E UM MÁRIO MONTES LUSITANO?
A revista “Time” pergunta se este homem (Mario Monti) pode salvar a Europa (Can this man save Europe?).
Tarefa imane para um único dirigente europeu. Comecemos, todavia, pelos resultados apreciáveis, se não excelentes, da sua acção de governo de uma Itália que afundava, das medidas estruturais, corajosas, que vai efectuando e que o partidarismo sempre protelara.
Paralelamente e mercê da sua estatura de perfeito homem de Estado, impôs a dignidade e importância do seu país na UE e no mundo. As consequências foram imediatas: França e Alemanha moderaram autoritarismos e decisões isoladas, no que concerne os problemas europeus, e concluíram que, de futuro, o primeiro-ministro italiano é o novo e ilustre protagonista com quem devem acertar o passo.
Na quarta-feira passada, Mario Monti proferiu uma alocução no Parlamento Europeu: convite excepcional para o primeiro-ministro de um país que não exercia a presidência de turno da União. Os aplausos foram espontâneos, calorosos e unânimes.
Com o seu proverbial tom pacato, quase monocórdico, disse claramente o que pensava sobre o que até essa data fora feito para suster a crise europeia. Respigo algumas partes.
[…] Estamos, gradualmente, a tirar o nosso país da zona de sombra na qual foi colocado como fonte ou centro de contágio da crise.
[…] Frequentemente, vi governos que se improvisavam acusadores da UE, depois de ter participado nas decisões. Prometi a mim mesmo nunca entrar nesse jogo.
[…] A crise da zona euro fez nascer excessivos ressentimentos, renascer estereótipos e divisões entre países centrais e periféricos.
Na Europa, não existem bons e maus; todos nos devemos sentir co-responsáveis das coisas feitas no passado e, sobretudo, na construção do futuro.
Recordou que foram precisamente dois países centrais, Alemanha e França, que, em 2003, deram origem à superação das regras de estabilidade, “com a cumplicidade da Itália que presidia o ECOFIN”.
[…] Naquela vez, preferiram fazer pressão para quebrar, segundo as próprias conveniências, as regras de respeito pelas contas. A vulnerabilidade, portanto, proveio exactamente daquela parte central da Europa que tinha estabelecido as regras de orçamento.
Mais claro do que isto!...
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Agradar-me-ia e aplaudiria incondicionadamente um primeiro-ministro que se inspirasse neste estadista: competente, atento e resoluto no empenho, tremendo e difícil, de solucionar os problemas que afligem o país, sem cair, todavia, na deselegância de continuamente apontar culpas às administrações precedentes.
Um primeiro-ministro caracterizado por uma forte personalidade e prestígio, o que sempre impõe respeito na governação do país e nos vértices internacionais.
Dotado da capacidade de escolher bons colaboradores. Por exemplo, um Ministro-adjunto ou Ministro dos assuntos parlamentares que se impusesse pela sobriedade das palavras, mas cujo conteúdo inspirasse confiança e demonstrasse indefectível seriedade e competência naquilo para que foi chamado; paralelamente, evitasse de falar do que não diz respeito à especificidade do seu encargo. Ministros verborreicos e omnipresentes são insuportáveis: o faz-tudo é o típico afilhado da ambição e ganância e um previsível inimigo da eficiência.
Precavido contra a voracidade de certos políticos, no que concerne os cargos públicos bem remunerados ou de influência, e disposto a cortar na despesa pública todos os ramos secos, inúteis ou fonte de interesses corporativos.
Provido daquela grande qualidade que é a coerência e, por arrastamento, a persistência nas batalhas a que se votou, sem vacilações nem sinuosidades, excepto quando estas são necessárias para atingir, nos pontos fulcrais, uma concórdia para o bem comum.
A qualificar ainda estes atributos, jamais deixar-se arrastar pela soberba, derivada da importância do cargo, e nunca esquecer o respeito que deve aos cidadãos e do dever de informar, conscienciosa e objectivamente, sobre todas e quaisquer medidas necessárias, a fim de superar a crise e, simultaneamente, aviar o crescimento económico.
Parece que ambiciono para a Terra Lusa o que a realidade não pode conceder. Porém, com muitas dúvidas, muitas perplexidades e uma certa angústia pelo que advirá de negativo, pois há tantos profetas da desgraça a apontar-nos o dedo… enfim, cultivemos a fé e esperança.
Que mais poderemos fazer? Pelo menos, procurar sair do nosso vício habitual de conformismo, passividade, acomodamento e reagir, reagir, sempre reagir no melhor sentido construtivo. Seremos capazes?
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