IGNORÂNCIA, SUPERFICIALIDADE,
INTERESSES COMERCIAIS.
SEJA MUITO BEM-VINDO
O REFERENDO
Os interesses
comerciais são manifestos. A ignorância e superficialidade foram demonstradas
sem tantos ambages. Mas ignorância e superficialidade de quem e sobre o quê?
No jornal Público de
29 e 30 de Julho da semana passada, foram publicados dois artigos de dois
juristas, Ivo Manuel Barroso e Artur
Magalhães Mateus, com o título: “As posições dos partidos políticos sobre o
Acordo Ortográfico de 1990”.
Descrevem a posição
de cada facção partidária e todas brilharam por uma ampla aceitação desse
acordo, sem que as opiniões negativas de especialistas da matéria, de
profissionais de altos estudos fossem tidas em consideração.
E foi aqui que também
brilharam, com excepcional fulgor, a ignorância, a superficialidade e politiquices
dos nossos representantes na Assembleia da República. Leiamos com atenção o
arrazoado destes senhores.
O artigo atrás citado
transcreve o que exprimiu o porta-voz parlamentar do PS, Carlos Enes, no plenário da AR de 28/02/2014: “O Acordo de 1990 foi… herdeiro do espírito humanista, iluminista e
republicano que visava uma simplificação da escrita com vista a combater o
analfabetismo.
Em primeiro lugar,
surge uma pergunta rudimentar: por que razão não se aperceberam que esse
herdeiro de espíritos tão elevados desvia a nossa língua das suas raízes clássicas,
desclassificando-a perante as línguas românicas co-irmãs?
Tem alguma noção do
que foi o Renascimento, logo, o Iluminismo e Humanismo?
Acha então que estes
espíritos, o Humanista e o do “século das luzes”, o Iluminismo, serviram para
tão pouco, tal como simplificar a escrita, “com vista a combater o
analfabetismo”?
Para tão modestos
resultados - ademais, plenos de incongruências - foi necessário subir a tão
altos progenitores? As luzes do Iluminismo, então, foram muito opacas!...
Não diga asneiras,
Sr. Deputado. Ensinei tantas crianças e alguns adultos a escrever com a
ortografia equilibrada de 1945 – ortografia bem fundamentada por linguistas
altamente competentes – e, nos alunos, nunca houve dificuldades na assimilação de
uma escritura correcta.
Os alunos actuais são
menos inteligentes e menos preparados no que concerne a nossa língua, este
português de Portugal e dos PALOP? Não creio.
Aliás, mais
favorecidos na era actual, quando os meios de informação são em maior número e
mais desenvolvidos. Arranje outros argumentos, Sr. Deputado Carlos Enes. Menos
ridículos, mas, sobretudo, menos falsos como este:
“(…) este … é um Acordo que não fere a dignidade
de Portugal, é um Acordo político que visa uma projecção mundial da língua
portuguesa como um meio de comunicação entre os povos sem que nenhum deles
perca a sua especificidade linguística e a sua identidade” - Acrescente-se
que o PSD e CDS afinam pelo mesmo diapasão.
O acordo fere a dignidade de Portugal, fere a especificidade da nossa língua
materna, fere a identidade de língua
românica da qual somos filhos de há oito séculos.
Recorde-se que os
países africanos de língua portuguesa falam o português europeu. Recorde-se que
a política portuguesa, neste assunto, foi simplesmente indecente, quando não
atribuiu aos PALOP a mesma importância que atribuiu ao Brasil.
Recorde-se que o
Brasil tem um português que deriva das suas múltiplas etnias e que são normais
certas diferenças sintácticas, semânticas e fonológicas.
Portugal não necessita
de acordos deste jaez para “sair do aconchego do seu cantinho”, como alguém
escreveu. Este “cantinho” tem e sempre teve um grande oceano à sua frente. Não
só deu “novos mundos ao mundo”, como espalhou uma língua por vários continentes.
Que esta língua se adapte ao meio onde cresce, é fenómeno corrente.
Senhoras e Senhores
superficiais, ignorantes ou “comerciantes de palavras”, insisto: encontrai
outros argumentos menos irreais e inconsistentes. E estudai melhor o que
verdadeiramente é a vossa/nossa língua, como nasceu e como evoluiu.
Figuras do nosso
mundo intelectual e político patrocinaram um referendo contra o famigerado
AO90. Farei de tudo para recolher o maior número de assinaturas.
E SEJA MUITO BEM-VINDO
ESTE REFERENDO.
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