ÉTICA, ONDE ESTÁS?
Tornou-se numa
raridade? Ou, esquecida, a ética sentou-se na cátedra que lhe pertence, a
cátedra das consciências e comportamentos límpidos, olhando o mundo com
circunspecção, mas sempre pronta a conduzir quem dela não quer e não pode separar-se?
Neste caso, então, mudemos de título: Consciências e comportamentos límpidos,
onde estais?
Pergunta muito
oportuna e, nos tempos que correm, não é necessário procurar respostas: estas
impõem-se. Que o diga a Ex.ma Senhora Maria Luís Albuquerque, ex-secretária de
Estado do Tesouro e das Finanças, ex-ministra das Finanças; hoje, membro da
Assembleia da República e, paralelamente, administradora não executiva da Arrow
Global, a empresa que se ocupa de questões financeiras, especialista em créditos
malparados, tutelada, até há cerca de três meses, pela Ex.ma Maria Luís
Albuquerque, quando ministra das Finanças.
Portugal, segundo
rezam as crónicas, constitui um terreno bastante fértil para a actividade da Arrow
Global. Aliás, adquiriu duas empresas portuguesas, Whitestar e Gesphone, e
sente-se como o peixe na água.
“Enquanto deputada do Parlamento português que teve cargos de topo nas
Finanças e no tesouro do sector público português, Maria Luís vai trazer-nos
uma riqueza de experiência na gestão de dívida e vai complementar a actual
experiência da administração e a expansão da Arrow Global para novos mercados
geográficos e para novas classes de activos”. – Assim se exprime Jonathan
Bloomer, presidente do conselho de administração da Arrow Global.
A partir das
primeiras dez palavras desta explicitação do Sr. Bloomer, as deduções
amplificam-se e não creio que entrem no campo da benevolência.
Mas, como atrás
refiro, este assunto, em todos os seus referentes, tem sido abundantemente esclarecido
e bem dissecado pelos órgãos de informação. Ainda bem! Oxalá que a comunidade
portuguesa dê a máxima atenção a este e outros eventos similares. É a
indiferença ou o encolher de ombros que encorajam a desprezo da decência; neste
caso, tal desprezo concretiza-se claramente.
Além das prováveis
incompatibilidades ou até mesmo conflito de interesses, o que mais atraiu a
minha atenção, e me indignou, foi a naturalidade como uma pessoa com a cultura
e preparação académica de Maria Luís Albuquerque, demonstra um alheamento total
da ética.
Se ao menos tivesse a
decência de demitir-se do seu lugar
de deputada da Assembleia da República!
Mas viva o prestígio
do cargo de administradora não executiva da Arrow Global e consequente valor
económico. Obviamente, será acumulativo com outras remunerações da função
pública; o resto é bugigangaria.
Todos clamam pelo famigerado
“período de nojo”. Efectivamente, torna-se urgentíssimo legislar sobre esse
tema, estabelecendo uma boa margem de anos. Se assim não for, quem sofre e sofrerá de
um grande período de nojo, de asco, é a sociedade civil portuguesa.
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