NO ACENTO CIRCUNFLEXO
NÃO SE TOCA!
#JeSuisCirconflexe:
eis o mote de revolta dos franceses que não aceitam a revisão ortográfica da
língua francesa, aprovada em 1990.
Sempre aconselhada, mas não obrigatória e jamais
posta em prática, há alguns dias, do Ministério da Educação, informaram que, a
partir do próximo ano lectivo, entrará em vigor a nova ortografia.
Inevitavelmente
surgiram polémicas, desacordos e protestos. Não é necessário alongarmo-nos
sobre estas reacções, pois, em Portugal, conhecemo-las de sobejo. Aliás, parece
que, linguisticamente, este 1990 francês foi contagioso, embora de forma diversa nas
intenções e aplicações.
Ce document (les règles de la
nouvelle orthographe) vous présentes de façon synthétique, les rectifications
orthographiques (« nouvelle orthographe ») proposées par les
instances francophone compétentes, parmi lesquelles l’Académie française. L’emploi de la “nouvelle orthographe”
n’est pas imposé, mais il est recommandé. – (www.orthographe-recommandee.info)
Traduzamos: “Este
documento (as regras da nova ortografia) apresenta-vos, de forma sintética, as
rectificações ortográficas (“nova ortografia”) propostas pelas instâncias francófonas competentes,
entre as quais a Academia francesa. O
uso da “nova ortografia” não é imposto, mas sim recomendado”.
Sublinhei o último
período, no qual se explica que não se impõe a aplicação das novas regras, mas
aconselha-se.
Não deixei de também
sublinhar que tais rectificações ortográficas foram propostas por “instâncias
francófonas competentes”.
Rectificaram onde a
grafia seria simplificada e que já o era pelo uso comum. Todavia, houve a preocupação
de salvaguardar o étimo das palavras.
E agora viremo-nos
para o lado de cá. Os nossos lusófonos, que deveriam ser competentes e atentos
à riqueza dos étimos que caracterizam o português de Portugal e dos PALOP, não rectificaram absolutamente nada, pois
nada havia que rectificar: pura e simplesmente, mutilaram e abastardaram a língua;
não há argumentos que me convençam do contrário. Agiram por servilismo e
questões económicas. A ignorância do âmago da língua materna, na classe
política, fez o resto.
Muito interessante a
peça do jurista Artur Magalhães Mateus, no jornal Público de 18/01/2016: “O Acordo
Ortográfico” de 1990 e as Presidenciais”.
O artigo “Visa responder à necessidade de registar e
divulgar as posições dos Candidatos à Presidência da República”.
Entre os que são a
favor está o Presidente eleito, O Dr. Rebelo de Sousa.
Já conhecia este seu amor ao AO90. Reconhece-lhe virtuosidades e que as alterações à língua portuguesa não são substanciais. (?!) Mas, entretanto, acrescenta:
Já conhecia este seu amor ao AO90. Reconhece-lhe virtuosidades e que as alterações à língua portuguesa não são substanciais. (?!) Mas, entretanto, acrescenta:
“O Brasil hoje é a maior potência
económica e o maior país lusófono. Para Portugal conseguir lutar pela lusofonia
no mundo tem de lutar para dar a supremacia ao Brasil”.
Excelentíssimo Sr.
Presidente Eleito, eu espero que tão bizarra opinião, como presidente da
República Portuguesa, a arrede, imprescindivelmente, da sua plataforma de
acção. Melhor, faça-a esvair, totalmente, do seu pensamento.
Estimamos o Brasil,
desejamos que, como país emergente, a sua economia progrida e se desenvolva,
mas não é permitido ultrajar o património linguístico que nos caracteriza, um
património de todos os portugueses - desde o mais informado ao menos favorecido
no campo da instrução - pensando em abdicar da nossa dignidade aplaudindo
unificações utópicas, absurdas e degradantes.
Não seria inútil
esfolhar uma gramática, reler as características das variações linguísticas: a
variação diatópica ou geolinguística, pensando na variedade de português do
Brasil a nível semântico, sintáctico, fonológico, etc., é bem esclarecedora.
O Brasil,
multiétnico, tem a sua variedade de português que deve ser respeitada na mesma
medida em que é respeitado o português que herdámos e falamos, jamais
esquecendo as raízes greco-latinas donde provém.
Por último, Portugal
não necessita de lutar pela lusofonia, a fim de dar a supremacia a quem quer
que seja. Esta concepção é um ultraje ao país que nos viu nascer.
Exijamos, isso sim, um profundo conhecimento
da própria língua. Paralelamente, acarinhemos o português europeu que se fala
nos Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa.
Lusofonia, em teu nome,
quantos abusos e iniciativas que te descaracterizam!
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