segunda-feira, abril 16, 2012

"UM GOVERNO PEDAGÓGICO"

Imaginemos que, no trecho abaixo traduzido, tudo quanto foi escrito por Piero Ottone, em relação à qualidade da política italiana, se poderia aplicar à situação portuguesa. Não seriam necessários grandes esforços de imaginação: quantas similitudes! Quanta homogeneidade na escassez de sensibilidade política e quão decepcionante é o nosso “padrão de classe dirigente”!

Seguindo a governança do executivo português e ressalvando poucos ministros, é desolante o diletantismo do Primeiro-Ministro que, em simbiose com a hiperactividade de Miguel Relvas, tende a resvalar para decisões autoritárias, envoltas em retóricas vazias.
Mas vejamos as reflexões do excelente jornalista Piero Ottone no seu artigo de 10 de Abril (jornal La Repubblica) com o título: “O Líder Pedagogo”. Permitir-me-ei intercalar algumas observações.

Num país como o nosso, rico de história e cheio de gente com qualidades, desde empresários e professores; inovadores e estudiosos; operários e artesãos, falta, como é notório, uma classe dirigente, isto é, uma categoria de pessoas capazes de tomar as sortes da nação nas próprias mãos e de guiá-la.”
E desde que Mário Monti e os seus colegas estão no Governo, perguntámo-nos, cheios de esperança: são eles um bom padrão de classe dirigente? Demonstram eles que uma classe dirigente potencial existe nos bastidores italianos e que basta descobri-la, como fez Giorgio Napolitano em Novembro passado, confiando-lhe os destinos da nação? Também isto perguntámos, mas a resposta, infelizmente, é negativa.”

De igual modo, seria negativa em Portugal. Uma potencial classe dirigente existiria, mas é marginalizada ou mantém-se fora da esfera política. Além disso, na Presidência da República falta-nos um Giorgio Napolitano!... Prossigamos.

Tínhamo-lo compreendido, mercê de tantos sinais, um após outro.
A frase de Monti, pronunciada durante o percurso da última viagem no Oriente, foi a prova definitiva: «Se o país não está preparado, poderemos abandonar»…
Esta frase indica a verdadeira natureza do nosso Governo: uma natureza pedagógica, não política.
Natureza pedagógica: de pessoas que, segundo as circunstâncias, sabem ou crêem, em boa-fé, de saber quais são os nossos problemas e como devem ser resolvidos; quais as medidas adequadas e quais as soluções. Mas oportunamente, o director de La Repubblica escreveu: «Atenção, não estamos numa escola».

A este respeito, a preocupação do executivo português consiste, quase infantilmente, em obedecer e obter aprovação, com palmadinhas nas costas, da Troika e de Ângela Merkel. Iniciativas corajosas, construtivas e impulsionadores não lhe ocorrem; é óbvio que essa “natureza pedagógica” não bafejou as pessoas que o compõem. Mas continuemos.

Uma classe dirigente é, na sociedade, uma categoria diversa: uma categoria de pessoas dotadas, mais que de conhecimentos, de sensibilidade política. Aptos a individuar, sempre que necessário, não somente os problemas correntes, mas de incutir a vontade de resolvê-los. Capaz de dar a certeza que conhece o caminho certo e que sabe fazer-se seguir. O líder não é um pedagogo que ensina. É um chefe que conduz. (O sublinhado é meu).

Agradeçamos a nossa sorte, porque existe um Monti, existe uma Fornero (ministra do Trabalho) capazes de compreender qual é a via justa para resolver os problemas nacionais. No fim de contas, compreenderam-no até hoje. Podem ter cometido erros, mas não é este o problema. No seu conjunto, adquiriram méritos, restabeleceram a confiança internacional no nosso país.
São pessoas sérias e competentes: agradeçamos a Deus a sua existência. Todavia, não são dotados da qualidade essencial numa classe dirigente: o carisma. E então? Continuemos e esperar: talvez um dia ou outro, uma classe dirigente surgirá.”

E eu alimento a mesma esperança para a nação portuguesa.