segunda-feira, fevereiro 16, 2015

ALEMANHA, “INSTITUIÇÃO” DA UE
O ACTIVISMO DA SENHORA MERKEL

Onde existe uma crise, está Angela Merkel. Que se trate da Ucrânia ou da Grécia, ela é o interlocutor que representa a Europa. Os outros protagonistas – desde o pacato François Hollande aos vários comissários europeus, Federica Mogherini ou Pierre Moscovici – são apenas comparsas que servem para salvar a ficção de uma política estrangeira que seja vagamente europeia e não somente uma projecção da política alemã” – Stefano Feltri - Il Fatto Quotidiano, 13/02/2015.

O que escreve este editorialista italiano é exactamente aquilo que eu penso sobre a preponderância da Alemanha em todas as contingências da União e a tácita subalternidade dos demais países-membros.
O mais interessante, sobre esta matéria, é a naturalidade como os enviados das diversas redes televisivas noticiam esta aquiescência: a Alemanha decide e impõe; os outros países entendem que assim deve ser e condescendem. Que não se espere outras reacções, visto que tudo isto é normal.

Normal? E por qual razão? Porque se fez passar a opinião que é a Alemanha o único país a sustentar os fundos de estabilidade, quando bem sabemos que todos os Estados-membros, obviamente, são contribuintes segundo o poder económico de cada um?
Porque é economicamente superior? Esta superioridade provém de melhor organização ou também porque é muito favorecida pelos juros a custo zero, mercê de uma austeridade que afunda outros países, enriquecendo a Alemanha?
Onde se refugiaram os ingentes capitais que a austeridade, fria e implacavelmente imposta pela Alemanha e países nórdicos, fez desviar dos países em crise?
Por que razão se fez crer, aos contribuintes alemães, que os países do Sul da Europa vivem à custa deles? Não é esta uma semântica grosseira para descrever a crise dos países com problemas económicos?  

É desolador observar a mediocridade política que reina dentro de tantos Estados-membros da União Europeia. Não se entrevê um único estadista europeu que se imponha pela sua competência e agudeza política. Se assim não fosse, verificar-se-ia maior coesão e disposição para resolver a crise europeia com outros sistemas mais humanos e menos escravos dos poderes económicos e financeiros. Paralelamente, atenuar-se-ia, até ao ponto justo, a hegemonia alemã.
Que a Alemanha seja o país guia, mercê do seu peso económico, aceita-se perfeitamente. Ora, impor diktats dentro da União, indispõe e cria repulsas, perfeita antítese do que se pretende seja a União Europeia.

A sempre activa Angela Merkel – passo a citar - “… enfrenta todos os dossiês com o mesmo método: estuda. Parece pouco, mas numa Europa com primeiros-ministros improvisados e inexperientes, a preparação é uma arma. Nos Conselhos Europeus, Angela Merkel domina os capítulos dos países sob a Troika melhor que os Governos locais. Num vértice recente, pediu notícias ao Primeiro-ministro português, Pedro Passos Coelho, sobre a nova linha do Metropolitano de Lisboa. Passos Coelho mostrou-se impreparado”. – Stefano Feltri.

Não conhecia este pormenor sobre as performances do nosso Primeiro-ministro. Não me surpreendeu. Como primeira reacção, deu-me vontade de rir, mas imediatamente surgiu a raiva e desconforto. Com gente deste calibre a representar-nos, como se pode pretender respeito e apreço pelo nosso Portugal?
No actual panorama político português, haverá personagens que nos incutam plena confiança no que concerne seriedade de acção, ética política e indiscutível competência na gerência da coisa pública? Que perspectivas, neste sentido, vislumbramos para uma boa escolha nas próximas eleições?

Mereceu elogios, merecidos, a intervenção da Senhora Merkel, juntamente com François Hollande, a fim de encontrar uma solução ao grave problema da guerra na Ucrânia e a descarada intervenção russa.
Na Cimeira de Minsk, portanto, por que motivo altos representantes da União Europeia ficaram na penumbra, quando significariam um acrescido peso contratual e persuasivo perante a Rússia?

Numa entrevista do Corriere Della Sera a Federica Mogherini, Alto Representante da União Europeia para os Negócios Estrangeiros e Política de Segurança, quando lhe apontam o quanto a sua ausência em Minsk tivesse sido estigmatizada, esta senhora responde: “Do meu ponto de vista, o mais importante não é a foto-opportunity, mas o que conta é o jogo de equipa e a busca de um resultado, e que se viu”. Uma equipa sem a presença deste Alto Comissário da política exterior?!
Li com atenção toda a entrevista e apenas notei argumentos retóricos, genéricos, mas nada que já não se conhecesse sobre as titubeações da União acerca da política externa e de segurança.

Fala-se da força diplomática alemã, da capacidade dos seus funcionários, nas instituições europeias, de infundir pontos de vistas sempre próximos das conveniências alemãs: o que interessa ao bom funcionamento da União Europeia, qual testemunho de coesão, é de secundária importância.
A confirmação de tudo isto está à vista de todos.