A ELEIÇÃO DE UM
PRESIDENTE DA REPÚBLICA
Eleger, isto é,
escolher através de um voto é o prosseguimento de uma prévia selecção de
candidatos que se presume reúnam uma indiscutível idoneidade moral e a
necessária competência para o cargo em causa.
Muito frequentemente,
todavia, nessa selecção são apresentadas personagens muito populares, mas mais
de aparências que possuidoras de sólidas qualidades. Haja bom senso, portanto,
e muita ponderação, a fim de que o voto seja destinado a um óptimo e justo
candidato.
Sábado passado foi
eleito o 12.º Presidente da República italiana. Houve quatro escrutínios. Visto
que os franco-atiradores costumam ser a praga habitual em tais eleições, a maioria de Governo decidiu o voto em branco nos primeiros três escrutínios;
no quarto, votar-se-ia o candidato escolhido, indicado nos últimos instantes:
Sérgio Matarella.
Os elogios à táctica
política do Primeiro-ministro, Mattia Renzi, são unânimes. Conseguiu vencer
resistências dentro do próprio partido, desaparelhou as estratégias de
Berlusconi, escolheu uma excelente figura política como candidato e à qual
ninguém poderia opor qualquer tipo de objecções. Acertou. O quarto escrutínio
deu uma ampla vitória a Sérgio Matarella.
É sobre este
candidato, hoje presidente eleito, que desejo concentrar a minha atenção.
Segui com interesse
todos os percursos e ziguezagues dos diversos partidos e seus representantes.
Os programas televisivos superabundaram em debates, opiniões e alvitres sobre
os vários nomes propostos ou prováveis e, como é normal, tinha as minhas
simpatias.
Quando se falou em
Sérgio Matarella, aguardei. Conhecia o nome, sabia que era um juiz do Tribunal
Constitucional, ocupara várias vezes o cargo de ministro, tivera um irmão - presidente
da região Sicília - que fora assassinado pela máfia em 1980, e pouco mais.
Quando a sua eleição
se apresentou como quase certa, as informações e descrições de Sérgio Matarella
foram exaustivas. Assim, avultou a figura moral, ética, política e intelectual do
que seria, e é, o novo Presidente da República.
No que descrevem,
sobre a sua personalidade, o seu passado, não existem contradições nem senãos:
pessoa muito reservada, honestidade rigorosa, competência institucional – “um cavalheiro das instituições”, assim o
classificaram – esquivo, “evita as telecâmaras,
fala em voz baixa e cultiva as virtudes da pacatez, do equilíbrio e da
prudência”
Resumindo: um
perfeito cavalheiro sobre qualquer aspecto seja avaliado.
Após conhecer todos
estes dados e ter observado a forma simples como o novo presidente se apresentou,
fiquei encantada e muito satisfeita por os 665 grandes eleitores que o votaram terem
dado um exemplo de seriedade e perfeita cognição das qualidades de quem deverá
ocupar o mais alto cargo do Estado, logo, a importância das competências
e honorabilidade de um presidente da República.
Como sempre, não
posso deixar de estabelecer confrontos com o nosso país. A um ano de distância,
mais ou menos, também em Portugal se efectuará a eleição do Presidente da
República. Já se fala de candidatos. Deprimente! E nada mais quero acrescentar.
O Sr. Berlusconi e
companheiros decidiram votar em branco - não todos, pois alguns traíram o
partido e votaram o candidato eleito – visto que Matarella não entrava nas
simpatias de Berlusconi. Tem motivos.
Anos atrás, Sérgio Matarella
demitiu-se de ministro da Educação por discordar de uma medida do respectivo
Governo que garantia o monopólio das frequências televisivas do império
Berlusconi.
Ademais, Matarella, com
toda a naturalidade, nunca poupou críticas ao Berlusconi político, pois soube
compreender quais interesses se escondiam atrás das actividades políticas daquele
indivíduo.
Em 1998, aquando do
ingresso de Força Itália (partido de Berlusconi) no Partido Popular Europeu,
eis a opinião de Matarella: “Parece-me um
pesadelo irracional. …Berlusconi
pense na história: quando os Hunos e os Vândalos invadiram o império romano,
que não era a casa deles, experimentaram ser romanos, mas sendo bárbaros, não
conseguiram”.
Berlusconi
autoproclamou-se herdeiro político de Alcide De Gasperi. Comentário de
Matarella: “De Gasperi pertence a todos aqueles
que tomam muito a peito a democracia. Isto não significa que quem quer que seja
se possa intitular um seu sequaz ou herdeiro”.
Termino com uma frase
que exprime bem o equilíbrio de Matarella.
“Nas instituições, um partido,
um político deve sentir-se como um hóspede, mesmo se protagonista”.
Seria muito oportuno
que este pensamento fosse insuflado na inteligência e insistentemente inculcado
na memória de quem nos governa. Refiro-me ao actual Governo português,
obviamente.
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