terça-feira, setembro 03, 2013

SEMPRE E SOMENTE A AMÉRICA?

Penso que as críticas ao Presidente Obama, apresentado como um indeciso, desorientado e prisioneiro da famigerada “linha vermelha” não sejam justas. Vejo-as mais alicerçadas em análises e conclusões de rotina do que num exame objectivo sobre a relutância deste presidente americano em envolver-se em novos conflitos armados. Aliás, sempre demonstrou esta aversão.

Qual a razão, portanto, que se pretenda seja sempre a América a responsabilizar-se, quando as tragédias explodem em qualquer parte do mundo, os direitos humanos são espezinhados e as populações devem ser protegidas?
Há quem lhe chame “A maldição da América”. Será. Frequentemente porque são impelidos a ir em socorro de países aliados; noutras circunstâncias, por decisões de presidentes irresponsáveis e medíocres: sirva de exemplo a estúpida e desastrosa invasão do Iraque, péssima herança de George W. Bush.

Todavia, que fazem os demais países, membros da ONU? Meros espectadores?
Aludo à Organização das Nações Unidas, pois é dali que deveriam partir as iniciativas e o envolvimento de todas aquelas nações de boa vontade – ainda haverá? – que procuram a solução dos conflitos entre as nações e não toleram, e nunca devem tolerar, o uso de armas de destruição maciça, vetadas por 98 a 99% da comunidade internacional.

E chegamos ao facto concreto: na guerra civil da Síria, quem dispersou os gases tóxicos nos arredores de Damasco, bem sabendo que as vítimas contar-se-iam entre a população inocente? Números oficiais referem 1429 pessoas, inclusive 426 crianças. As múltiplas fotografias que testemunham este drama emocionam e assustam!
 
Sobre os autores deste cinismo infinito e que nada, absolutamente nada pode justificar, há lugar para dúvidas, visto que nenhuma das partes em luta merece credibilidade.
Se Bashar al-Assad e o seu entourage se têm demonstrado implacáveis no uso da violência, os opositores não são melhores no que concerne actos de pura e injustificada crueldade. Os documentos comprovativos não escasseiam.
No entanto, tudo aponta para uma iniciativa das forças governativas, embora incompreensível quanto a eficácia e oportunidade. Mas é sempre difícil interpretar acções deste género, quando provém de cultores da violência pela violência.

Insisto: porquê somente a América e o seu Presidente devem dar uma resposta concreta às arbitrariedades de déspotas que ultrajam e esmagam os direitos humanos? Por que razão devem sacrificar os seus soldados e imensos recursos a causas que, afora a defesa de seres inermes que, moralmente, é uma grande satisfação, materialmente em nada compensam estes sacrifícios?
Que ganhou a América com as duas Guerras Mundiais? E depois de uma Europa em ruínas, quem de novo a levantou com o Plano Marshall?
Estas observações são directas aos devotos do antiamericanismo.

Fiquei satisfeita que Obama tivesse entregado ao Congresso a decisão de intervir na Síria. Evitaram-se precipitações, deu-se oportunidade a que iniciativas de carácter político possam criar situações mais racionais e aconselháveis, deu-se tempo a que, na ONU, surjam propostas que ponham termo a massacres contínuos. Como início, há quem sugira uma condenação dura e clara ao regime de Assad, na Assembleia Geral daquele organismo. Imediatamente se veria, nos 22 países da Liga Árabe, por exemplo, quem são os que agem espontaneamente, pondo de lado certas ambiguidades.

Seria também oportuno que se pusesse a nu, condenando-os, os fins inconfessados dos países que financiam as várias facções dos fundamentalistas islâmicos estrangeiras que invadiram a Síria e combatem ao lado da coligação dos opositores de Bashar al Assad, o Exército Livre da Síria.
Sabe-se quem são esses países, mas não são expostos ao desprezo de quem não abdica da tolerância e compreensão entre os povos. Sempre as conveniências económicas, obviamente!...

Quanto à União Europeia, todos aqueles belos princípios de imposição e defesa dos direitos humanos servirão apenas para os discursos das grandes solenidades? Aguardemos. Não fazer nada, neste caso, é inadmissível.

Oxalá que nasça um empenho político amplo e de grande alcance que exclua intervenções armadas e dê aviamento a negociações, sérias e persistentes, que abranjam todos os sujeitos em causa: as partes em conflito e os respectivos apoiantes, como Rússia, China, Irão, Arábia Saudita, Qatar, etc.

Que se evite, acima de tudo, dar azo a uma explosão, alargada e devastadora, naquela região do Médio Oriente que todos indicam como uma intensa polvoreira.