terça-feira, junho 19, 2007

MÉDIO ORIENTE: BASTARIA ELIMINAR OU ATENUAR ÓDIOS

E de novo o inferno para o povo palestiniano!
E neste povo não incluo os profissionais da violência que dizem combater pelos direitos da gente a que pertencem, mas que a usa, mais como pretexto para justificar a única actividade de que são capazes, do que procurar todos os meios possíveis para tratar, com inteligência, a obtenção de um país independente a que têm direito.

Naquela desgraçada área, a única linguagem concebível é a do ódio, da vingança, da lavagem de afrontas com o sangue: dente por dente, de um lado; morte e mais morte do outro.

Na imprensa falada e escrita, quantos comentários, opiniões, vaticínios acerca da conquista de Gaza pelos extremistas do Hamas!

É consolante, todavia, ler palavras de bom senso - ou equilibradas – expressas, contemporaneamente, por israelitas e palestinianos.

De uma entrevista a Yael Dayan, escritora e filha de Moshe Dayan:

“Olho com angústia a tragédia que se está consumando entre os palestinianas. De qualquer maneira, sinto que a tragédia deles é como se fosse também a minha. Não somente pelo que poderá acontecer no futuro, mas pelo que não aconteceu, pelas ocasiões perdidas, pela cegueira política que as duas partes demonstraram.
A guerra em Gaza interroga também as nossas consciências de israelianos e coloca-nos perante os nossos erros, pois de uma coisa estou convencida: esta guerra fratricida não estava escrita no destino de um povo; também Israel tem as suas responsabilidades”


(…) “A combater nem sequer eram dez mil milicianos, mas ninguém se interessou pelo que estavam provando um milhão e trezentos mil palestinianos, reféns daquelas bandas armadas. As imagens, vistas na televisão, de mães lacrimosas e filhos aterrorizados são angustiantes. Apelam às nossas consciências; de nós, israelianos, mas também de vós, europeus: que fizemos para impedir uma catástrofe anunciada?”
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Hanna Siniora, director do “Jerusalem Times” e intelectual palestiniano:

A catástrofe está na falência de uma classe dirigente; está na incapacidade demonstrada pelos líderes dos dois grupos – Hamas e al-Fatah – de saber passar de chefes de facções a dirigentes de um Estado em formação. A catástrofe está na cegueira de Israel e na incapacidade da comunidade internacional de apreender os pontos cruciais dos acontecimentos.

(…) “O que está a acontecer em Gaza entra num plano mais geral, destinado a desestabilizar o inteiro Médio Oriente. Há quem mire a saldar três guerras civis - no Iraque, na Palestina e no Líbano – para impor a própria hegemonia. O que acontece em Gaza é a resposta ao plano saudita…
A resposta de quem armou as milícias do Hamas, de quem as financiou e treinou. A resposta de quem, no verão passado, usou o Líbano como teatro de guerra e, hoje, repete-o com a Palestina. É a resposta de Teheran”

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Certamente que a tendência actual é atribuir todas as culpas a Israel. Facciosidades e que, por essa mesma razão, nunca são lúcidas.
Que lhe cabe culpas, ninguém o nega. A retirada de Gaza, por exemplo, deveria ter sido feita de concerto com Abu Mazen. Dar-lhe-ia autoridade; diminuiria o papel dos extremistas.
Se Hamas ganhou as eleições democraticamente, boicotá-los a priori e proclamando que nunca tratariam com terroristas, cometeram um perfeito erro político.
Ora, as opiniões são unânimes: é com o inimigo que se trata, seja ele quem for. Ademais, esse inimigo fora eleito democraticamente.
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É a ausência de uma resoluta acção política que mais tem prejudicado Israel.
Mas da parte dos palestinianos, alguma vez experimentaram pôr cobro à violência pela violência? Alguma vez pensaram renunciar ao sistemático ensino do ódio aos mais jovens?

A questão médio-oriental gangrenou. Instalou-se um clima de ódio total.
Cada uma das partes crê-se a única vítima legítima e, portanto, despreza ouvir as razões da parte inimiga.
As soluções para apagar esta tragédia apresentam-se como miragens, como uma missão quase impossível. Todavia, seria tão simples!
Primeiro, encurralar os ódios – elemento destruidor da razão e do bom senso - e mantê-los fechados a sete chaves, numa torre inexpugnável.
Segundo, iniciar, finalmente, um diálogo a pleno campo: concreto, realista, humano. Que cada um penetre nas razões do outro e as compreenda. Paralelamente, correr à paulada os profissionais da morte.
A paz começaria a aproximar-se até se tornar numa realidade sólida.
Nesta altura, poder-se-ia, então, desencurralar os ódios. Porém, abrindo as portas, nada se encontraria: em seu lugar, sentir-se-ia apenas o ar puro da vida.
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Também isto é uma miragem! Mas quem sabe!...
Alda M. Maia