EXPORTAÇÃO DE CAPITAIS
Sobre a fuga de capitais, uma operação que eu considero indecente e altamente incivil num normal país democrático, por qual motivo existe um estranho silêncio, seja da imprensa, seja de quem administra a coisa pública?
É política e civicamente correcta? É tolerável em cidadãos – ou sociedades fictícias - que tudo pretendem do Estado, mas que não hesitam em transplantar avultadas quantias para a Suíça, Luxemburgo, por exemplo, ou para os exóticos paraísos fiscais, defraudando o país?
Colhe-se a impressão que é um assunto ao qual se alude como se se tratasse de uma prática normal. E quando se deve decidir políticas que exijam sacrifícios aos cidadãos, atingindo, em primeiro lugar, quem mais possui, baixa-se a voz, usam-se mil cautelas, pois os capitais podem assustar-se e levantar voo.
Insisto, uma tal eventualidade deve ser vista como um facto corrente e tolerado por um qualquer Estado de direito? Mas é uma pergunta ingénua ou mesmo pueril.
Quando se alude aos paraísos fiscais e ao que eles têm de negativo, a concepção geral é de impotência. Poderes e interesses gigantescos neutralizam qualquer iniciativa política mais corajosa. E precisamente, porque esses poderes inatacáveis se aninham na política de um qualquer país de qualquer parte do mundo.
É pena que nenhum Estado, pelo menos, dê primazia e ponha em grande relevo iniciativas contra os capitais acumulados, nesses refúgios fiscais, pelo crime organizado e contra a consequente lavagem de dinheiro.
Só por este motivo, deveria ser exigida uma acção conjunta de todos os países sérios, democraticamente estruturados. Mas também neste caso, entraria em campo a utopia!
Por muito que me expliquem a “normalidade” dos “offshore”, não me merecem a mínima simpatia; considero-os uma praga que apenas concede benefícios a quem é totalmente desprovido de civismo.
Lutamos a prestamo-nos a enfrentar os sacrifícios necessários a fim de diminuir a nossa dívida pública e equilibrar orçamentos. Seria interessantíssimo conhecer quantos milhões de euros (se não milhares de milhões), pertencentes a cidadãos portugueses, veraneiam nos paraísos fiscais. Há exagero? Não creio.
Fora da Grécia, segundo rezam as crónicas, existem capitais de cidadãos gregos que quase cobririam a imane dívida soberana daquela infeliz nação. É apenas um exemplo, mas os demais países europeus que não cantem o sólito hino virtuoso. Desafinariam.
As notas com o valor de 500 euros tornaram-se no melhor material de “emigração clandestina”. Dizem os profissionais italianos que se ocupam da descoberta e sequestro deste precioso material, nas diversas fronteiras e aeroportos, que uma maleta portátil pode conter 12 mil notas de 500, isto é, 6 milhões de euros.
Todavia, surgiram profissionais de faro adestrado e sensibilíssimo ao cheiro de tinta e filigranas das notas de euros, dólares, francos suíços escondidos nas malas, cintos, sapatos, roupa íntima, etc., etc.
Em todo o mundo há apenas cinco países que usam estes cães preciosos para desmascarar um tal género de exportação: África do Sul, Itália, Inglaterra, Israel e Estados Unidos.
No aeroporto de Malpensa, onde o dinheiro clandestino se encaminha para os velhos destinos - Suíça, Liechtenstein e Luxemburgo - actuam duas estrelas: dois cães-lavrador, “Tango” e “Cash”. Em 12 de Novembro passado apreenderam cerca de 2 milhões de euros.
Mas o mais divertido foi o que descobriu uma nova recruta, o cachorro “Zeb”, na fronteira Ponte Chiasso. O grande “atrevido” farejou a existência de 65 mil euros no soutien e nos sapatos de “uma distinta senhora”. A cena devia ter sido cómica!
Voltando página e último argumento ou última perplexidade. Por que razão não me apercebo, nos discursos oficiais e nas múltiplas explicações do nosso Governo, de um programa bem arquitectado, lícito e auspicioso de perseguir e combater, sistematicamente, a evasão fiscal?
Já o fazem, mas em surdina? Ou significa que este fenómeno não existe no nosso lindo País e verificou-se que todos pagam diligentemente o que é devido?
Esta seria a pior balela, galga, aldrabice, arara, atoarda, e por aí adiante, deste recém-nascido 2012.
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