terça-feira, abril 05, 2016

COMUNICAÇÃO SOCIAL INDIGESTA

Há dias, no quotidiano Público, li com redobrada atenção o editorial “A comunicação social, ela que…” de Fernando d’Oliveira Neves, Embaixador reformado. Veio ao encontro do que eu pensava há longo tempo. Digo também que é um editorial cuja leitura é recomendável.

Diz o Senhor Embaixador reformado: “Uma comunicação social que em geral peca por transmitir maioritariamente uma provinciana ideia deprimente de um Portugal decadente, desordenado, inapto, reles, em constante declínio…”
A auto-estima, nos portugueses, é moeda rara. Dir-se-ia que se crê elegante depreciar o que concerne o país natal. E com qual presunção asseveram que “lá fora”, sim, tudo é superior.
Está-se “lá fora” e verifica-se o quanto esta abençoada terra “à beira-mar plantada” vale e quantas potencialidades estes pedantes críticos não sabem descobrir, fazer emergir, ampliar e contribuir para o progresso do seu país.
  
O autor do artigo não omite o que se passa na TV, “Com telejornais longuíssimos assentes em notícias deletérias onde se insiste na mesma notícia mais de meia hora…”
Deletérias ou não deletérias, por vezes são de uma banalidade exasperante que até um normal tablóide evitaria conceder-lhe grande espaço. Mas nos noticiários televisivos insiste-se no acontecimento, e que jamais falte o testemunho dos populares que assistiram ao caso - aqui, o vocábulo “populares”, se me permitem esta aposição, funciona como substantivo, muito popular nos autóctones da “língua padrão”.
Os minutos decorrem lentíssimos, repisando a mesma notícia; o interesse pela informação dissipa-se.

A propósito, se acontecesse algo na zona de elite em Cascais, ou qualquer outra localidade idêntica, referindo-se aos presentes, os nossos pivôs ou correspondentes televisivos continuariam a usar o termo populares (gente do povo, obviamente) ou, pelo contrário, citá-los-iam como “as pessoas, os senhores/senhoras” que presenciaram o evento? Teríamos de registar um hábito que propende para a diferenciação de classes? Evito pensar nisso.

Outro aspecto que me irrita nos telejornais, sobretudo nas horas de ponta, é o valor e amplitude dedicados ao majestoso futebol.  
Frequentemente, abre as notícias, pois entendem que é tema de primária importância para os cidadãos portugueses. Para todos os portugueses? Mentalidades estreitas, quem concebe tal princípio.
A esfera futebolística é interessante, indubitavelmente, mas reservem-na para as páginas desportivas e dêem primazia às comunicações que informam e educam a sociedade portuguesa: jovem e menos jovem.
Quem não é informado é um perene habitante do mundo da ignorância, e a isto se deve o atraso de um país.

Por último, e sempre no âmbito informativo, sente-se que a equidistância é qualidade ausente de quem deveria cultivá-la com persistência e intransigência. Nota-se esta falha, grave, na comunicação televisiva, a única e predilecta da maior parte dos telespectadores; inadmissível, portanto, em profissionais da comunicação. Aliás, o Senhor ex-Embaixador Oliveira Neves vergasta, sem eufemismos, este aspecto do assunto.

Acrescento que, mesmo em artigos de opinião expressos por personagens com uma certa espessura intelectual ou profissional, entendo que a objectividade é sempre um factor de enriquecimento para quem lê. O contrário conduz a distorções da realidade, e não formam nem informam ninguém.