ALEMANHA, “INSTITUIÇÃO”
DA UE
O ACTIVISMO DA
SENHORA MERKEL
“Onde existe uma crise, está Angela Merkel. Que se trate da Ucrânia ou
da Grécia, ela é o interlocutor que representa a Europa. Os outros
protagonistas – desde o pacato François Hollande aos vários comissários
europeus, Federica Mogherini ou Pierre Moscovici – são apenas comparsas que
servem para salvar a ficção de uma política estrangeira que seja vagamente
europeia e não somente uma projecção da política alemã” – Stefano Feltri - Il Fatto Quotidiano,
13/02/2015.
O que escreve este
editorialista italiano é exactamente aquilo que eu penso sobre a preponderância
da Alemanha em todas as contingências da União e a tácita subalternidade dos
demais países-membros.
O mais interessante,
sobre esta matéria, é a naturalidade como os enviados das diversas redes
televisivas noticiam esta aquiescência: a Alemanha decide e impõe; os outros
países entendem que assim deve ser e condescendem. Que não se espere outras
reacções, visto que tudo isto é normal.
Normal? E por qual
razão? Porque se fez passar a opinião que é a Alemanha o único país a sustentar
os fundos de estabilidade, quando bem sabemos que todos os Estados-membros,
obviamente, são contribuintes segundo o poder económico de cada um?
Porque é
economicamente superior? Esta superioridade provém de melhor organização ou
também porque é muito favorecida pelos juros a custo zero, mercê de uma
austeridade que afunda outros países, enriquecendo a Alemanha?
Onde se refugiaram os
ingentes capitais que a austeridade, fria e implacavelmente imposta pela
Alemanha e países nórdicos, fez desviar dos países em crise?
Por que razão se fez
crer, aos contribuintes alemães, que os países do Sul da Europa vivem à custa
deles? Não é esta uma semântica grosseira para descrever a crise dos países com
problemas económicos?
É desolador observar
a mediocridade política que reina dentro de tantos Estados-membros da União
Europeia. Não se entrevê um único estadista europeu que se imponha pela sua
competência e agudeza política. Se assim não fosse, verificar-se-ia maior
coesão e disposição para resolver a crise europeia com outros sistemas mais
humanos e menos escravos dos poderes económicos e financeiros. Paralelamente,
atenuar-se-ia, até ao ponto justo, a hegemonia alemã.
Que a Alemanha seja o
país guia, mercê do seu peso económico, aceita-se perfeitamente. Ora, impor
diktats dentro da União, indispõe e cria repulsas, perfeita antítese do que se pretende
seja a União Europeia.
A sempre activa
Angela Merkel – passo a citar - “… enfrenta
todos os dossiês com o mesmo método: estuda.
Parece pouco, mas numa Europa com primeiros-ministros improvisados e
inexperientes, a preparação é uma arma. Nos
Conselhos Europeus, Angela Merkel domina os capítulos dos países sob a Troika
melhor que os Governos locais. Num
vértice recente, pediu notícias ao Primeiro-ministro português, Pedro Passos
Coelho, sobre a nova linha do Metropolitano de Lisboa. Passos Coelho mostrou-se
impreparado”. – Stefano Feltri.
Não conhecia este pormenor
sobre as performances do nosso Primeiro-ministro. Não me surpreendeu. Como
primeira reacção, deu-me vontade de rir, mas imediatamente surgiu a raiva e
desconforto. Com gente deste calibre a representar-nos, como se pode pretender
respeito e apreço pelo nosso Portugal?
No actual panorama
político português, haverá personagens que nos incutam plena confiança no que
concerne seriedade de acção, ética política e indiscutível competência na
gerência da coisa pública? Que perspectivas, neste sentido, vislumbramos para
uma boa escolha nas próximas eleições?
Mereceu elogios, merecidos,
a intervenção da Senhora Merkel, juntamente com François Hollande, a fim de encontrar
uma solução ao grave problema da guerra na Ucrânia e a descarada intervenção russa.
Na Cimeira de Minsk,
portanto, por que motivo altos representantes da União Europeia ficaram na
penumbra, quando significariam um acrescido peso contratual e persuasivo
perante a Rússia?
Numa entrevista do
Corriere Della Sera a Federica Mogherini, Alto Representante da União Europeia
para os Negócios Estrangeiros e Política de Segurança, quando lhe apontam o
quanto a sua ausência em Minsk tivesse sido estigmatizada, esta senhora
responde: “Do meu ponto de vista, o mais
importante não é a foto-opportunity, mas o que conta é o jogo de equipa e a busca
de um resultado, e que se viu”. Uma equipa sem a presença deste Alto Comissário
da política exterior?!
Li com atenção toda a
entrevista e apenas notei argumentos retóricos, genéricos, mas nada que já não
se conhecesse sobre as titubeações da União acerca da política externa e de segurança.
Fala-se da força
diplomática alemã, da capacidade dos seus funcionários, nas instituições
europeias, de infundir pontos de vistas sempre próximos das conveniências alemãs: o que interessa ao bom funcionamento da União Europeia, qual testemunho de
coesão, é de secundária importância.
A confirmação de tudo
isto está à vista de todos.
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