terça-feira, setembro 11, 2007

AGORA QUE A GRANDE ONDA PASSOU…

Nunca sinto qualquer tentação ou impulso de vir escrever, isto é, conversar, neste o blogue, sobre as personagens ilustres que vão desaparecendo. Refiro-me às figuras célebres cuja fama sempre acompanhei. Com Luciano Pavarotti, o caso impôs-se e deixou-me consternada.

“Addio Pavarotti”, “Addio Maestro”, “Addio Big Luciano” são os títulos que mais se repetiram, nos vários noticiários ou jornais, anunciando o falecimento do grande tenor.

Segui integralmente a função fúnebre, na Catedral de Módena, e confesso que me emocionei, sobretudo na parte final.
Depois de Andrea Bocelli ter cantado “Ave Verum Corpus”, e já esse cântico foi um momento de intensa emoção, os técnicos que curaram a transmissão inseriram o dueto, de alguns anos atrás, de Pavarotti com o pai, interpretando o hino “Panis Angelicus”.
Já tinha visto e ouvido esse dueto. Ora, ali, naquela circunstância, naquele momento, a Catedral prenhe das vozes dos dois Pavarotti, uma das quais trémula e demonstrando os quase noventa anos, o clima emocional foi pesadíssimo; os aplausos, dentro e fora da Catedral, duraram longos minutos.

Escreveu-se muito sobre o grande tenor: hiperbolicamente sobre os dotes canoros; críticas sobre a vida privada; dúvidas a reduzir a grandeza da sua preparação técnica.
Apenas sei exprimir uma singela opinião: não se atinge aquele nível se não existem bases sólidas de preparação. O instrumento canoro, mesmo que excepcional, por si só, nunca elevou ninguém às alturas a que chegou Pavarotti. Que teria qualidades para ser o virtuoso dos virtuosos, de todos os tempos, e nunca se esforçou para aí chegar? Não duvido. Mesmo assim, é um grande tenor.

Sempre entendi que a boa música encanta, arrebata, emociona. Nestes dias, tenho escutado velhos discos de Beniamino Gigli, Enrico Caruso; CDs de Pavarotti e Plácido Domingo. Vozes excelsas que escuto frequentemente, assim como outras igualmente célebres. Não escondo, todavia, que Pavarotti emociona-me um pouquinho mais que os outros.
Dos "três tenores", deixou-me perplexa a ausência, no funeral, dos dois restantes. Empenhos artísticos tão absorventes que lhes não permitiram dar uma última saudação ao colega? Muito estranho!
Aliás, no meio de tantas personagens, o mundo lírico brilhou pela sua ausência.
No entanto, diante dos microfones das televisões mundiais, ninguém se eximiu de expressar opiniões e pensamentos elevados!

No telejornal RAI1 das 20h, de hoje, as três filhas do primeiro casamento fizeram ler uma carta. Nela agradeciam o afecto demonstrado à figura do pai. Paralelamente, solicitavam mais comedimento da imprensa nas "especulações sobre a existência de um novo testamento e prováveis desentendimentos entre herdeiros. Especulações absolutamente fora da verdade".
.
Segue-se, na imprensa, a segunda fase e que já era de esperar: precisamente essas especulações ou coscuvilhices, sobretudo nos tablóides. Nada de novo, afinal.
Alda M. Maia