domingo, abril 05, 2009

E MAIS “BERLUSCONADAS”!!

Esta semana, afora a leitura dos jornais portugueses, dediquei a maior parte do tempo a ler publicações em língua italiana. Resultado? Veio um técnico controlar algo aqui no prédio, falou comigo e eu respondi-lhe, serena e inconscientemente, naquela língua. O senhor olhava-me perplexo!
- Sra. D. Alda, não a compreendo!
Ainda bem que o homem tinha um forte sentido do humor: desatámos os dois à gargalhada!

Durante a semana, apercebi-me também de certas frases em português cuja construção - de regência ou sintáctica – soou-me um pouco italianada.
E pensar eu que tanto me esforcei para aprender um bom italiano sem jamais sacrificar a minha língua mãe!

Mas creio que a não sacrifiquei e há um particular do qual me regozijo: no meu português não entraram sotaques. Porta blindada, nesse sentido.
Mas voltando atrás, sucedeu apenas que tive uma semana mais virada para Itália e com pouca conversa em português.

Divertem-me as apreciações de uma minha jovem amiga – uma das sete ou oito pessoas que lêem este blogue – que perde o interesse, quando escrevo sobre a política italiana. Não quer saber do que se passa naquele país.

Não sabes o que perdes, Maria Teresa. Aprenderias, pelo menos, a discernir o que é o verdadeiro populismo.

Pensando nos dois Países a que me sinto profundamente ligada, por vezes surpreendo-me a estabelecer paralelos ou mesmo aventar hipóteses.

Suponhamos que, em Portugal, saltava para a arena política uma personagem semelhante a Berlusconi e com os potentes meios que este possui: económicos e mediáticos.
Suponhamos que a maior parte da nossa população colheria informações apenas através da TV.
Aqui, não devemos supor nada, mas constatar: portugueses e italianos assemelham-se. Não seria difícil embebedar essa população com promessas suasivas, mirabolantes.

Quanto à imprensa, também não creio que devêssemos espremer muito as meninges: não seria impossível ver a nossa imprensa justificar, atenuar, ignorar atitudes menos correctas.
Certamente que, ante o poder e cor política de um tal personagem e observando os nossos jornais de maior difusão – idem as TV’s - também poderíamos deduzir, tranquilamente, que seria difícil verificar-se uma linchagem diária de um primeiro-ministro.

Aliás, essa linchagem política e moral seria inimaginável numa imprensa séria e responsável, quando uma Justiça, também séria, está efectuando o seu dever.

Mas vamos às performances circenses de Sílvio Berlusconi.

As imagens e o vídeo da Rainha de Inglaterra que se assusta com os berros de Berlusconi – Mr. Obama, Mr. Obaaamaaa! - correram mundo, provocando comentários impiedosos.

What is it? Why does he have to shout? (Que é isto? Por que deve berrar?)
Valha-nos Deus, Majestade! Ainda não sabe que o homem faz birras se não lhe concedem importância, a ele e só a ele, grande condottiero?

Único expoente do G8 que não pôde encontrar Obama, incapaz de adquirir credibilidade entre os seus pares, adoptou a técnica da ruptura do protocolo, a fim de vender qualquer retalho de visibilidade na frente interna que é a única que lhe interessa - Andrea Bonanni (La Repubblica)

Parece, todavia, que Buckingham Palace, acima de tudo, considera o País Itália e fez saber que a Rainha não se ofendeu com os modos de quem o representava. Tratava-se de um ambiente de cordialidade e alegria!...

Segunda gafe. Em conferência de imprensa, aludindo ao que se passou na cimeira G20, Berlusconi comentou, querendo ter graça: Nós (chefes de governo e presidentes) trabalhávamos; entretanto, os ministros estavam no “cesso”.
Para traduzir o termo cesso, podemos adoptar três versões. Tradução fiel: latrina; tradução popular: retrete (também há o nome «sacreta»); tradução elegante: toilette ou casa de banho.
Dado o modo "refinado" como sempre se comporta, escolhamos, neste caso, a segunda tradução!...

Ontem: vértice Nato, ponte sobre o Reno que une a França à Alemanha, cerimónia comemorativa dos mortos Nato.
Berlusconi chegou ao ponto de encontro com o ouvido colado ao telemóvel.
As imagens demonstram uma cena cómica e, paralelamente, um comportamento de uma grosseria sem limites.
Ângela Merkel perplexa à espera do ilustre hóspede e este acenando-lhe que estava ocupado. Como mais tarde explicou, falava com o primeiro-ministro turco, a fim de o convencer a aceitar a nomeação de Rasmussen - telefonema de 20 / 30 minutos.
A senhora Merkel virou costas e a cerimónia continuou sem o representante italiano.

Primeira pergunta: era urgente e necessário telefonar, precisamente naquela altura?
Num jornal li uma pergunta que me divertiu: em que língua falava com Erdogan? O turco não sabe italiano; ele não conhece a língua turca; o seu inglês é um desastre… Obama, mais tarde, resolveu a situação e Rasmussen foi nomeado secretário-geral da Nato.

O homem, agora, está furibundo com os meios de informação e ameaça medidas contra os jornais que o criticaram severamente. Como se atrevem a não valorizar o que faz pela Itália?!
Elevada egolatria e delírio de omnipotência!
Alda M. Maia

4 Comments:

At 7:37 da tarde, Blogger zoot said...

Com tudo isso, muitos brasileiros aceitariam de bom grado a troca: vai o Lula pra lá e vem o Berlusconi pra cá. Aqui ninguém mais aguenta o boquirroto de nove dedos e seu ego inflado. Dizem que até Deus está processando o Lula por concorrência desleal!!!!!!

 
At 3:44 da tarde, Blogger Alda M. Maia said...

Não queira mal ao Corpo Diplomático brasileiro!
Imagine a canseira que teriam os vossos embaixadores a remediar os contínuos atropelos à boa educação e à decência de um protocolo indispensável nas relações internacionais!
Mal por mal, fiquem com a prata da casa, pois não ganhariam com a troca.
Muito obrigada pela sua visita.
Alda

 
At 9:54 da manhã, Blogger a d´almeida nunes said...

Muito bom dia, Alda
Que ainda agora fui ao quintal e o tempo está invernoso, mas enfim. Nós, humanos, não mandamos no tempo, nem no meteorológico nem no que nos regula pela sucessão das rotações fa Terra.
Claro, falando do texto, só tenho que repetir-me. A oportunidade, objectividade e o corte certinho do muito pano para mangas que há na cena política italiana, não tenho encontrado paralelo nos melhores que referenciados como tal, na nossa praça.
A verdade é que por aquilo que se vai ouvindo e lendo, esse Snr. Berlusconi há-de ser mesmo dum calibre completamente impossível de medir pela positiva.
O que se passa, entretanto, é que nós, por cá, também não vamos melhor. Devíamos ser informados com rigor do que é que os nossos políticos e Administradores de Bancos e outras empresas têm andado a fazer, prejudicando-nos a todos seriamente, mas não. Até parecemos o país das caixinhas. Oõem-se todos a fazer caixinha uns com os outros e o Zé Povinho que se amanhe. O Bordalo Pinheiro lá tinha as suas razões, quando fazia aquelas figuras de cerâmica todas cheias de sentido!
... e muito mais pano para mangas teriamos para desenrolar!...
Entretanto, uma Boa e Feliz Páscoa, para si e toda a família.
Beijinhos de mim e da Zaida
António

 
At 1:35 da tarde, Blogger Donagata said...

Bom dia Alda! Cheguei. Tenho andado um pouco arredada, pelo menos sem tempo para comentários, pois tenho um montão de coisas para fazer e, de repente, pareço um cata-vento.
Achei muito interessante este post, como aliás todos os outros. Mas, a verdade, é que já quase nem consigo imaginar Berlusconi, sem uma piada associada resultante de uma atitude grosseira ou descontextualizada da sua parte. O cavalheiro deve ter um ego do tamanho do mundo e uma educação mais pequena do que uma ervilha. Enfim, nós por cá, ao nível da imprensa que não se preocupa em ter o mínimo de rigor no que transmite, não estamos lá muito melhor. Penso que a diferença está apenas em que cá são os próprios órgãos de comunicação que não se controlam em busca da notícia mais vendável. Não são, creio eu, controlados por ninguém...
Mas assim se faz e desfaz justiça sem que esta interfira minimamente nos assuntos porque, aparentemente, anda um tanto preguiçosa.

Beijos e desejos de uma boa Páscoa.

 

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