ESTA NÃO É A EUROPA
QUE SONHAVA
Primeiro, o culto
integralista do equilíbrio dos Orçamentos de Estado e a consequente hegemonia
autoritária de quem entende que pode ditar ordens aos Estados economicamente
débeis.
Em seguida, o
espectáculo de Estados-membros que atropelam as leis fundamentais de uma
democracia real, factor imprescindível dentro da União, e as entidades
competentes, que deveriam levantar a voz e agir de consequência, balbuciam – temos, como exemplo, o que se passa na Polónia e Hungria.
Até quando?
Por fim, toleram-se
autênticos e vergonhosos paraísos fiscais dentro desta nossa respeitável União
Europeia.
Poderia fazer um
resumo do artigo que foi publicado a este respeito e com o qual me senti mais bem
informada, mas prefiro dar a palavra ao autor.
Fica-se boquiaberto ante tanta incorrecção e arrogância! Este
artigo, esclarecedor, vale e compensa bem o tempo de leitura.
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“A Holanda predica
austeridade,
mas é o maior paraíso
fiscal do mundo”
“Oitenta das 100
maiores empresas mundiais têm aqui uma sociedade que nada mais é do que uma
caixa postal.
Bermudas? Jamaica?
Ou, então, as ilhas inglesas da Mancha, Jersey ou Guernsey? Absolutamente não.
Mais perto e mais cómodo: basta chegar a Amesterdão.”
“A Holanda, o país frequentemente mais duro do que a Alemanha em
predicar austeridade e disciplina de orçamento e censurar o laxismo dos países
mediterrânicos, é o maior paraíso fiscal
do mundo.
Desde o primeiro de
Janeiro do corrente ano, assumiu a Presidência de turno da União Europeia. As
palavras do seu Governo têm, por este motivo, um peso ainda maior.
Todavia, a próxima
vez que o seu ministro das Finanças, Jeroen
Dijsselbloem, como sempre faz, repreende Tsipras e o governo grego, porque
hesitam a reformar o próprio sistema fiscal, alguém deveria recordar-lhe que a
companhia mineraria canadiana, Gold Eldorado, não paga impostos na Grécia,
graças á cobertura fiscal holandesa.
Ou então, quando de
Haia vinham acusações aos bancos cipriotas por reciclagem de fundos russos,
alguém deveria fazer-lhes notar que, nesse mesmo período, na Ucrânia, gabinetes de trabalho holandeses tinham, na Embaixada nacional, seminários apropriados sobre a
arte de escapar aos impostos, refugiando-se na Holanda.”
“Aliás, a questão, em
linhas gerais, é já nota. A Comissão Europeia acaba de definir ilegais os
descontos fiscais que o governo de Haia concedeu a Starbucks. O próprio Parlamento
holandês pediu ao governo para empenhar-se, a fim de evitar que o país seja
definido um paraíso fiscal. Porém, as dimensões do fenómeno são irrefreáveis.
Fazem empalidecer, não somente o Luxemburgo de Juncker, mas também Bermudas e
Jersey, os paraísos fiscais por definição.”
“As cifras são agora narradas
pelo economista holandês, David
Hollanders, no site socialeurope.eu.
Em Amesterdão, como
exemplo, os Rolling Stones e os U2 têm “escritórios”, mas, exactamente
como eles, cerca de 12 mil sociedades têm caixa postal por um contravalor de 4
mil milhões de euros. Nenhum outro país no mundo tem um valor societário assim
tão alto, referido a puros e simples endereços postais. De resto, entre aquelas
12 mil, há o Gotha das finanças globais: oitenta das maiores empresas mundiais
e quase metade das 500 companhias da classificação Fortune.”
“Quem se admirou por
que razão a Fiat, na sua nova encarnação FCA, pôs o quartel geral em Londres,
mas a sede social em Amesterdão, agora fica a saber o porquê.”
“A ideia genial,
todavia, diz respeito aos royalties, o mecanismo que cria
riqueza, especialmente para os gigantes de Big
Tech, os quais encaixam, por este modo, sobre a utilização dos seus software e das suas plataformas.
Mas os royalties, em geral, concernem o pagamento de todos os direitos pela exploração de uma
marca ou de um format produtivo ou comercial (os cafés Starbucks, por exemplo).
O ponto-chave é que,
na Holanda, os royalties não são tributados. Portanto, as sociedades como
Google, na Itália ou na Alemanha, pagam royalties propositadamente exagerados à
própria “controladora” holandesa, obtendo, assim, o resultado para baixar os
lucros orçamentais e os relativos impostos sobre a facturação realizada na
Itália e na Alemanha.”
“Os royalties,
depois, quando tornam às caixas da sociedade-madre (citemos a Google na
Califórnia), não podem ser colectadas, porque já pagaram, formalmente, os
impostos na Holanda, mesmo que a alíquota tenha sido zero.
Cresce a vontade de
perguntarmo-nos o que diria Jeroen Dijsselbloem se Tsipras sugerisse de aplicar
o mesmo esquema, na reforma fiscal grega.
De
Maurizio Ricci; La Repubblica - 09 / 01 / 2016
(Os sublinhados são
meus)
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Quantas sedes de empresas
portuguesas preferiram ou gostariam de ter morada em Amesterdão?
Nas instâncias
competentes da UE, sempre que o nosso país for admoestado por razões
deficitárias ou orçamentais, quando teremos a notícia que os nossos
representantes, com boas maneiras, requererão limpeza absoluta da sujeira que
reina na casa de quem, arrogantemente, ministra lições?
Teremos gente com
essa coragem, mas coragem bem equipada de saberes e conhecimentos?
Por agora ponho
esperanças no actual refilãozinho Primeiro-ministro italiano. Já desferiu algumas
estocadas.
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