“APETECE-ME DIZER BEM”
“Apetece-me dizer bem. E apetece-me dizer bem das coisas mais diversas, porque da política à economia, da educação à saúde, da investigação científica às empresas é possível que cada um de nós se cruze em Portugal com iniciativas, com projectos ou com meras rotinas que nos satisfazem e nos dão alguma orgulho de sermos portugueses”.
Este é o exórdio de um belíssimo artigo – “Apetece-me dizer bem” - de Eduardo Marçal Grilo publicado, ontem, no jornal “Público”.
A citação das realidades positivas, dignas de serem realçadas e merecedoras de total divulgação, é longa e abrange, praticamente, todos os sectores da vida nacional.
Mas essa divulgação, como muito bem esclarece o articulista, está completamente ausente dos nossos jornais.
****
Até que enfim! Era hora que alguém, com a espessura intelectual de Marçal Grilo, desse um forte abanão ao andaço comum: a insistente desestima de tudo o que se passa ou que existe neste abençoado País. Na Espanha, pelo contrário, tudo é digno de louvor!...
Nada surpreende, portanto, que uma não insignificante percentagem de portugueses – somente porque “lá se ganha mais” – preferiria unir-se ao país vizinho – eu diria submeter-se, pois unidos já o somos, na União Europeia.
Quando se nasceu e cresceu dentro de uma ditadura, onde o patrioteirismo foi uma espécie de droga que nos intoxicou - além de contribuir para um nosso total analfabetismo político, acrescento - saindo dessa intoxicação, quaisquer frases que a recordem provocam instintiva repulsa. Quero com isto dizer que fujo a sete pés de tal retórica balofa.
Não me eximo, todavia, de proclamar, alto e bom som, que gosto do País onde nasci e que sempre me aborreceu esta espécie de snobismo do bota-abaixo.
Aliás, não creio seja apenas snobismo. Nota-se, isso sim, aquela falta de dignidade e orgulho naturais e próprios da pertença etnográfica. Nota-se a falta de ambições, de coragem e do gosto de arriscar. É sempre mais cómodo pretender que a prosperidade caia do céu - o que, desgraçadamente, nunca acontece.
Ora, para quem assim pensa, é fatal que o maldizer seja característica peculiar.
Não se pondera, entretanto, que este pessimismo se reflecte na opinião externa e, sob certos aspectos, dá uma imagem desfocada do que somos, efectivamente.
O cliché de país pobre, atrasado, do eterno ocupante dos últimos lugares das classificações ou análises internacionais começa a ser, de certo modo, indigesto ou mesmo irritante.
Certamente que não estamos na lista dos países mais industrializados e mais evoluídos, situação que não ignoramos. No entanto, todas essas análises que nos relegam, sistematicamente, lá para o fundo da pauta, serão objectivas?
Conhecendo realidades de outros países, já de há muito que deixei de acreditar na completitude de tal objectividade.
Assim, também a mim apetece dizer bem; embora me apeteça, muito mais ainda, criticar os que dizem mal por sistema, pedanteria, ignorância ou psitacismo.
Alda M. Maia
“Apetece-me dizer bem. E apetece-me dizer bem das coisas mais diversas, porque da política à economia, da educação à saúde, da investigação científica às empresas é possível que cada um de nós se cruze em Portugal com iniciativas, com projectos ou com meras rotinas que nos satisfazem e nos dão alguma orgulho de sermos portugueses”.
Este é o exórdio de um belíssimo artigo – “Apetece-me dizer bem” - de Eduardo Marçal Grilo publicado, ontem, no jornal “Público”.
A citação das realidades positivas, dignas de serem realçadas e merecedoras de total divulgação, é longa e abrange, praticamente, todos os sectores da vida nacional.
Mas essa divulgação, como muito bem esclarece o articulista, está completamente ausente dos nossos jornais.
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Até que enfim! Era hora que alguém, com a espessura intelectual de Marçal Grilo, desse um forte abanão ao andaço comum: a insistente desestima de tudo o que se passa ou que existe neste abençoado País. Na Espanha, pelo contrário, tudo é digno de louvor!...
Nada surpreende, portanto, que uma não insignificante percentagem de portugueses – somente porque “lá se ganha mais” – preferiria unir-se ao país vizinho – eu diria submeter-se, pois unidos já o somos, na União Europeia.
Quando se nasceu e cresceu dentro de uma ditadura, onde o patrioteirismo foi uma espécie de droga que nos intoxicou - além de contribuir para um nosso total analfabetismo político, acrescento - saindo dessa intoxicação, quaisquer frases que a recordem provocam instintiva repulsa. Quero com isto dizer que fujo a sete pés de tal retórica balofa.
Não me eximo, todavia, de proclamar, alto e bom som, que gosto do País onde nasci e que sempre me aborreceu esta espécie de snobismo do bota-abaixo.
Aliás, não creio seja apenas snobismo. Nota-se, isso sim, aquela falta de dignidade e orgulho naturais e próprios da pertença etnográfica. Nota-se a falta de ambições, de coragem e do gosto de arriscar. É sempre mais cómodo pretender que a prosperidade caia do céu - o que, desgraçadamente, nunca acontece.
Ora, para quem assim pensa, é fatal que o maldizer seja característica peculiar.
Não se pondera, entretanto, que este pessimismo se reflecte na opinião externa e, sob certos aspectos, dá uma imagem desfocada do que somos, efectivamente.
O cliché de país pobre, atrasado, do eterno ocupante dos últimos lugares das classificações ou análises internacionais começa a ser, de certo modo, indigesto ou mesmo irritante.
Certamente que não estamos na lista dos países mais industrializados e mais evoluídos, situação que não ignoramos. No entanto, todas essas análises que nos relegam, sistematicamente, lá para o fundo da pauta, serão objectivas?
Conhecendo realidades de outros países, já de há muito que deixei de acreditar na completitude de tal objectividade.
Assim, também a mim apetece dizer bem; embora me apeteça, muito mais ainda, criticar os que dizem mal por sistema, pedanteria, ignorância ou psitacismo.
Alda M. Maia
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