domingo, fevereiro 15, 2009

A DESPROMOÇÃO DA LÍNGUA PORTUGUESA:
NÃO É UMA LÍNGUA CULTA


Este idioma da Península Ibérica foi despromovido e passará a dialecto. Apenas servirá para o linguajar corriqueiro, até que uma fagocitose, de origem anglo-saxónica, o conduzirá ao cemitério das línguas mortas.

Assim o decretou o filósofo Desidério Murcho, no blogue “De Rerum Natura”: “Contra a Língua do João” – 10/02/2009.

(…) “As pessoas apenas deixam de usar uma dada língua e passam a usar outra; e o que foi escrito na língua antiga continua disponível, podendo até ser lidas pelos especialistas nessa língua morta ou em boas traduções.”

(…) “Muitas línguas são puras mentiras políticas, inventadas por políticos espertos que queriam dividir para conquistar. É o caso da língua portuguesa. Não é mais do que latim à toa (…).

(…) Porque não há a coragem política de fazer da língua inglesa a língua escolar oficial em Portugal e no Brasil, os alunos andam perdidos a ler tolices mal traduzidas, porque não dominam uma língua culta”.

Mais duas pérolas do Dr. Murcho, qual resposta às dezenas de comentários:
A língua portuguesa foi língua franca em termos meramente comerciais, quando os portugueses colonialistas, racistas e mal cheirosos dominavam os mares. Nunca foi uma língua culta nem nunca será”.
(…) Ora, pelo que se lê nos jornais, nos blogues, nos comentários dos blogues, a língua portuguesa não é cultivada e cuidadosamente trabalhada pela generalidade das pessoas: é avacalhada, aporcalhada, e torna-se uma lixeira de ideias feitas”
(…) Mas querer obrigar as pessoas a fazer ciência ou filosofia ou artes com a língua que por acaso é a nossa língua-mãe, é algo que não só é indefensável como tem um recorte marcadamente fascista" -
os negritos são meus

Dislates de ignorantes, com pretensões de intelectualidade, aceitam-se como normais.
Afirmações deste jaez, proferidas por um professor e estudioso de filosofia, colocam-nos perante um dilema: ou se trata de uma provocação, e foi bem congeminada; ou se trata de um caso de arrogância de um literato, o qual se crê autorizado a exprimir opiniões que, se não são despropósitos, são reveladoras de grande confusão – se não ignorância – sobre a origem e evolução da língua que falamos, assim como da história da nossa Literatura.

Línguas cultas, segundo a interpretação de Desidério Murcho, “são línguas nas quais se produziu um acervo razoável de conhecimentos e artes de valor universal. Isso não acontece na língua portuguesa, mas acontece evidentemente com as línguas alemã, latina, grega, francesa e inglesa".

Após a leitura do que escreveu Desidério Murcho, que devemos inferir? Primeiro: o “acervo razoável de conhecimentos e artes de valor universal” chegaram apenas aos falantes de francês, inglês e alemão; tudo o resto não passa de incultos linguajares regionais. Nem o italiano se salvou!!

Segundo: esta língua portuguesa inculta, "avacalhada e aporcalhada" é desprovida da erudição necessária para saber compreender o que as sumidades inglesas, alemãs e francesas exprimem. Logo, língua incapacitada de nos proporcionar boas traduções!

E eu a pensar que "língua culta" fosse uma linguagem literária harmoniosa, correcta, rica de um vocabulário e valores semânticos que desse voz aos pensamentos mais articulados, expressivos e poéticos; pudesse captar e assimilar, em todos os campos do saber, o que de positivo e instrutivo nos possa chegar de outros povos e outras línguas!

Afinal, é tudo errado o que nos ensinaram: falamos uma língua que “não é mais que um latim à toa”!
Estudámos tudo o que sucedeu á volta do demorado e complicado parto das línguas novilatinas, e eis que vem um professor de filosofia dizer-nos que não é uma língua românica, mas um latinório sem pés nem cabeça!

A História da nossa Literatura não passa de atabalhoados documentos dos politiqueiros ignorantes de antanho. Nem sequer podemos aplaudir o nosso D. Dinis que aboliu o latim bárbaro nos documentos, substituindo-o com o vernáculo que lhe inspirou “ay flores ay flores do verde pyno / se sabedes novas do meu amigo / ay deus e hu e”...

Pondo de lado ironias, algumas perguntas tornam-se obrigatórias: O professor Murcho conhece a evolução das várias línguas europeias, sobretudo as de origem românica ou germânica e o que representam para os respectivos povos?
Acha que os caminhos percorridos, as confluências e influências, os enriquecimentos lexicais do inglês, francês e alemão provêm de vias totalmente diversas das que seguiram os demais idiomas, e refiro-me sempre aos dois grupos de línguas supracitados?

Como “línguas cultas” e, obviamente, de "exclusiva informação científica, filosófica e artística", Desidério Murcho teve de incluir as duas grandes clássicas: o grego e o latim.
Nunca as poderia omitir, porque sem estas, os tais conhecimentos linguísticos de valor universal e cujos termos, normalmente, recorrem a elementos de formação greco-latinos, necessitariam de complicadas expressões autóctones.
Adeus universalidade e aura de línguas superiores!

Ao Prof. Desidério Murcho permito-me aconselhar-lhe um livro muito interessante de Henriette Walter: “A Aventura Das Línguas Do Ocidente, a sua origem, a sua história, a sua geografia".
É uma leitura que lhe seria útil. Evitaria de dizer tantos disparates.

Entretanto, não me venham com a história de nacionalismos salazarentos, de “recortes marcadamente fascistas”, quando não aceitamos deturpações dos valores culturais que caracterizam o nosso País. Críticos, sim, mas jamais amesquinhadores.
A este propósito, foi muito completa a resposta do Professor catedrático, Dr. João Boavida, no mesmo blogue.

Convém recordar que Desidério Murcho manifestou-se intensamente, quer na sua rubrica do jornal Público, quer noutras publicações, contra o acordo ortográfico. Volubilidade ou incongruência?

Que se potencie e intensifique o ensino de inglês, certamente que é útil e oportuno nos tempos de hoje. Neste sentido, as opiniões são unânimes.
Mas que, nas escolas, se pretenda elegê-lo como língua oficial, arrumando para um canto o português, cheira-me muito a pedantaria de esquerdismo mal digerido.
Alda M. Maia

4 Comments:

At 2:05 da tarde, Blogger Milu - miluzinha.com said...

Não tenho a mais leve intenção de alterar seja o que for na minha forma de escrita que, a meu ver, representa o bom português! Não me deixarei abalar com argumentos eruditos defendidos por pretensos iluminados! Desses direi, apenas, que estou farta deles!Tanto me faz que me chamem antiquada como não! Por outro lado vem facilitar a vida a todos os que não gostam de aprender, visto que lhes possibilita escrever como pronunciam! Doravante deixa de haver desculpa para escrever com erros!

 
At 11:45 da manhã, Blogger a d´almeida nunes said...

Viva Alda
Nem estou em mim. Mas quem se julga esse sr.?!
Ofender uma Língua Viva como o Português - que tanto tempo e tantos sacrifícios levou a ser implantada em todo o Mundo - desta maneira?
Filósofo?! Se calhar deve querer vir a ser o mentor de alguma nova corrente Filosófica, não?
Vou lá dar uma vista de olhos ao blog que a Alda refere. Não sei se não acabarei por escrever uma javardice qualquer, em "bom português"!
Vontade não me falta!
Bom fim-de-semana, minha boa amiga.
Vou propor ao Elos Clube de Leiria (pode-se encontrar matéria relacionada com este movimento de defesa e difusão da língua e cultura lusíadas na internet em http://elosclubedeleiria.blogspot.com e em vários sítios brasileiros) que analise esta posição e nos manifestemos em conformidade, a nível dos países lusófonos.
Aliás, a Convenção Internacional comemorativa do 50º aniversário deste movimento, vai realizar-se em Leiria, no decorrer do presente ano.
António

 
At 11:16 da tarde, Blogger Donagata said...

Estou absolutamente espantada com o que li aqui agora dando conta de um chorrilho tal de disparates absolutamente inacreditável.
A Alda no início coloca a hipótese da publicação destes disparates se tratar de um caso de arrogância do autor. Talvez seja, talvez o senhor sofra do síndrome do Professor Doutor mas, para mim, é pura ignorância.
Quem tenha apenas uns laivos, repito, apenas uns laivos das origens da nossa língua bem como da sua evolução, não poderia nunca pronunciar tamanha quantidade de disparates; alguns quase anedóticos.
Agora fiquei curiosa e vou lá dar uma espreitadela. pode ser que tenha também algumas obras a recomendar.

Um beijo muito sentido, amiga. Sabe bem porquê.

 
At 5:34 da tarde, Blogger Alda M. Maia said...

Desculpem agradecer com atraso a vossa visita.
Por ordem de chegada: Miluzinha, estou inteiramente de acordo consigo. Nunca mudarei o meu português escrito. Não admito acordos mercenários e feitos com os pés.

Maria Celeste e António:
Estou satisfeitíssima com a vossa indignação.
O Sr. Filósofo continua a insistir neste tema. O que me têm divertido são os comentários. Não deixem de os ler. Vale a pena: alguns são de óptima qualidade.
Um grande abraço e sempre muito grata pelas vossas visitas.
Alda

 

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