domingo, março 08, 2009

A CADELINHA ECOLÓGICA
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Lilly, a cadela que sabe diferenciar o lixo (La Stampa)
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Todas as histórias de animais chamam imediatamente a minha atenção e dedico-lhes sempre o maior interesse e agrado.

O jornal La Stampa, de ontem, narra as proezas desta cadelinha de dois anos, Lilly, de San Donato Milanese, treinada a distinguir e seleccionar o lixo, colocando-o nos contentores adequados.

Escolhe o papel e deposita-o no bidão branco. Vai na direcção das latas de Coca-Cola, recolhe-as e coloca-as no recipiente de alumínio; selecciona com igual precisão garrafas de vidro, plásticos, etc.
Todas estas tarefas, obviamente, são uma brincadeira para a cachorrinha, segundo informa o dono.

Quinta-feira passada, dia 5, a “operadora ecológica” mostrou as suas habilidades, ante uma plateia de 500 crianças, alunos de escolas locais, “que estão a pôr em acção uma fase experimental de um projecto didáctico: a recolha do lixo diferenciado”.

Com uma tal “professora”, certamente que todas aquelas crianças ficarão sem quaisquer dúvidas de como proceder futuramente, dispensando ensinamentos retóricos.

Quando acenei ao meu gosto por histórias de animais, esta veio mesmo a propósito. Explico por qual razão.

A alguns metros donde moro, temos os três contentores normais para o depósito dos detritos seleccionados: papel, vidro, plásticos.

Junto destes contentores, a incivilidade de um grande número de pessoas é quase diária: cartões amontoados; sacas de plástico cheias de garrafas abandonadas por terra; vidros partidos e outros objectos depositados fora dos recipientes, enfim, uma indecência.

Várias vezes ouvi protestos contra os serviços da Câmara Municipal. Mais um modo incivil de sacudir responsabilidades. A Câmara não tem culpa da má educação dos munícipes. A única censura que posso mover-lhe é não aplicar pesadas multas a quem é sujo e não respeita o solo público.

Há dias, um rapazote de doze, treze anos, chegou perto dos tais contentores com um saco pejado de garrafas de vidro. Atirou, literalmente, com o saco e virou costas.
Naquele momento (eu vinha atrás), passava um senhor que, delicadamente, chamou-lhe a atenção e convidou-o a introduzir as garrafas dentro do contentor próprio.
"Meta-as bocê, se quiser" – responde o rapazelho.
O senhor, obviamente, indignou-se: -“Não sejas malcriado”
A resposta do rapaz foi imediata: “Vá para o c…” – o palavrão soou alto e claro.

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A escola está, de há tempos, desarmada. Não há instrumentos para impor as suas regras e os princípios nos quais acredita. Sofre, desde algumas décadas, da síndrome de debilidade congénita.
Aliás, uma certa parte dela - a mais ideologizada - fortemente assim o quis, com base na ideia que nunca se deva punir, que as notas não constituam uma arma e que seja mais aconselhável motivar, prevenir, compreender, justificar: jamais descer à vil ameaça da reprovação.


Por outro lado, a mesma clemência imbele adeja, hoje, nas famílias: tolera-se, medeia-se, desce-se a compromissos, pactua-se com os filhos. Não se admoesta, não se desanda um bofetão, não se manda ninguém para a cama sem o jantar.

Este é o preâmbulo de um artigo de uma professora – Paola Mastrocola – sobre o que sucede nas escolas e a má educação e arrogância reinantes no ambiente das crianças e adolescentes hodiernos.

Que se trate de uma professora italiana ou portuguesa, não penso que haja grandes diferenças entre o que se passa nas nossas escolas – ou dentro de muitas famílias – e o que se verifica na Itália ou noutros países europeus.

Das punições estúpidas e exageradas de antanho - ou espancamentos como descarga das tensões dos pais - passou-se ao endeusamento da criança.
Disciplina e regras de conduta sumiram-se.
Os resultados vêem-se nas respostas – mais próprias de um adulto de caserna – que o rapazito deu ao senhor que o aconselhava a introduzir as garrafas no lugar devido.

Voltando à cadelinha ecológica, que pena não termos cães adestrados como a cadelinha Lilly! As crianças ficariam encantadas de os ver em acção e a persuasão seria eficacíssima. Tenho a certeza que tudo fariam para os emular… e jamais deixariam sacos de lixo espalhados pelo chão.
Alda M. Maia

2 Comments:

At 7:57 da tarde, Blogger Milu - miluzinha.com said...

Penso que a melhor forma e também a mais eficaz, para mudar as mentalidades seja educar logo em pequenino. Portanto, o melhor a fazer é investir na educação das crianças nas mais diversificadas áreas. A reciclagem deveria ser um ponto chave dos programas educacionais da escola! Conhecido como é, o amor das crianças pelos animais, quão útil e proveitoso seria, termos mais destes " caninos professores".

 
At 11:56 da tarde, Blogger Donagata said...

Mais um post que subscrevo inteiramente. No meu interesse em tudo o que concerne aos animais e à eficácia com que podemos transmitir, neste caso normas de conduta, mas muitas outras coisas como incutir responsabilidades, desenvolver afectividades e sensibilidades... Enfim teríamos pano para mangas.
No que diz respeito à escola, confesso que até me custa falar. Sempre gostei de dar aulas, era o que eu queria fazer e, a partir de um determinado momento, aquilo que eu fazia com imenso prazer sem olhar a horários, a condições ou ao que fosse, passou a ser um suplício.
O aluno, neste momento, nas nossas escolas, está absolutamente desresponsabilizado. Faz-nos o favor de ir à escola (quando vai) e, se lhe apetecer, ir ouvindo qualquer coisita. Se tentamos alertar os encarregados de educação, corremos o risco de sermos vilipendiados por estarmos a traumatizar o aluno exigindo dele alguma coisa. O ensino tem de ser essencialmente lúdico. O aluno vai para a escola para se divertir. Quando é necessário ultrapassar essa fase podemos contar com a reacção esperada e até natural do aluno bem como a de uma larga faixa de encarregados de "educação". É muito mais simples deixarmos os nossos meninos fazerem tudo o que lhes apetece do que chegarmos a casa cansados, com problemas a resolver e ter ainda de gerir com atenção a educação dos nossos filhos. A verdade é que as crianças bem como os adolescentes necessitam de saber o que podem ou não podem fazer e quando; sentem-se perdidos quando essas noções não lhe são transmitidas e tudo lhes é permitido ou lhes é negado aleatoriamente. É isso que dá resultados como o que tristemente presenceou.
Vou terminar o testamento.
Um beijo grande.
Tenho no meu blog um desafio para si...

 

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