domingo, abril 19, 2009

HISTÓRIAS DA ÁGUIA FERIDA

Histórias humanas, histórias de animais.
As histórias humanas, se não entraram na tragédia absoluta, continuam envolvidas pelo opressivo negrume da angústia.
Famílias aniquiladas; o tecido económico da região esfrangalhado; as incertezas do futuro tão pesadas como os escombros que abafaram a cidade.

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História de uma família destruída.
(Mas não é única, desgraçadamente).

Do quarto andar viu-se catapultado para o rés-do-chão. Todo o edifício, no centro da cidade e onde habitava com a família, ruiu. A mulher e duas filhas foram engolidas pelos escombros – o desmoronamento deste prédio tornou-se um dos símbolos de um desastre anunciado: nele morreram sete pessoas.

Embora ferido, procurou salvar mulher e filhas.
Escavou desesperadamente com as mãos, a fim de extraí-las ainda com vida.
Alessandra (vinte e dois anos) e a mãe sucumbiram. A outra filha, Antonella, de vinte e sete anos, chamava pelo pai, suplicando-lhe que a libertasse do peso dos detritos que a esmagavam.
Juntamente com os bombeiros, lutaram durante sete horas. Conseguiram arrancá-la daquelas ruínas, mas já em coma.

Prestaram-lhe os primeiros socorros e transportaram-na para um hospital de Roma. Após três dias de agonia, não resistiu e foi o pai que teve de autorizar a desligar a máquina que a mantinha em vida.

Vi e ouvi este pai e marido desesperado, numa óptima entrevista, onde o deixaram falar sem o interromper com perguntas ou intervenções inoportunas.

O senhor exprimia-se com propriedade e conseguia dominar a emoção, embora esta lhe atacasse, sem tréguas, a limpidez da voz.
Falar da mulher, das filhas, do drama que vivia e não lhe dava paz era, para o advogado Maurício Cora, uma impetuosa torrente de sentimentos que devia deixar fluir do fundo da alma e, assim, aligeirar o grande peso que o torturava.

“Enquanto escavava, no meio de todos aqueles destroços surgiu uma fotografia da minha filha Alessandra, ainda criança, que corria ao meu encontro. Naquele momento, tive a nítida sensação que era a sua alma que me vinha abraçar”.

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História que enternece.

A uma história triste deve, forçosamente, seguir-se uma que provoque um sorriso.

Pascoalina é uma cachorrinha que também ficou prisioneira no entulho do prédio onde vivia com os patrões. Estes fugiram e, só mais tarde, se aperceberam que a cadelinha ficara lá dentro. Tentaram voltar atrás, mas as escadas tinham desabado e o pavimento ruíra. Foram forçados a desistir e partir para Roma.

Até aqui, nada de excepcional. Quantos animais domésticos foram vítimas desse mesmo percalço e quantos perderam a vida!

Pascoalina, porém, resistiu oito dias à sede e à fome. Alguns dias após o terramoto, um veterinário ouviu ganidos provenientes dos escombros. Só no dia de Páscoa os socorristas conseguiram resgatá-la e entregá-la aos cuidados da Liga Italiana Direitos dos Animais.
Foi fácil encontrar os patrões: tinha um microchip de identificação e os proprietários haviam dado o alarme

Sobrevém a parte enternecedora da história: o encontro de Pascolina com o casal que a adoptara e que a julgara perdida.
Era impossível calcular quem demonstrava maior júbilo!
A cachorrinha endoidecia a lamber a cara de um e outro e atrapalhava-se, porque os queria beijar ao mesmo tempo. Os patrões, esses, comoviam pela alegria de ver Pascoalina viva e pelo amor votado àquele animalzinho.

Como nascera no dia de Páscoa, “baptizaram-na” Pascoalina.
Nome predestinado, no melhor sentido.

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História divertida
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Conduziu-me a esta história o “Mago das fábulas”, Roberto Aldo Mangiaterra –
www.reset-italia.net.

Alguém já o chamou Jack, como o ratinho da Cinderela. É um rato do campo que escapou ao terramoto. Viram-no aparecer numa pedra branca molhada, espreitando a situação. Em seguida, aproximou-se, saltando para uma tampa de esgotos.
Farejou algumas pessoas que se encontravam no local e, vencendo o medo, deixou-se observar. Assim, quando lhe estenderam uma garrafa de água, "Jack" não pensou duas vezes e serviu-se, matando a sede, depois de tanto pó engolido.
Alguns segundos apenas; terminou de beber, girou a cauda. A meio do caminho, voltou a cabeça, como se quisesse agradecer, e abandonou o campo. - adnkronos.com


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A semana passada elogiei Berlusconi. Retiro o que escrevi. Como quase previra, estragou tudo.

Não há dia da semana que o homem não corra em visita a L’Aquila.
Seria louvável e continuaria a aplaudi-lo, se o fizesse discretamente e com uma certa dignidade, mas é tarefa impossível para um indivíduo que sofre de uma inveterada doença de protagonismo e tudo lhe serve para campanha eleitoral.

Nunca parte sem as imprescindíveis e subservientes equipas televisivas. Nenhum pormenor escapa às telecâmeras, todas as suas frases, mesmo as mais inoportunas – já em grande número! – são devotamente transmitidas ao país.
As conferências de imprensa são diárias: eu faço; eu decidi… Não é o Governo que decide e toma as medidas adequadas: é o duce de turno.

E o César decidiu que a próxima reunião do conselho de ministros – nesta próxima semana - efectuar-se-á na cidade de L’Aquila.
Gostaria de saber que mais-valias resultarão desta teatralidade!
Quanto custarão ao erário público a deslocação e todo o aparato necessário, além das complicações causadas , in loco, a quem trabalha e se esforça por começar a dar remédio às feridas mais urgentes de uma cidade desastrada.
Alda M. Maia

2 Comments:

At 11:57 da manhã, Blogger Donagata said...

Vou começar pelo fim. E como esse dinheiro que vai ser gasto seria tão bem empregue aqui, em Áquila, na sua reconstrução...

Tive que dizer isto porque não consigo dizer mais nada. Estou emocionadíssima com o que aqui escreve e, o que muito raramente me acontece, sem palavras para descrever a tristeza e, de certa forma, a raiva.
E as lágrimas saltam-me e eu não sei porquê...

Beijos. E um bem-haja por ser a mulher que é; atenta e sensível.

 
At 5:10 da tarde, Blogger Alda M. Maia said...

O último período do seu comentário merece um grande abraço que sublinhe bem os meus agradecimentos

 

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