandas.
Continuo a dizer-lhe que o Município de Leiria deve conceder-lhe uma medalha. O motivo? Aqui vai: o cidadão que melhor dá a conhecer as terras leirienses.
Um abraço a toda a Família
Alda
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