COMUNICAÇÃO SOCIAL INDIGESTA
Há dias, no
quotidiano Público, li com redobrada atenção o editorial “A comunicação social, ela que…”
de Fernando d’Oliveira Neves, Embaixador reformado. Veio ao encontro do que
eu pensava há longo tempo. Digo também que é um editorial cuja leitura é
recomendável.
Diz o Senhor
Embaixador reformado: “Uma comunicação
social que em geral peca por transmitir maioritariamente uma provinciana ideia
deprimente de um Portugal decadente, desordenado, inapto, reles, em constante
declínio…”
A auto-estima, nos
portugueses, é moeda rara. Dir-se-ia que se crê elegante depreciar o que
concerne o país natal. E com qual presunção asseveram que “lá fora”, sim, tudo
é superior.
Está-se “lá fora” e
verifica-se o quanto esta abençoada terra “à beira-mar plantada” vale e quantas
potencialidades estes pedantes críticos não sabem descobrir, fazer emergir,
ampliar e contribuir para o progresso do seu país.
O autor do artigo não
omite o que se passa na TV, “Com
telejornais longuíssimos assentes em notícias deletérias onde se insiste na
mesma notícia mais de meia hora…”
Deletérias ou não
deletérias, por vezes são de uma banalidade exasperante que até um normal
tablóide evitaria conceder-lhe grande espaço. Mas nos noticiários televisivos insiste-se
no acontecimento, e que jamais falte o testemunho dos populares que assistiram ao caso - aqui, o vocábulo “populares”, se me permitem esta aposição, funciona como substantivo, muito
popular nos autóctones da “língua padrão”.
Os minutos decorrem
lentíssimos, repisando a mesma notícia; o interesse pela informação dissipa-se.
A propósito, se
acontecesse algo na zona de elite em Cascais, ou qualquer outra localidade
idêntica, referindo-se aos presentes, os nossos pivôs ou correspondentes televisivos
continuariam a usar o termo populares (gente
do povo, obviamente) ou, pelo contrário, citá-los-iam como “as pessoas, os
senhores/senhoras” que presenciaram o evento? Teríamos de registar um hábito
que propende para a diferenciação de classes? Evito pensar nisso.
Outro aspecto que me
irrita nos telejornais, sobretudo nas horas de ponta, é o valor e amplitude
dedicados ao majestoso futebol.
Frequentemente, abre
as notícias, pois entendem que é tema de primária importância para os cidadãos
portugueses. Para todos os portugueses? Mentalidades estreitas, quem concebe
tal princípio.
A esfera
futebolística é interessante, indubitavelmente, mas reservem-na para as páginas
desportivas e dêem primazia às comunicações que informam e educam a sociedade
portuguesa: jovem e menos jovem.
Quem não é informado
é um perene habitante do mundo da ignorância, e a isto se deve o atraso de um
país.
Por último, e sempre
no âmbito informativo, sente-se que a equidistância é qualidade ausente de quem
deveria cultivá-la com persistência e intransigência. Nota-se esta falha,
grave, na comunicação televisiva, a única e predilecta da maior parte dos
telespectadores; inadmissível, portanto, em profissionais da comunicação.
Aliás, o Senhor ex-Embaixador Oliveira Neves vergasta, sem eufemismos, este
aspecto do assunto.
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