SUBMETIDOS ÀS AGÊNCIAS
INFORMADOS COM ANGLICISMOS
INFORMADOS COM ANGLICISMOS
A maioria dos
leitores das páginas económicas ou de análises de carácter financeiro, nos vários
quotidianos, frequentemente não compreende siglas e expressões técnicas que
sempre se apresentam escritas em inglês. Logo, imperam os bail in, bail out, stress teste, default, eurobonds, etc., etc..
Por vezes, há o
cuidado de, entre parênteses, os explicar. Porém, por que não encontrar uma tradução fiel, dentro do contexto, com palavras, locuções, expressões da própria língua, de
maneira que todos compreendamos, imediata e claramente, quais os fenómenos financeiros e
económicos que envolvem os nossos países? Mas não somente o país, pois é mais
que necessária uma clara informação sobre actividades bancárias.
Esta sujeição às
expressões inglesas é generalizado e expandiu-se pelas demais línguas. Mas usemos
o neologismo de moda: tornou-se viral.
A “Accademia della
Crusca” (A Academia do Farelo), “o centro mais importante de investigação
científica dedicado ao estudo e promoção da língua italiana, reprovou estes
termos técnicos e aconselhou os operadores financeiros e jornalistas a usar
locuções italianas”.
Dada a importância
desta academia, creio que os interessados seguirão o conselho.
O valor da “Accademia
della Crusca” é de grande importância para o idioma italiano. Foi fundada no
século XVI por um grupo de amigos que pensaram atribuir ao termo farelo
(tradução de Crusca) um novo significado. A Academia, simbolicamente,
dedicava-se a separar a flor de farinha (a boa língua) do farelo, “segundo o modelo de língua que previa o
primado do vulgar florentino, modelado sobre os autores do séc. XIII”.
A história da "Crusca" (forma como frequentemente é citada) é muito, mas muito interessante e que adiarei para um outro
poste. Entretanto, mudemos
de assunto.
Há normas da União
Europeia que eu não compreendo e tenho dificuldade em aceitar. Uma das mais
estúpidas é a condição que obriga o Banco Central Europeu depender dos votos de
fiabilidade das agências de notação financeira como garantia para comprar títulos de dívida
pública dos Estados-membros, no mercado secundário.
Portugal, neste
momento difícil, com uma dívida pública muito elevada, olha com ansiedade para
a agência canadiana DBRS, qual entidade assertiva da classificação de fiabilidade da sua dívida pública. Como Estado-membro, não bastam os exames a
que são submetidos, pela Comissão Europeia e quejandos, o Orçamento de Estado, o défice e a dívida soberana?
É admissível que os
níveis de risco das dívidas de um Estado soberano estejam à mercê das agências
de rating, como se se tratasse de uma qualquer entidade privada, mesmo importante, e não envolvesse o presente
e o futuro da totalidade dos cidadãos desse Estado e o poder legal e administrativo que dele emana?
Dentro das
instituições financeiras e económicas da União, não haverá departamentos com
alta competitividade técnica para avaliações dos riscos de crédito similares às
das agências e fornecer uma análise neutra e de carácter oficial?
Acaso algumas
agências têm demonstrado, sempre, equidistância entre a avaliação de risco financeiro de certas empresas e os respectivos votos emitidos? Os factos
provaram que essa equidistância nem sempre existe, pois houve falências onde a
notação mais alta, “triplo A”, tinha sido generosamente atribuída.
Sobre este
tema, tinha anotado as respectivas críticas e comentários sobre as falências de
Enron, Worldcom, Lehman Brothers. Mas quantas outras haverá idênticas, mas que não provocaram o mesmo
estrondo?
Posto isto, não será
discutível ver as dividas de um Estados soberano submetidas a avaliações de
risco pelas famosas agências? Creio que também este facto tem sido posto em
causa pelos estudiosos da matéria.
Porém, urbi et orbi a finança comanda em regime totalitário e a classe política obedece.
Estou plenamente de acordo com a Sra. Teresa de Sousa, jornalista, quando escreve sobre a subida das taxas de juro: "Do lixo financeiro ao lixo político" - Público, 14/02/2016.
"Desculpem, portanto, a insistência, mas o meu medo é que, do "lixo financeiro" a que as agências nos condenaram, passemos rapidamente ao "lixo político, esse sim com um alto risco de rebentar de vez com a Europa".
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