FALA-SE SEMPRE DE DIREITOS;
NUNCA DE DEVERES
Como direitos indiscutíveis e irrenunciáveis reconheço apenas os direitos exarados na “Declaração Universal dos Direitos Humanos”. Aos demais direitos que, naturalmente, se fundamentam nos trinta artigos desta declaração, penso que se deva, por vezes, antepor o bom senso e o equilíbrio.
Obviamente, estou a pensar no direito à greve. É um direito sacrossanto, quando as razões são justas e as circunstâncias não apresentam outras vias de solução do um conflito que apenas sacrifica, inteiramente, uma das partes.
Posto isto, é-me muito difícil compreender a razão da última greve dos maquinistas da CP; e é-me totalmente indiferente se esta minha opinião se afasta do politicamente correcto.
A causa justificativa desta greve assemelha-se mais a uma reacção de arrogância e prepotência dos maquinista – aliás usufruidores de bons salários – do que a razões compreensíveis e aceitáveis.
Ademais, vejo-a como um acto absolutamente irresponsável e sem a mínima consideração pelos “deveres para com a comunidade” e pelo próprio país a braços com uma tremenda situação económica e financeira.
Mas a este género de portugueses, e pensando agora nos trabalhadores dos vários portos do país que entraram hoje numa greve prolongada e de consequências desastrosas para as nossas exportações, nada interessa os pesadíssimos danos causados à economia nacional. Crise ou não crise, há o direito à greve e direitos são direitos; quaisquer outras considerações têm o valor zero.
Ninguém desconhece que o peso das exportações, sobretudo neste período, é de primária importância para uma economia em recessão.
Antes de se promulgarem greves deste jaez, o dever de pôr em acção o bom senso, ponderação e predisposição a um diálogo exaustivo e responsável seria praticamente obrigatório. Mas tudo isto, como se verifica, é indecentemente alheio aos interesses corporativos. Em tais casos, portanto, já não sei se se trata de uma clara irresponsabilidade ou de uma espécie de sabotagem de idiotas inconscientes das suas acções.
Transcrevo a análise concernente Portugal, num dossiê de um jornal estrangeiro de sexta-feira passada, sobre a “Emergência débito”.
Portugal está pesadamente endividado com a Espanha por cerca de 65 mil milhões de euros; com a França e Alemanha, por outros 40 mil milhões.
Tem a infelicidade, todavia, de ter um crédito de quase 8 mil milhões € com a Grécia.
A dívida pública superou o nível de alarme de 107% do PIB, enquanto a dívida total (pública e privada) é de 251%. (O país inteiro estava doido, acrescento eu!!)
[…] Portugal é um dos três países do euro que foi oficialmente salvo pela Europa com um plano de ajudas financeiras. Isto não evitou que precipitasse numa profunda recessão. Mais dura ainda, porque era já um dos países mais pobres da UE.
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A transferência da sede social da empresa Jerónimo Martins para a Holanda deu azo a grande alarido. Só agora despertaram, perante casos destes ou similares e já bem conhecidos? Superficialidade ou comédia?
O presidente da Jerónimo Martins, Soares dos Santos, “garantiu que não tinham sido os impostos a levar a empresa para a Holanda”. Uma coisa é certa: não foi o panorama holandês que se tornou irresistivelmente atractivo para a deslocalização da sede social da empresa.
Concedamos-lhe a atenuante das maiores facilidades de financiamento para novos investimentos, entre as várias justificações. Todavia, o acto em si mesmo, não brilha por civismo.
Mas há outra explicação que Soares dos Santos exprimiu em forma dubitativa e que não só foi incautamente elucidativa como muito inoportuna. "Disse que não sabia se Portugal ficaria no euro".
São frases destas, provindas de pessoas com peso económico, que arrepiam e não se admitem. Dir-se-ia que soam como clarim de alarme, a fim de que outros espertalhões tomem providências e abandonem o barco em perigo. E como sabemos, são os ratos os primeiros a abandonar o barco.
Termino, citando a jornalista e escritora Inês Pedrosa: “O mais grave défice de Portugal é o da participação cívica. O activismo social e político escoa-se em queixinhas de café”. - Esplendidamente centrado!
Não haverá por aí um grupo de corajosos e esclarecidos que lancem uma ampla (territorialmente) e persistente campanha de educação do nosso povo, nesse sentido?
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