segunda-feira, janeiro 16, 2012

QUE MAIS DEVEMOS ESPERAR?

“Mal comum, meio gáudio”, um provérbio italiano que me veio à memória sexta-feira passada, perante a avançada de Standard & Poor’s contra nove países desta nossa Europa, insistindo em alvejar Portugal: que falta de originalidade!
Porém, imediatamente adveio a estupefacção. Não consigo entender a tácita submissão dos Estados – logo, da política – aos juízos classificativos das três famosas Agências, quando estas deram provas suficientes de pouca seriedade e quando são apontadas, por um grande número de economistas, como as principais responsáveis da crise global.

É-me difícil compreender a paralisia reactiva da UE, a falta de iniciativas enérgicas e bem estruturadas contra estes ataques à zona euro.
Se mais dúvidas houvesse, Standard & Poor’s encarregou-se, com uma tempestividade suspeita, de comprovar que os défices públicos e dívidas soberanas não consubstanciam o verdadeiro alvo, mas sim o espaço da moeda única que não convém aos abutres de Wall Street e da City de Londres.

Ensaiaram as primeiras arremetidas contra a Grécia e, infelizmente, este país ofereceu bons motivos.
A cegueira, tacanhez e mediocridade políticas de Merkel e Sarkozy, juntamente com o egoísmo e pusilanimidade dos demais Estados-membros, escancararam as portas sem a mínima preocupação de criar uma frente comum de dissuasão a estes ataques ao euro.

Nada mais foi necessário para que as taxas de juro aumentassem desmesuradamente e continuem a estrangular os países com maior necessidade de socorrer-se dos mercados financeiros.

Penso que seja lógico perguntar se é aceitável que os Estados devam temer avaliações de Agências cotadas na bolsa de valores!

Certamente que as agências de notação financeira têm a função de intermediárias entre quem emite títulos e quem os compra, informando e monitorizando o mercado global financeiro. Mas precisamente porque são investidas de funções muito delicadas, deve-se-lhes exigir a máxima transparência, independência e total rigor na seriedade das análises e na correcção dos dados de avaliação, além de um impreterível sentido de responsabilidade.
É isso o que tem acontecido? Absolutamente não! Casos que o testemunham são já bem conhecidos.
O ataque sistemático ao euro, por exemplo, é responsável? É transparente?

A irritação da Europa, finalmente, explodiu. Desclassificar a Itália foi um acto de pura estupidez e arrogância. Standard & Poor’s apresentou justificações de carácter político; esqueceram-se de considerar a potencialidade económica do país e a acção, positiva e séria, do governo Monti.

Todos invocam uma resposta unívoca da União Europeia. Teremos de assistir, de novo, aos reiterados beijinhos de Merkel e Sarkozy? O espectáculo já é mais que nauseante. Mas penso, tenho esperanças, que Mário Monte será uma terceira voz a aconselhar acção e bom senso.
Todos invocam uma agência de rating europeia independente.
Todos pretendem responsabilidade legal para quem erra ou especula do outro lado do Oceano.
Todos, mas mesmo todos (menos a Alemanha), reclamam um Banco Central Europeu com os plenos poderes de um qualquer outro banco central, exactamente como o americano, japonês ou inglês.
Todos sugerem a criação de obrigações europeias ou fundos substanciosas de estabilidade financeira.
Que esperam?

Da minha parte, espero que a Chanceler alemã tenha a humildade de procurar novos e melhores conselheiros, o que lhe tem faltado até hoje.
Espero que ponha de lado a arrogância de quem se crê líder de um país superior.
Espero que medite bem sobre o mal que tem causado à UE com as suas intransigências míopes e indignas do país que maior lucro obteve com a criação do euro.
Espero que não queira desempenhar o papel, embora não intencionalmente, de quinta-coluna das intenções de desmoronamento da União ou da zona euro.
Por último, espero que a actual política alemã, em virtude das grandes vantagens económicas que o próprio país tem arrecadado, dentro da União Europeia, sinta mais constrangimento do que regozijo, perante o rigor e sacrifícios, incongruentes e contrários ao crescimento económico, que impôs aos países endividados.