segunda-feira, dezembro 19, 2011

RACISMO E CERTAS FOBIAS:
VIOLÊNCIA E DESUMANIDADE

E quando o racismo se combina com mentes retrógradas, dominadas por preconceitos anacrónicos e falsos valores, as consequências são sempre explosivas e repugnantes.

Na última semana, as civilizadíssimas cidades de Turim e Florença foram teatro de dois eventos caracterizados por uma violência de enorme gravidade. Mas o vírus dessas violências já de há muito grassava no País. Foram subestimados e as consequências; cedo ou tarde, explodem.

Bairro “Le Vallette”, periferia da cidade de Turim. Uma jovem de dezasseis anos, educada numa família com o culto da virgindade, deveria chegar “pura” ao matrimónio; para maior segurança, era submetida a visitas periódicas ao ginecologista.

Voluntariamente, teve a sua primeira experiência sexual com o namorado. Assustou-se, temendo consequências e a reacção dos pais e demais familiares. De acordo com um irmão, lançou o alarme e denunciou que fora assaltada e violada por dois ciganos. 

A polícia ficou perplexa ante uma denúncia que não brilhava por clareza. Mas entretanto, a indignação dos habitantes do bairro, onde todos se conhecem, explodiu. Houve marcha de protesto.
Um consistente grupo de exaltados, colhendo a oportunidade para exteriorizar o pior racismo e munindo-se de instrumentos eficazes para o efeito, decidiu invadir e atacar um acampamento de ciganos, localizado nas proximidades: absolutamente fora da questão se eram culpados ou inocentes.

Espancaram o primeiro infeliz que viram; incendiaram e destruíram barracas e tudo o mais que havia para destruir, semeando o terror.
Homens, mulheres, crianças fugiram apavorados. Numerosas famílias ficaram sem abrigo e à mercê das inclemências do tempo. Um pogrom em perfeita regra!

A falsa vítima, entretanto, já tinha confessado que inventara a agressão e estupro. Certamente que quando imaginou os agressores, intuía que seria mais credível se os apresentasse como ciganos; o “vírus do ódio étnico” não lhe era estranho.

Envergonhou-se e arrependeu-se amargamente, quando viu na TV as imagens das crianças aterrorizadas e da brutalidade que  sua acusação irreflectida provocou.        

Se fiquei enojada com o culto da violência daqueles energúmenos, pois não tolero quaisquer formas ou manifestações de racismo contra quem quer que seja, a rapariga mereceu-me compaixão.
Vejo esta adolescente mais como vítima de concepções baseadas em valores inconsistentes, arcaicos do que beneficiária de uma educação atenta a inculcar-lhe sentimentos de prudência e equilíbrio, na vida que se lhe abria para novos afectos.

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O segundo facto violento, verificado em dois mercados da cidade de Florença, foi largamente noticiado nos nossos telejornais: o assassínio, a tiro de pistola, no mesmo dia e em períodos sucessivos, de dois imigrantes senegaleses e ferimento de outros três - um dos quais, muito grave - por um nazi-fascista.
Quando se viu perseguido e acossado pela polícia, o assassino suicidou-se.

Inicialmente, quiseram apresentá-lo como um louco descontrolado. Mas Reconsideraram. Não se tratava de um caso patológico, mas a acção de uma mente distorcida, envenenada e instigada pelas doutrinas da extrema-direita.
Enquanto disparava, algumas testemunhas ouviram-no dizer: “Agora toca a vós, negros”.

De há duas décadas que o clima de intolerância contra o diverso vinha a difundir-se na Itália. Não hesito a apontar o dedo à Liga Norte - xenófoba e racista - e o que foi o seu principal aliado de Governo. Há dias, por exemplo, o saudosista Berlusconi declarou que o fascismo de Mussolini “era uma democracia menor”!...

Contra os imigrantes, embora úteis para a economia do país, usaram-se as palavras mais ofensivas e intolerantes e imaginaram toda a espécie de meios legais para afastar e criminalizar esta pobre gente em busca de melhores condições de vida.
A proverbial arrogância do bem instalado, mas de mentalidade árida, para quem necessita de ajuda e integração.

Paralelamente, as facções de extrema-direita quase tiveram campo aberto para organizações e manifestações que proclamam os ideais mais abjectos que um ser humano pode conceber contra um outro ser humano: “Nunca permitiria que os meus filhos brincassem com negros ou judeus. Defendo a integridade da raça, da civilização, dos povos”. O assertor desta cretinice, líder do grupo fascista “Militia”, foi encarcerado recentemente.

A estes imbecis que cultivam o racismo como baluarte de uma imaginária   identidade alheia a contaminações, proporia um decreto-lei que fosse aprovado por unanimidade: ministrar-lhes, obrigatoriamente, amplas lições de história sobre a evolução humana, desde os alvores até ao presente. Em seguida, e em doses maciças, aulas práticas de civismo e solidariedade.