RECORDAR O HOLOCAUSTO
RECONSIDERAR ATITUDES NO MÉDIO ORIENTE
No dia 27 de Janeiro, celebrou-se mais um dia da memória do Holocausto.
Na Itália, cujo regime fascista deu um bom contributo a tanta barbaridade, houve celebrações que verdadeiramente recordassem esta data simbólica, isto é, a libertação de Auschwitz pelas tropas soviéticas.
Não faltaram as escritas murais anti-semitas, quer em Roma, quer noutras cidades.
Quando alguns elementos da hierarquia católica, embora não sustentem o negacionismo, utilizam argumentos ambíguos que, indirectamente, o alimentam, não é de estranhar que energúmenos da extrema-direita manifestem racismos da pior espécie.
Em Portugal, penso que esta praga nunca tivesse atingido uma dimensão que nos envergonhasse – refiro-me à era moderna. Certamente que não podemos pretender imunidade sobre o ser ou não ser racista.
Há sempre quem ostente um certo ar de superioridade em relação ao diverso, seja por religião, seja por características somáticas.
Quando disso me apercebo, sinto pena de tanta estreiteza de inteligência e opacidade de espírito.
Superioridade de humanos sobre outros humanos por razões desse género?! A exclamação mais terra a terra, mas eficaz, é única: é preciso ser muito estúpido ou cego por uma presunção mil vezes mais imbecil!
Mas voltando ao Holocausto, ao que significa esta tragédia e ao dia da memória. Serve a alguma coisa este dia da memória? Serve: “Demos á memória um futuro, para que nunca mais…”
De cada vez que leio recordações ou descrições daquela matança programada – algumas destas descrições tive oportunidade de ouvi-las directamente de quem se salvou - descubro sempre novos particulares horripilantes, novos casos de inaudito sofrimento humano, novas manifestações de crueldades inimagináveis. Há sempre um dado novo a acrescentar ao que já conhecia.
Não podemos ignorar que houve, há e haverá outras aniquilações bárbaras de seres humanos e onde o sofrimento não é menor.
Todavia, em relação a tantos crimes odiosos, o Holocausto expressou o maior requinte de malvadez que o espírito humano jamais engendrou a frio.
Deu-se aviamento á programação matemática, organizadíssima da eliminação de uma dada categoria de pessoas, em nome da pureza da raça, de uma raça superior. Bastaria olhar para o aspecto ridículo de Hitler ou a figura grosseira de Mussolini – o promotor e o sequaz dessa aberração - para largar uma gargalhada, ante um argumento já de si fora de qualquer lógica ou aceitabilidade, caso não se tivesse concretizado.
O horror de tudo o que aconteceu, porém, está também no facto, incontestável, que houve milhões de pessoas que aplaudiram ou preferiram ignorar. E o drama completou-se. Já não faltava nenhum elemento.
*****
O pensamento, agora, foge para o eterno conflito do Médio-Oriente.
Há dias, no jornal Público, li com atenção um artigo de Alan Stoleroff, de origem judaica, professor universitário de Sociologia, onde condena a política míope de Israel.
Conheço opiniões idênticas de outras personagens de igual espessura académica e sérios analistas de uma guerra que não somente destrói vidas e recursos materiais como já assassinou as razões que lhe deu origem.
Não é difícil concordar com estas opiniões.
Os impulsos que, de um lado e do outro, dão início a ataques e a sequentes retaliações, duras e desproporcionadas, passaram a ser analisados como factos incompreensíveis, irracionais, inconcludentes.
Israel merece, e sempre mereceu, toda a minha simpatia, enquanto defende a sua segurança e existência. No entanto, isso não me impede de atribuir-lhe crueldade e arrogância, quando ocupa territórios que não lhe pertencem; quando nega dignidade aos habitantes desses territórios e os submete a um contínuo estado de sofrimento e direitos negados.
Um grande património mundial de simpatia e solidariedade, Israel dissipou-o com as suas contínuas intransigências e a criação dos indecentes colonatos.
Sei que uma grande percentagem de israelianos quer a paz e boas relações com os árabes da Palestina. Desgraçadamente, os últimos governos têm sido expressão da parte mais ignorante e fundamentalista de Israel.
Só me pergunto por que razão os grandes intelectuais não dão princípio a uma sublevação, dentro do que as regras democráticas permitem. E quando se quer, essas regras, bem aproveitadas, permitem muito.
De todos os aspectos que não me agradam, nas atitudes de Israel, há um factor – no meu entender, de grande importância - que se me antepõe a quaisquer outros e me leva a evocar o principal motivo que levou a ONU a proclamar o Estado de Israel, em 1948: o Holocausto.
Se os israelitas tanto sofreram e tantos vexames suportaram; se foram acossados como sub-humanos que deveriam ser eliminados, como é possível ficar indiferentes ante as condições de vida das gentes palestinianas?
Não se apercebem que estas são duplamente vítimas, quer dos próprios correligionários - profissionais da violência - que as usam, quer de Israel nas suas acções bélicas e usurpadoras de territórios?
Ainda existem sobreviventes do Holocausto e familiares dos que morreram nos campos de extermínio ou nos fornos crematórios; existe um museu riquíssimo de documentação em Jerusalém, o Yad Vashem, que manterá sempre viva a memória. Logo, como é possível não projectarem esta dor e sensibilidade, de povo perseguido, nas angústias e sofrimentos das populações que lhes são vizinhas - os palestinianos - procurando compreendê-los e tudo fazendo para sanar a gangrena daquele conflito?
RECONSIDERAR ATITUDES NO MÉDIO ORIENTE
No dia 27 de Janeiro, celebrou-se mais um dia da memória do Holocausto.
Na Itália, cujo regime fascista deu um bom contributo a tanta barbaridade, houve celebrações que verdadeiramente recordassem esta data simbólica, isto é, a libertação de Auschwitz pelas tropas soviéticas.
Não faltaram as escritas murais anti-semitas, quer em Roma, quer noutras cidades.
Quando alguns elementos da hierarquia católica, embora não sustentem o negacionismo, utilizam argumentos ambíguos que, indirectamente, o alimentam, não é de estranhar que energúmenos da extrema-direita manifestem racismos da pior espécie.
Em Portugal, penso que esta praga nunca tivesse atingido uma dimensão que nos envergonhasse – refiro-me à era moderna. Certamente que não podemos pretender imunidade sobre o ser ou não ser racista.
Há sempre quem ostente um certo ar de superioridade em relação ao diverso, seja por religião, seja por características somáticas.
Quando disso me apercebo, sinto pena de tanta estreiteza de inteligência e opacidade de espírito.
Superioridade de humanos sobre outros humanos por razões desse género?! A exclamação mais terra a terra, mas eficaz, é única: é preciso ser muito estúpido ou cego por uma presunção mil vezes mais imbecil!
Mas voltando ao Holocausto, ao que significa esta tragédia e ao dia da memória. Serve a alguma coisa este dia da memória? Serve: “Demos á memória um futuro, para que nunca mais…”
De cada vez que leio recordações ou descrições daquela matança programada – algumas destas descrições tive oportunidade de ouvi-las directamente de quem se salvou - descubro sempre novos particulares horripilantes, novos casos de inaudito sofrimento humano, novas manifestações de crueldades inimagináveis. Há sempre um dado novo a acrescentar ao que já conhecia.
Não podemos ignorar que houve, há e haverá outras aniquilações bárbaras de seres humanos e onde o sofrimento não é menor.
Todavia, em relação a tantos crimes odiosos, o Holocausto expressou o maior requinte de malvadez que o espírito humano jamais engendrou a frio.
Deu-se aviamento á programação matemática, organizadíssima da eliminação de uma dada categoria de pessoas, em nome da pureza da raça, de uma raça superior. Bastaria olhar para o aspecto ridículo de Hitler ou a figura grosseira de Mussolini – o promotor e o sequaz dessa aberração - para largar uma gargalhada, ante um argumento já de si fora de qualquer lógica ou aceitabilidade, caso não se tivesse concretizado.
O horror de tudo o que aconteceu, porém, está também no facto, incontestável, que houve milhões de pessoas que aplaudiram ou preferiram ignorar. E o drama completou-se. Já não faltava nenhum elemento.
*****
O pensamento, agora, foge para o eterno conflito do Médio-Oriente.
Há dias, no jornal Público, li com atenção um artigo de Alan Stoleroff, de origem judaica, professor universitário de Sociologia, onde condena a política míope de Israel.
Conheço opiniões idênticas de outras personagens de igual espessura académica e sérios analistas de uma guerra que não somente destrói vidas e recursos materiais como já assassinou as razões que lhe deu origem.
Não é difícil concordar com estas opiniões.
Os impulsos que, de um lado e do outro, dão início a ataques e a sequentes retaliações, duras e desproporcionadas, passaram a ser analisados como factos incompreensíveis, irracionais, inconcludentes.
Israel merece, e sempre mereceu, toda a minha simpatia, enquanto defende a sua segurança e existência. No entanto, isso não me impede de atribuir-lhe crueldade e arrogância, quando ocupa territórios que não lhe pertencem; quando nega dignidade aos habitantes desses territórios e os submete a um contínuo estado de sofrimento e direitos negados.
Um grande património mundial de simpatia e solidariedade, Israel dissipou-o com as suas contínuas intransigências e a criação dos indecentes colonatos.
Sei que uma grande percentagem de israelianos quer a paz e boas relações com os árabes da Palestina. Desgraçadamente, os últimos governos têm sido expressão da parte mais ignorante e fundamentalista de Israel.
Só me pergunto por que razão os grandes intelectuais não dão princípio a uma sublevação, dentro do que as regras democráticas permitem. E quando se quer, essas regras, bem aproveitadas, permitem muito.
De todos os aspectos que não me agradam, nas atitudes de Israel, há um factor – no meu entender, de grande importância - que se me antepõe a quaisquer outros e me leva a evocar o principal motivo que levou a ONU a proclamar o Estado de Israel, em 1948: o Holocausto.
Se os israelitas tanto sofreram e tantos vexames suportaram; se foram acossados como sub-humanos que deveriam ser eliminados, como é possível ficar indiferentes ante as condições de vida das gentes palestinianas?
Não se apercebem que estas são duplamente vítimas, quer dos próprios correligionários - profissionais da violência - que as usam, quer de Israel nas suas acções bélicas e usurpadoras de territórios?
Ainda existem sobreviventes do Holocausto e familiares dos que morreram nos campos de extermínio ou nos fornos crematórios; existe um museu riquíssimo de documentação em Jerusalém, o Yad Vashem, que manterá sempre viva a memória. Logo, como é possível não projectarem esta dor e sensibilidade, de povo perseguido, nas angústias e sofrimentos das populações que lhes são vizinhas - os palestinianos - procurando compreendê-los e tudo fazendo para sanar a gangrena daquele conflito?
Alda M. Maia
2 Comments:
Viva, Alda
Li com atenção este seu texto de reflexão sobre tão candente tema como foi o do Holocausto. E também das incompreesões e incongruências de atitude dos Israelitas, por um lado, e das posições antagónicas dos restantes países deste planeta, por outro?
Sem dúvida que há que olhar de modo decisivo para a resolução do conflito Israelo-Árabe, particularmente, para a forma urgente de se resolver das horripilantes condições de vida na Palestina.
Como? Quem terá poder e querer para deitar mãos a esta obra primordial para a Humanidade?
Um abraço
António
Boa tarde, António
Quem terá poder? Sobretudo, quem terá a boa vontade e determinação de dizer "alto lá" a quem sopra na fogueira e a quem a não quer apagar.
Não lhe dá ideia que é um jogo trágico a que ninguém quer pôr fim, seja de um lado, seja do outro?
Um abraço
Alda
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