A WEBMENTIRAS
Este título, “Webmantiras”, não me pertence, mas é perfeito para chegar a uma análise sobre o nosso país que me deixou perplexa. Mas expliquemos melhor.
Alastrou na Internet e circula no correio electrónico, à semelhança de uma “cadeia de Santo António”, um artigo sobre Portugal de “Jacques Amaury, sociólogo e filósofo francês, professor na Universidade de Estrasburgo”.
Li esse artigo com atenção. O teor, os temas mencionados e o descrédito que os envolve deixaram-me desconfiada. Como é possível que um filósofo e sociólogo francês se exprima com um estilo tão próximo dos mais refinados populistas nacionais?
Onde está a elegância normal que sempre se espera de uma pessoa de alta intelectualidade, quando esta discorre sobre um outro país? Sim, porque quase tudo se pode dizer, no entanto, é o estilo que caracteriza a delicadeza e profundidade de quem fala ou escreve, embora disserte sobre amargas realidades que se não podem negar.
Mas quem será este Jacques Amaury, professor da Universidade de Estrasburgo? Um desconhecido. Nada se encontra que o possa identificar e localizar.
Onde foi publicada este artigo? Mistério. Apareceu na Internet, provindo não se sabe donde. Porém, com quanto entusiasmo foi difundido e elogiado!
Investigando a personagem e não encontrando quaisquer alusões ao Jacques Amaury em questão, tornam-se divertidos os epítetos usados para realçar a opinião deste egrégio e misterioso professor de Estrasburgo: “o conhecido filósofo”; o ilustre e bem conhecido filósofo francês”.
Moral da história, esta análise sobre Portugal tresanda a cidadão português descontente e irritado com o que se passa no seu país. Escreve bem, certamente, mas repete conceitos já abundantemente expressos por outros comentadores, analistas, opinantes neutrais ou das mais diversas inclinações políticas. Logo, o autor não necessitava de recorrer à astúcia de inventar um filósofo e sociólogo francês para capturar atenções.
Outra moral da mesma história: nem tudo o que encontramos na Internet é fiável. Simultaneamente, a Web também nos fornece meios para detectar e desmascarar apócrifos, mentirosos e quejandos.
Voltando ainda à análise sobre Portugal do Jacques Amaury lusitano. É exagerada? Penso que sim. Não inventa, mas exprime críticas demolidoras que nem sempre são o retrato justo.
Confesso que já me satura tanto derrotismo sobre Portugal. Motivos para nos sentirmos amargurados, decepcionados, irritados não faltam. Mas, antes de quaisquer outras considerações, enderecemos essa irritação contra classes dirigentes arrogantes, autoritárias e talvez incompetentes para enfrentar os graves problemas que, presentemente, nos angustiam.
Legalizámo-las com o nosso voto, confiando-lhes a responsabilidade de bem administrar o país. Jamais, todavia, para impor autoritariamente o que quer que seja e quaisquer que sejam os motivos.
Se medidas drásticas devem ser tomadas, as quais exigirão renúncias e sacrifícios generalizados – insisto: generalizados - que o Governo nunca se canse de as explicar pormenorizadamente e as estribe em razões que todos possam entender e aceitar: letrados e iletrados.
Mas que tais sacrifícios sejam o único caminho, não creio que o possam asserir com honestidade.
Haveria outras vias que atenuariam a dureza dos mesmos, mas altos e influentes interesses privados se interpõem e tornam-nas intransitáveis. Ou então, o que também é possível, falta de capacidade para enfrentar os problemas com acuidade, equidade e amplas visões.
Para concluir, sacudamos esta mórbida apatia que nos paralisa e saibamos, civilizadamente, remar contra a corrente do conformismo. Este apenas tem servido para encorajar certas aberrações. Cito apenas uma: a permanência, no Governo, de Miguel Relvas.
Acho intolerável que uma personagem tão desacreditada continue a tratar de assuntos delicados e discutíveis como, por exemplo, a concessão a privados – chamemos-lhe concessão!... - da RTV portuguesa.
E mais não digo. Aguardemos o que o futuro nos destina. Mas, entretanto, que Deus encoraje tantos cérebros excelentes e com forte preparação que existem nesta Terra Lusa e os leve e interessar-se mais activamente pelo país onde nasceram. Despertem e actuem!
5 Comments:
O tipo até podia ser analfabeto!
Não é a criticar o autor que se tira a verdade ao que ele diz. Ele veio resumir o que eu tenho visto acontecer desde que o Mário Soares vendeu o cu de Portugal À CEE.
Alguém que desminta isto por exemplo:
Foi o país onde mais a CE investiu "per capita" e o que menos proveito
retirou. Não se actualizou, não melhorou as classes laborais, regrediu na
qualidade da educação, vendeu ou privatizou mesmo actividades
primordiais e património que poderiam hoje ser um sustentáculo.
Os dinheiros foram encaminhados para auto-estradas, estádios de
futebol, constituição de centenas de instituições público-privadas,
fundações e institutos, de duvidosa utilidade, auxílios financeiros a
empresas que os reverteram em seu exclusivo benefício, pagamento a
agricultores para deixarem os campos e aos pescadores para venderem
as embarcações, apoios estrategicamente endereçados a elementos ou a
próximos deles, nos principais partidos, elevados vencimentos nas classes
superiores da administração pública, o tácito desinteresse da Justiça,
frente à corrupção galopante e um desinteresse quase total das Finanças no
que respeita à cobrança na riqueza, na Banca, na especulação, nos grandes
negócios, desenvolvendo, em contrário, uma atenção especialmente
persecutória junto dos pequenos comerciantes e população mais pobre.
Este comentário foi removido pelo autor.
Quando li esse email também pensei que isto parece mais vir de um português a desabafar porque já está pelas pontas dos cabelos com a política portuguesa do que qualquer filosofo francês. E vem com teorias de conspiração, que os media, TV, etc., blá blá blá... só falta dizer que é tudo culpa dos judeus. Professor filosofo sociologo francês! HAAAAAAA!! Então fui guglar “Jacques Amaury” e, como de esperar, a não ser páginas do Facebook nada se encontra sobre este senhor professor e o melhor que encontrei sobre o assunto foi um blogue (!!) que diz o que eu suspeitava mas de uma maneira melhor. Obrigado Alda Maia.
RuyDeus - Se Portugal não tivesse aderido á CEE estaria muito pior.
Suspeitei do mesmo e pesquisei. Vim dar ao seu blogue e afinal pensou o mesmo que eu. Não é que os portugueses afinal não são assim tão burros como nos querem fazer crer!? Ora toma! Só um reparo: percebi o seu argumento, mas caíu no mesmo erro do criticado ao dizer exactamente o mesmo que ele disse. Claro que é verdade. Ninguém lhe tira a razão, nem a si nem a ele!
Penso que este artigo é da autoria do Batista da Silva que aqui se apresnta com outro heterónimo.
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