segunda-feira, setembro 09, 2013

O PIOR CRIME CONTRA A HUMANIDADE
NÃO O BANALIZEMOS

Quarta-feira passada, dia 4 de Setembro, o jornal Público publicou um artigo da historiadora M. Fátima Bonifácio: “A insuportável arrogância da esquerda”.

Partindo do que a Historiadora considera uma “olímpica indiferença ou um aberto desprezo” que as esquerdas manifestaram, aquando da morte do economista António Borges (em contraste com a “comoção homérica” reservada a Miguel Portas), Fátima Bonifácio não reconhece quaisquer especificidades na “esquerda”.

O seu artigo, onde desenvolve críticas acérrimas ao comunismo, de caminho também condena socialistas e afins.
Muito estranho, quando afirma que “a esquerda socialista e não alinhada não renega as suas remotas origens, como um filho não renega um pai alcoólico ou ladrão; e, mais decisivo, partilha com os comunistas, embora mais discretamente, a aversão pela Liberdade, tal como os Liberais a entendem, e abominam o regime capitalista em que ela nasceu, germinou e se expandiu”.

Em que mundo vive Fátima Bonifácio ou para onde costuma dirigir a sua atenção? Devota daquele neoliberalismo, hoje em voga, sem alma e com o coração centrado, dir-se-ia exclusivamente, no capitalismo financeiro?
A que Liberdade - entendida pelos Liberais - se refere?

Quando penso nos socialistas, vejo, acima de tudo, a social-democracia que reagiu contra os regimes colectivistas e de terror, qual eram leninistas, estalinistas e quejandos, e pôs em movimento o que deve ser o Estado social, dentro de uma economia de mercado. Pode negar esta realidade? Pode também negar a defesa da verdadeira Liberdade em que sistematicamente se empenharam?

No dia seguinte, sempre no Público, Francisco Assis, na sua nota final, respondeu adequadamente às generalizações da ilustre Historiadora.

Mas o principal motivo por que escrevo sobre o artigo de Fátima Bonifácio situa-se na banalização como associa os crimes do regime soviético ao holocausto.

Aludiu aos múltiplos crimes cometidos na União Soviética e demais países seguidores do chamado “socialismo real”, embuste ideológico das ditaduras comunistas que, em nome da ideologia marxista – assim o faziam crer – aplicaram os piores métodos na eliminação de pessoas e classes incómodas ou de situações contrárias às imposições e conveniências dos déspotas que se iam sucedendo.

Lendo com atenção o seu artigo, é inevitável a ligação com as teses da extensa obra de vários autores, editada na década de 1990, mas bastante controversa: “O Livro Negro do Comunismo” – a edição que possuo, em versão italiana, é de 1998.

É uma análise profunda de toda a gama de atrocidades comunistas, porém, chega-se à conclusão que se pretendeu diminuir o holocausto em relação à profundidade dos crimes comunistas. Daí provieram as grandes controvérsias que essa teoria provocou e com as quais concordo plenamente.

A essência dos crimes nazis assume um aspecto medonho e incomparável: única, absolutamente única na forma e na aplicação.

Estes crimes foram projectados, estudados cientificamente em nome de uma imaginária pureza da raça. Decretou-se, portanto, que certas categorias de pessoas eram inaceitáveis, segundo os conceitos nazis, logo, não tinham direito á existência e deveriam ser taxativamente eliminadas.

Falando com pessoas que se viram acossadas como animais que devem ser abatidos, o que sempre me escandalizou ou me deixou desorientada é que tudo isto aconteceu ante a indiferença daquela população de “raça superior”, isto é, de outros seres humanos normais. Ou então de italianos fascistas que sabiam o que os ocupantes nazis faziam e lhes davam toda a colaboração.

Se Fátima Bonifácio quer escrever sobre os comunistas, crimes por eles perpetrados e ignorados pelos vários militantes, não faça banais comparações ou, pelo menos, evite pô-los no mesmo plano das infâmias do nazismo. O holocausto é caso único na História. Como historiadora, deveria saber isso.

Ah! Entre a esquerda europeia, tão detestada pela historiadora, não me parece que o PCP fuja da retórica que lhe é inerente. Todavia, esta retórica é apresentada como arrogância pela autora do artigo em questão.
Além do respeito que merece qualquer ideologia dentro de um regime democrático, acaso não lhe recorda “O Último dos Moicanos”?