domingo, fevereiro 01, 2009

COISAS NOSSAS

Não estou a servir-me de uma tradução de cosa nostra, expressão que todos sabem corresponder à máfia siciliana.
Quando dou o título de “coisas nossas” à minha “conversa” de hoje, quero mesmo referir-me, no plural, às variegadas coisas que vão sucedendo nesta borda europeia, o nosso País.

Poderia chamar-lhe “factos nossos”. Mais que factos, porém, vejo coisas do arco-da-velha. E acho-as extraordinárias, respeitando o valor semântico da expressão, pela exuberância de informações sobre o caso da semana e relativas deduções acusatórias. Algumas destas conclusões quase se poderiam classificar como sentenças, sub-repticiamente sugeridas.

Cartas rogatórias que, apenas chegadas, imediatamente constituem parangonas das primeiras páginas dos jornais.
Diversos e-mails comprometedores (segundo dizem), dados a público e superabundância de pormenores sobre um presumível envolvimento do Primeiro-Ministro em actos de corrupção, quando não foi constituído arguido nem há elementos, incontrovertíveis, que recebera dinheiros ilícitos.

Nos bons livros policiais, as provas ad hoc, servidas em bandeja de prata, bem alinhadinhas, levam o famoso detective a desconfiar de tanta evidência e a enveredar por caminhos mais correctos.
Aqui, estamos perante um “crime” cujo autor já foi, implicitamente, sugerido ao leitor. Mas confiemos na argúcia de um Mr. Poirot.
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Não estou a criticar a imprensa ou quaisquer outros meios de informação que trouxeram a lume o caso Freeport. O quarto poder, para mim, é tão importante como o legislativo, executivo ou judiciário.
Uma boa imprensa tem obrigação de informar e desmascarar - com a máxima objectividade possível e sem contemplações por ninguém - as podridões de todos os sistemas que governam um país. É um órgão de controlo; é um precioso contrapeso à arrogância de quem detém o poder.

O que nunca suportei foi a imprensa tendenciosa ou a aquela imprensa superficial, apenas votada ao escândalo.
Esta última tem um único fim: captar a atenção, fazer-se publicidade. A imprensa tendenciosa, talvez a mais sórdida, é perigosa e bem consciente do mal que provoca.
Só é lamentável que haja tantas pessoas que não saibam discernir o real desejo de informar do fim inconfesso de denegrir ou destruir.

Em tudo o que li e ouvi, houve informações correctas, devidas e oportunas. Uma grande percentagem dessas informações, todavia, pecava e peca por uma não muito velada tendenciosidade: transformaram o caso Freeport num autêntico chafurdeiro, o que é pena.

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Não gostei da reacção de José Sócrates: excessivamente prolixa de explicações. Falta-lhe o domínio do ego ofendido e, consequentemente, a grande arte de dizer, uma vez por todas, o essencial a que o País e a sua honorabilidade têm direito.

Como corolário desse esclarecimento, seria aconselhável explicitar toda a confiança, como aliás já declarou, na função da Justiça, exigindo-lhe celeridade e o máximo rigor no que concerne a sua actuação como ministro do Ambiente. É isto o que pretendemos do Primeiro-Ministro.

Descabido aludir a “campanhas negras geridas por poderes ocultos”. Não são frases adequadas a um político que deve enfrentar as tempestades com segurança e equilíbrio, mesmo quando a sua credibilidade está em jogo. Que deixe tais argumentos a politiqueiros enfatuados de uma importância que não possuem.

Mas valha-nos Deus, Senhor Primeiro-Ministro! Ponha-se ao largo de certos parentes, porque é melhor perdê-los que achá-los! Com a agravante de ainda lhe chamarem Zezito, em vez do simpático e portuguesíssimo Zé!...

Uma última observação. È muito curioso que a nossa imprensa, escrita ou falada, desencadeia um interesse morboso e um zelo sem tréguas, quando se deve ocupar do actual primeiro-ministro ou de personagens do seu partido.
Insisto na opinião que esse interesse é sacrossanto; já o não é quando se torna morbosa e zelosamente suspeito.
Por que razão não usa esse furor com outros casos de maus costumes políticos dos demais partidos? Ou será que estes têm o privilégio da cobertura de uma imprensa benevolente, distraída?

Um exemplo, e que até não será dos piores.
Acerca do Senhor Paulo Portas, quando ministro da Defesa, li que houve perplexidades sobre uma aquisição de submarinos (salvo erro). Alguém quis aprofundar esse caso? Paulo Portas pretendeu que se investigasse rigorosamente, a fim de que tudo ficasse esclarecido? A imprensa fez o mesmo?

Terminado o seu mandato, o mesmo Paulo Portas levou para casa cerca de setenta mil fotocópias de documentos. Alegou que eram documentos que lhe diziam respeito.
Uma forma muito sui generis de interpretar a função de ministro! Esqueceu-se que tais documentos pertencem ao Estado. Se não constitui crime apoderar-se, torna-se suspeito e eticamente execrável.
Este caso escandalizou-me. Alguns senhores da imprensa o verberaram e denunciaram? Não me apercebi.

Enfim, coisas nossas que fogem à minha compreensão.

Ah! Estou à espera que o jornal "Público" nos informe se José Sócrates tem o hábito de pagar as suas contas a pronto ou às prestações. Falta-nos essa informação.
Alda M. Maia

2 Comments:

At 12:19 da manhã, Blogger Donagata said...

Ora aqui está um post que poderia perfeitamente ter sido escrito por mim se, para tal, me chegassem o engenho e a arte.

Só não sou tão incondicional no apoio ao 4º poder, aos média, apenas pelo facto de eles próprios, entidades reguladoras do que de mau se vai passando, não têm quem os regule. Ou melhor, se calhar até têm, mas de uma forma ou tendenciosa, se são afectos a esta ou aquela cor política, ou com laivos de escandaleira com recurso à calúnia se o que se pretende é vender.

Curioso é também o facto de surgir exactamente o mesmo problema quase à mesma distância das eleições que surgiu da 1ª vez. Ele há coincidências! Em quatro anos a nossa justiça não avançou com o processo?!!!
É mesmo verdade, "coisas nossas"...

Beijos e boa semana.

 
At 6:46 da tarde, Blogger Alda M. Maia said...

Agrada-me que esteja de acordo comigo. O “engenho e arte” nunca lhe faltaram. Não esteve para aí virada, essa é que é a explicação – e digo isto, completamente fora de qualquer lisonja.

O meu apoio incondicional é destinado, SOMENTE, a um boa imprensa. Como tem visto, de boa imprensa estamos mesmo desprovidos! Logo, tem muita razão no que diz.

Além de medíocre, quase toda – ou mesmo toda – caminha numa só direcção. È desolador verificar que não temos editores equidistantes, o que acho intolerável num país democrático.
Assim, decidi boicotar qualquer ulterior leitura de toda esta chafurda.
Exactamente como a Maria Celeste, estou já bem inteirada do que representam tantas anomalias.
Um beijinho

 

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