“ILUSÕES E SUPEREUROPA”
“Supereuropa”! O que vejo de super, no que concerne a União Europeia, são superegoísmos; superdirigismos de dois países sem qualquer mandato institucional; superafasia dos demais Estados-membros, incapazes de formar grupo e impor soluções alternativas.
“Ilusões e Supereuropa” é o título de um artigo do jornalista Piero Ottone, publicado no jornal La Repubblica de quinta-feira passada, 08 de Dezembro.
No mare magnum de opiniões, análises, crónicas e editoriais sobre a crise, euro e União Europeia, e estes são temas que perdurarão por largo tempo, decidi traduzir este artigo, o qual sintetiza o que poderia e deveria ser na UE, mas que, infelizmente, não é.
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“Seguimos as vicissitudes do euro dia a dia e ainda não sabemos como tudo acabará. Todavia, podemos exprimir uma certeza. A longo prazo, o euro não poderá sobreviver se não tiver o suporte de um superbanco europeu. E este superbanco não poderá operar se não tiver, por sua vez, o suporte de um Superestado europeu. Uma Europa comparável, para melhor compreensão, aos Estados Unidos da América.
Teremos, portanto, esta Europa federal? Não existem certezas, mas uma Europa federal apresenta-se extremamente improvável, se não impossível.
Mas há ainda quem espere que a Europa se cumpra.
Na ilha de Ventotene, uma lápide recorda o nobre manifesto dos intelectuais, aí exilados pelo regime fascista: nos dias tétricos da guerra, exprimiam a esperança que os povos do nosso Continente, berço da civilização, em vez de se combaterem e dessangrar-se, um lindo dia unir-se-iam, a fim de guiar o progresso.
Grandes homens políticos - Adenauer, De Gasperi, Schuman, na primeira fila – acreditaram na união do Continente. Hoje, o ideal já não é tão vivo, mas não se apagou e apercebemo-nos que somente uma Europa unida, no mundo globalizado, pode competir com a América, com a China, com a Índia.
Verificaram-se grandes progressos relativamente à união: o euro, que há dez anos substituiu as moedas nacionais, representa uma etapa fundamental.
Porém, e como se tem apurado nos últimos dias, o euro não resiste se não se concretiza um outro passo - um passo decisivo - para atingir a união, isto é, uma qualquer forma de federação política.
As uniões que implicam uma renúncia definitiva, e não parcial ou revogável, à soberania nacional, fazem-se somente quando há alguém em condições de impô-las.
Unifica-se, por assim dizer, quando há alguém que unifica os outros.
Seria magnífico se os representantes dos vários Estados se reunissem à volta de uma mesa, dessem vida a um Superestado federal, brindassem ao grande sucesso.
Mas não é assim que se fazem as uniões entre os povos. Ocorre sempre, na realpolitik, que alguém prevaleça: o Piemonte para fazer a Itália; a Prússia para fazer a Alemanha; o Norte, para os Estados Unidos da América.
Na Europa hodierna, não existe um Estado que tenha capacidades para fazer a Europa: e é esta a razão, abstraindo as diferenças de língua, de história, de civilização, que, em última instância, impede a criação dos Estados Unidos da Europa.
A Alemanha, embora prevalecendo pelas dimensões e por eficiência, não reúne condições para unificar o Continente: excessivamente grande para ser unificada; demasiado pequena para unificar.
Há dez anos, quando se fez o euro, sabia-se que a moeda única, cedo ou tarde, exigiria um passo decisivo para a união política. Esperava-se que as nações europeias, para não perder o euro, o tivessem dado. Mas esta esperança não foi atendida; as consequências estão á vista.
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