SOMOS TODOS EUROPEUS
Parafraseando Barack
Obama, surgiu-me a tentação de também acentuar esta identidade que nos acomuna:
somos todos europeus. Todos! E todos, sem excepções, contribuíram para que esta
Europa se tivesse distinguido como berço da civilização que se expandiu pelos
demais continentes; não é retórica, mas realidade. Houve um período no século
XX, todavia, em que um destes países europeus caiu na barbárie mais atroz. Mas,
repito, foi um período desencadeado por um louco. Houve o bom senso,
posteriormente, de perdoar a dívida material pelos desastres causados.
E como somos todos
europeus, como todos temos igual dignidade, sobretudo no que diz respeito à
própria soberania de países independentes, espera-se que a czarina Merkel, o
seu ministro das Finanças, Wolfgang Schauble, e o insuportável e enfatuado presidente
do banco central alemão, Jens Weidmann, desçam do pedestal da arrogância no
qual se alcandoraram, deixem de dar lições a quem as não solicita e
comportem-se como personalidades às quais se exige diplomacia e respeito. Tudo
se pode dizer e por justificados motivos, mas insisto: com diplomacia e
respeito.
A minha antipatia
cresce sempre que vejo estes personagens a pôr entraves às iniciativas
anticrise do Presidente do Banco Central Europeu, ministrando avisos e
insistindo no rigor dos “trabalhos de casa” (que expressão estúpida!) dos
países que crêem economicamente inferiores, ignorando os péssimos resultados a
que conduziu esta doutrina. Cegos pela arrogância ou com visão de horizontes
estreitos?
Mas deixemos estas
divagações e voltemos à frase exacta que desviou os meus pensamentos: “Somos
todos americanos”. Parabéns, Sr. Presidente Obama. Não desista e continue por
este caminho.
Aplaudi este
entendimento com Raul Castro, esta quebra de hostilidades entre os Estados
Unidos e Cuba.
Restabelecer-se-ão
relações diplomáticas, desaparecerá o bloqueio económico, o gigante americano e
a maior ilha dos Caraíbas renovarão um bom entendimento social, diplomático,
enfim, de bons vizinhos. Acabaram-se os contenciosos. Oxalá!
Obviamente, tudo isto
é o que se espera, embora “não possa ser feito da noite para dia”, como bem
prognosticou Obama. Alguns primeiros e bons resultados, porém, são já
evidentes.
Em primeiro lugar, gostei
das reacções de alegria dos cubanos, muito acentuadas na população mais jovem.
Por aqui se vê a sensação de gueto em que viviam, e ainda vivem, e a esperança
que se lhes apresentou como futuro resgate deste isolamento a que foram
constrangidos durante cinquenta e três anos. “Uma prisão ao ar livre”, além do um
embargo comercial, económico e financeiro que lhes subtrai todas as condições
para uma vida de qualidade normal.
Houve exclamações de
“finalmente livres”. Houve danças. “Somos todos americanos” já se tornou canção
para animar o bailado.
“O sonho de Cuba é
também a Internet para todos” – título de um serviço jornalístico (de Daniele
Mastrogiacomo - La República, 21/12/2014) muito elucidativo.
“Hoje,
navegar nas redes da Ilha, é árduo. Não somente porque o Governo de Raul Castro
abre e fecha as torneiras dos contactos conforme as circunstâncias. É um
problema de proibições e infra-estruturas… Internet é cara e não está ao
alcance das pessoas… Se pensarmos que, em média, se ganha mensalmente a mesma
cifra, 18 euros, é impensável, para um cubano, deitar fora o salário inteiro
para uma pequena viagem no WEB.”
Comentário de um grupo
de jovens à porta de uma universidade: “Quando
se abrirem as fronteiras, abrir-se-á também a Internet e tudo será mais fácil”
Quanto à reacção
negativa de muitos membros do Congresso, quer republicanos, quer democratas,
não surpreende. Usam argumentos muito próprios de quem não é capaz de alargar
horizontes, acreditando na imutabilidade de um statu quo perene: eles são os maus, nós os bons, mantenhamos as
sanções; serão abolidas se mudarem de regime e os Castros desaparecerem da
circulação.
Muito mais assisada a
política de Obama: estendamos a mão, conversemos; o tempo encarregar-se-á de
operar as mudanças que o povo cubano espera obter em prosperidade e direitos
humanos, e que o “socialismo o muerte”
passe a expressão folclorística.
Relativamente à
comunidade cubana nos Estados Unidos que também discorda da abertura a Cuba,
talvez seja compreensível. É difícil esquecer as agruras de quem teve de fugir
de uma ditadura que nada concedia à liberdade e dignidade de cidadãos sem
direitos.
E para finalizar,
achei divertido que, para já, os Estados Unidos podem importar de Cuba 100
dólares de produtos de tabaco e álcool. O problema é que uma caixa de charutos Havana
custa mais de 100 dólares. Têm de se contentar com uns charutos avulsos, caso
não funcione o contrabando.
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