MULTICULTURALISMO, EM
QUE VERSÃO?
O multiculturalismo não
se consubstancia apenas na mera “coexistência de várias culturas diferentes num
mesmo país”, mas também numa “política que tende a tutelar a identidade
cultural dos vários grupos étnicos de um Estado”. Todavia, em que termos e
condições, no que concerne a relação de igualdade, integridade e fraternidade
dessas identidades?
No rescaldo da
tragédia parisiense e as relativas consequências tumultuosas que se
desencadearam, e persistem, em vários continentes, este tema tem-se-me
apresentado com insistência, sobretudo no que concerne a sociedade onde
vivemos.
Muito se tem escrito
sobre o multiculturalismo, mas por vezes não se acentua que este pressupõe,
acima de tudo, a relação que deve existir entre culturas diferentes. A tutela
da identidade cultural impõe-se, mas dentro de certas identidades nem tudo deve
ser integrado como normal, quando estas albergam aspectos que têm em menor
conta a dignidade humana, o que uma sociedade democrática não pode aceitar.
Certamente que me
refiro a toda e qualquer democracia que determina a preponderância da
Declaração Universal dos Direitos do Homem.
Artigo
n.º 1: “Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos.
Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em
espírito de fraternidade”.
Multiculturalismo,
diversidade, integração. Infelizmente, existem certas culturas que,
inter-relacionando-se com culturas diferentes, dentro do mesmo país, acarretam
incompreensões e intolerâncias – aquilo a que poderíamos chamar “choques
civilizacionais”. Sendo assim, torna-se forçoso reflectir, sem preconceitos sobre os direitos das diversidades, no que
consiste um Estado de direito, o que este estabelece e impõe.
Culturas com
tradições, costumes, religiões diversas constituem, justamente, uma mais-valia
de qualquer país. No entanto, a integração dessas entidades culturais jamais
deve ignorar ou ferir as leis que regem esse Estado de direito, onde a
dignidade humana não pode nem deve ser espezinhada, seja por tradições
ancestrais, seja por preceitos religiosos fundamentalistas.
Em suma, pretende-se,
simplesmente, colocar o respeito pelas leis democraticamente estabelecidas
acima de quaisquer outras considerações de carácter cultural que as possam
violar e desvirtuar.
Penso que seja este o
multiculturalismo que as sociedades europeias, aliás, todas as sociedades
democráticas, devem desejar e impor. Não podemos abastardar uma democracia,
onde os direitos humanos são institucionais, em nome de um multiculturalismo
que envolva ignorância ou menosprezo desses direitos.
Também devemos
combater todos e quaisquer preconceitos que estão sempre prontos a apontar o
dedo ao diferente, sobretudo quando algo de anormal sucede. Desgraçadamente, é
o que se tem observado nestas últimas semanas.
Primeiro, generalizar
é sempre errado; segundo, saibamos distinguir a maioria correcta e digna de
respeito das minorias criminosas. Não queiramos assemelhar-nos àquelas
sociedades onde imperam Estados teocráticos ditatoriais ou classes políticas
que manipulam as populações.
1 Comments:
Sempre lúcida Alda. Não dá mesmo para aceitar que o multiculturalismo abrigue agressões às sociedades/culturas democráticas que construímos. Ele é um património sempre e quando participe da troca pacífica de idéias e costumes.
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