terça-feira, abril 10, 2007

HOMOFOBIA

No princípio da semana passada, terça-feira, dia 3 de Abril, um rapaz de dezasseis anos, em Turim, lançou-se do quarto andar. Preferiu deixar de viver que continuar a suportar os insultos e desprezo de alguns colegas do Instituto Técnico (Instituto Someiller) que frequentava. Estes não conheciam outro modo de convivência senão humilhar e espezinhar a dignidade do pobre rapaz, chamando-lhe "gay" a todo o momento e troçando sobre o facto de usar óculos e um aparelho de correcção dental. Todavia, o que mais torturava o infeliz rapazinho era o insulto “gay”. Lamentou-se, manifestou a sua angústia, afirmando que não era verdade o que lhe chamavam, mas ninguém soube ir ao encontro, com verdadeiro interesse, desse estado de ânimo desesperado. A frequência das aulas, para ele, tornou-se um tormento. Pôs fim a este tormento, suicidando-se.

Deixou dois bilhetes em cima da mesa da cozinha. Um para a família: “
Perdoai-me se não fico convosco, mas já não consigo aguentar mais”.
No outro bilhete, desabafava: “
Não me sinto integrado, sinto que não me aceitam, sinto-me diverso”.

Descrevem-no como um rapaz gentil, educado, o melhor aluno da turma. Talvez estas características expliquem tanta malvadez da parte dos energúmenos que o aniquilaram.

O caso impressionou-me! Como é possível que um jovem de 16 anos decida roubar-se a vida somente porque se via esmagado por chalaças cruéis e contra as quais não sabia defender-se?!

Como é possível, também, que esta palavra gay – homossexual - nos tempos de hoje, ainda se apresente como uma marca de infâmia?!

A homofobia é bastante difusa, mesmo em pessoas com uma certa instrução, não fanáticas religiosamente, e que teriam o dever de olhar este aspecto das existências humanas com naturalidade. Os preconceitos, todavia, falam mais alto e, não raras vezes, traduzem-se em estupidez e crueldade.

Certamente que certos cortejos ou manifestações sobre “o orgulho gay” não ajudam a “aceitação” de quem vê essa diversidade com pruridos “moralistas”.
A minha observação não se refere ao facto de se manifestarem, pois têm todo o direito, mas pela falta de bom gosto que grande parte dos manifestantes, frequentemente, exterioriza. Em tudo se quer um mínimo de estilo. Pensaria o mesmo de heterossexuais onde esse estilo faltasse.

Bento XVI decretou que a homossexualidade é um acto contra a natureza. Haverá alguma coisa, neste mundo, que não faça parte da natureza? A pergunta fica no ar.
Mas há outra pergunta que sempre se me apresenta: por que razão as hierarquias religiosas, sobretudo os homens do Vaticano, em relação à homossexualidade, exprimem um fundamentalismo muito pouco adequado a um cristianismo feito de amor e compreensão?
Digo compreensão em vez de tolerância, pois entendo que tolerar é crer-se superior: o Cristianismo é amor, caridade, solidariedade, humildade; jamais uma doutrina majestática.

Eis intransigências, portanto, que não compreendo nem aceito. Ademais, não são raros os casos degradantes, a este respeito, que se verificam no ambiente clerical. Talvez a ausência de declaração de princípios, sobre esta matéria, fosse mais prudente e consentânea ao cristianismo acima referido.

Quanto a mim, em relação à situação de “tolerar”, sempre preferi usar o termo “respeito” por todas e quaisquer diversidades.
Alda M. Maia