GRANDE MÁRIO!
O título deveria ser no plural, quer no adjectivo quer no nome. O primeiro pensamento, todavia, fugiu para Mário Monti e condicionou esse título, embora Mário Draghi e M. Balotelli mereçam destaque.
Falemos então deste primeiro-ministro técnico, mas que eu vejo como um excelente político. Ademais, reforçado por um prestígio que assenta, sobretudo, em competência, seriedade e, acrescentemos, um sentido do humor que me diverte.
A partir do momento em que assumiu a responsabilidade do Governo italiano, respirei de alívio e satisfação, pois doía-me o desprestígio e descrédito da Itália que Berlusconi e acólitos espalhavam com uma irresponsabilidade ostensiva. Virou-se página: espero definitivamente.
Enquanto ouvia as boas notícias sobre a acção de Monti em Bruxelas, não pude evitar de formular conjecturas: e se Berlusconi não tivesse sido forçado pela crise a demitir-se e fosse, agora, o número um da delegação italiana?
Inevitavelmente, representaria um país que ajudara a conduzir até às bordas do precipício; inevitavelmente, desprovido de idoneidade moral e política, seria tratado sem qualquer consideração nem credibilidade. Em conclusão, um desastre para toda a Europa.
Aliás, a perspectiva de ver Berlusconi de novo em cena aterrorizou os dirigentes europeus. Não era para menos!
Creio seja errado dizer que Mário Monti se limitou a bater o punho na mesa no Conselho Europeu.
Sempre diplomático com a Senhora Merkel, nunca desistiu de dizer certas verdades e, com respeito e teimosamente, convencê-la a abrir-se sobre outros horizontes que não fossem interesses eleitorais ou interesses mesquinhos do mundo empresarial e bancário alemães.
Antes do Conselho da Europa, portanto, foi incansável a organizar e participar em encontros com a Chanceler alemã, Hollande e o Primeiro-ministro espanhol, Mariano Rajoy. Chegado a Bruxelas, ia decidido a não entrar no sólito minuete que sempre baldara as inconcludentes cimeiras anteriores e lutou pelo que mais o preocupava: o escudo anti-spread, “medidas imediatas para os mercados”. Se assim não fosse, usaria o poder de veto nos demais temas em discussão. Em poucos segundos, Rajoy tomou a mesma atitude; Hollande apoiou-os.
Aí, sim, demonstrou tenacidade e determinação contra o persistente não de Alemanha, Finlândia e Holanda, os meninos do “triplo A” bem instalados nos financiamentos a baixo custo.
Nas múltiplas análises sobre os resultados do vértice de Bruxelas, amplamente ilustrados, a maior parte são positivas. Não falta, porém, quem os diminua e lhes aponte defeitos, esquecendo o quão tudo isto é complicado e que, como início de uma nova era política, onde não comanda apenas o mais forte, marcou-se um precedente encorajador.
Em tal precedente, um dos mais importantes foi a quebra de um muro (mais um que caiu) construído com o NÃO a quaisquer ideias ou sugestões que aviassem a resolução da crise do euro, das dívidas soberanas, da União Europeia. Um Não como punição para quem não foi virtuoso.
Os famosos deveres de casa – que não desaprovo, quando executados com racionalidade - devem ser feitos custem o que custar. Se as taxas de juro sobem até às estrelas para quem já não tem papel para esses deveres e agoniza, isso não importa ao Não sistemático e míope.
Era um muro que irritava e indignava, pois apenas retratava uma intransigência devastadora e sem horizontes que dessem esperança.
Ninguém discorda do rigor e equilíbrio nos orçamentos e de futuras medidas que evitem a grave situação a que chegámos. Acho-as imprescindíveis. Mas já não sei compreender atitudes de superioridade de quem quer que seja.
Martin Wolf, ilustre editorialista do Financial Times, a uma pergunta sobre Angela Merkel, respondeu: “Promovê-la-ia como líder da Alemanha e reprová-la-ia como líder da Europa”.
È fácil chegar a essa conclusão. Eu reprová-la-ia também como líder do próprio país. Não está à altura dos autênticos estadistas que foram e são os seus predecessores, além de dar uma imagem negativa da Alemanha, o que lamento.
Logo, a desgraça dentro da desgraça da crise do euro foi a Alemanha ter de a enfrentar com um líder inegavelmente medíocre. Ao menos se esta senhora Merkel tivesse o bom gosto de trocar impressões com Helmut Kohl!
Por fim, começa a desagradar-me o clima antialemão que alastra, no nosso e noutros países. Podemos criticar asperamente a política e atitudes do governo germano, as tendências conservadoras, altamente reprováveis na sua concepção de capitalismo sem alma, que o sustentam. As generalizações, todavia, são sempre erradas.
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