segunda-feira, dezembro 01, 2014

ANTES, ERA A INTERNACIONAL VERMELHA;
HOJE, A INTERNACIONAL NEGRA

Decididamente, o mundo anda mesmo às avessas. Tomar conhecimento das manobras da política russa em relação aos partidos da extrema-direita europeus e da atenção reservada pelo Senhor Putin aos grupos reaccionários ocidentais, não sabemos se nisso encontrar motivos de comicidade se razões para um forte alarme.

Marine Le Pen obteve para o seu partido, Frente Nacional, o financiamento de 9 milhões de euros do banco russo, First Czech Russian Bank - mas há quem afirme que a soma seja mais elevada –, qual gentileza russa pelas boas relações com este partido de extrema-direita, inimigo jurado da União Europeia: qualidade muito apreciada por Vladimir Putin.

No Congresso de “Frente Nacional” em Lyon, dias 29 e 30 de Novembro, um jornalista italiano que seguia o evento, entre um ar divertido e espantado, acentuou a originalidade do que se presenciava nesse congresso: comunistas a aplaudir fascistas e vice-versa.

Paralelamente, o mesmo jornalista tinha dificuldade a conter o riso, quando repetia as palavras de encómio de Marine Le Pen a Matteo Salvini, líder da Liga Norte e seu fiel aliado: “Matteo Salvini tem uma energia transbordante e também eu, por vezes, fico em êxtase perante a força da sua capacidade de convencer e a bravura no trabalho”.
Face a este êxtase de Marine Le Pen, a chuva de ironias foi inevitável.

Parece que também houve gargalhada geral na sala do Congresso, quando o russo A. K. Isaev, vice-presidente da Duma (câmara baixa), iniciou o discurso com a expressão: “Caros camaradas”.
Para ex-anticomunistas ferrenhos (ou anticomunistas encobertos?), souberam encarar a situação com sentido do humor. Para mim, todavia, a comicidade reina nestas tácticas despudoradas de uma política rasteira, quer de Putin, quer dos extremistas da direita.

Falemos então de Matteo Salvini, Secretário da Liga Norte, partido italiano xenófobo, antieuropeu, antieuro e, praticamente, contra tudo o que entre em conflito com a sua retórica fascistóide.
Tornou-se num entusiasta da Federação Russa e da sua política; outro “sincero” amigo que espera ajuda financeira do grande benfeitor do Kremlin. Mas o Senhor Salvini declara: “Até hoje não chegou nem um rublo nem um euro. O nosso apoio à Rússia é totalmente desinteressado”. E quem acredita nisso? Difícil.

Salvini visitou a Crimeia, a Rússia e, durante essas visitas, não poupou elogios a Putin, desempenhando o encargo de “porta-voz dos adversários das sanções.  Efectivamente, um grande número de pequenos empresários e comerciantes do Norte da Itália foram muito prejudicados pelas sanções impostas à Federação Russa. O Secretário da Liga Norte soube colher a oportunidade para captar estes votos e, mais uma vez, desencadear a sua aversão à Europa e à moeda única.

Seguindo a estratégia da URSS, o Kremlin de Putin procura infiltrar-se em todos os movimentos ou partidos que criem problemas aos países onde operam. “O canal bancário resta, em teoria, a estrada mais simples e transparente. A «moral suasion» do Kremlin, no sector, é altíssima”.
“Desde a Liga Norte, Front National a outros partidos e movimentos que aparentam formar uma verdadeira «Internacional Negra», há austríacos, holandeses, os alemães do AfD, Tea Party, UKIP de Nigel Farage, os anti-semitas húngaros, os neonazis de Alba Dourada. Uma mistura letal que mira a fazer explodir internamente a União Europeia” – La Repubblica de 25/11/2014.

Concluo que a União Europeia deve estar muito atenta e ponderar bem as suas políticas, pois que o panorama que se apresenta não é tranquilizador. Porém… a União Europeia tem alguma política? Ou a única preocupação e actividade das instituições da União são de carácter económico e, portanto, impor orçamentos de acordo com os cânones “austeritários”?