BARBARA SPINELLI
Bárbara Spinelli é uma jornalista que escreve para um dos três principais jornais de referência italianos: “La Stampa”, publicado em Turim.
Vive em Paris, publicou vários livros e todos os seus editoriais ou análises integram-se no que de melhor se publica na imprensa italiana.
É filha de Altiero Spinelli, o grande impulsor da criação da União Europeia. Durante o período fascista, A. Spinelli esteve na prisão durante dez anos, precisamente pelas suas ideias políticas, mais seis anos de desterro (condenado “al confino”), na ilha Ventotene.
Quem anda pelo Parlamento Europeu, sabe perfeitamente o que significou o empenho e entusiasmo desta personagem. Se não sabe, deveria saber, e não se perdoa que tais ignorantes sejam eleitos parlamentares europeus.
Se não estou errada, existe na sede de Bruxelas uma sala dedicada a Altiero Spinelli.
Ontem, Bárbara Spinelli publicou um artigo sobre a eleição de Sarkozy e, obviamente, sobre a derrota de Ségolène: “L’Homo novus”. Acho-o interessante – aliás, como sempre – e, no que concerne Sarkozy, é uma análise que julgo diversa das múltiplas publicadas.
Traduzo apenas, portanto, a parte que analisa o Senhor Presidente Sarkozy.
*****
“l’HOMO NOVUS”
Barbara Spinelli
La Stampa – 07/05/2007
Os franceses escolheram o “homo novus”, Nicolas Sarkozy, com determinação. Deram-lhe uma maioria de 53 por cento; a Ségolène, 47%. O desejo de uma mudança radical foi mais possante que o medo suscitado pelo líder gaullista, mais vigoroso que o slogan que recomendava: «Tudo menos Sarkozy».
O sexto presidente é homo novus no sentido latino do termo. Na Roma antiga, era homo novus quem chegava da província, quem era de nobreza recente, quem aspirava a altos cargos e não tinha a formação necessária. Cícero foi homo novus e Catão o Censor (…)
Sarkozy não é de estirpe francesa – o pai chamava-se Pál Sárkozy e deixou a Hungria quando o Exército Vermelho ali implantou o comunismo.
Não frequentou sequer, quando jovem, a ENA, a mítica “Escola Nacional de Administração”, a qual é o salvo-conduto para as grandes ascensões políticas.
Em 2004, apoderou-se do controle do próprio partido, UMP, mas sofreu imediatamente um prolongado ostracismo. É um outsider e, como todos os outsider, cultiva ambições desmesuradas.
(…)
“O homo novus tem todos os defeitos do arrivista, mas possui um mérito. Vê a realidade com olhos desapiedados, tendo estudado minuciosamente os defeitos do poder a que ascendeu. Escrutina, melhor que os outros, o que se encravou na sua mecânica. Não foi casual que, durante o duelo televisivo, à sorridente Ségolène tivesse respondido que se ela sonhava ser “Presidente da França que funciona”, ele não: queria tornar-se “Presidente da França que não funciona”. Os outsider apercebem-se dos estalidos dos mais gloriosos monumentos.
A biografia de Sarkozy e o seu carácter explicam, não somente a extraordinária energia da campanha, mas a visão severa que ele tem do país. É uma sua convicção que a França deva olhar-se ao espelho e acabar, de uma vez para sempre, de contar a si mesma a história encantada. A «Grande Nation» já não é grande, mas no mundo dominado por gigantes como a América e China, entorpeceu, ficou paralisada.
Várias vezes afirmou que a França se arrisca a cair na irrelevância e «tornar-se-á num parque destinado a turistas» (…)
«A nossa maneira de fazer política tornou-se insípida, enquanto que a sociedade se manifesta cheia de ardor e impaciência» (…)
“É significativo que ambos os contendentes cessaram de crer na excepcionalidade francesa, metendo-se a procurar lumes em modelos estrangeiros: uma revolução copernicana na francocêntrica iconografia nacional. Os modelos são a Inglaterra mas, sobretudo, o Norte da Europa, onde reformas rigorosas se combinam com a preservação do estado social”.
Não faltam perigos nesta vitória e algumas acusações não são infundadas. Há em Sarkozy um enorme desejo de acertar contas, com tons vingativos. Verifica-se uma ânsia de usar politicamente a história, denegrir com rancoroso ressentimento a memória autocrítica inaugurada por Chirac: um “hábito de arrependimento” que o novo presidente quer abolir.
(…) O risco é o de suscitar o medo para que seja ele o bombeiro. Um risco exacerbado pela influência que Sarkozy exerce na imprensa e TV através de tantos editores que o sustêm. Ségolène e Bayrou denunciaram estas conivências. (...)
Bárbara Spinelli é uma jornalista que escreve para um dos três principais jornais de referência italianos: “La Stampa”, publicado em Turim.
Vive em Paris, publicou vários livros e todos os seus editoriais ou análises integram-se no que de melhor se publica na imprensa italiana.
É filha de Altiero Spinelli, o grande impulsor da criação da União Europeia. Durante o período fascista, A. Spinelli esteve na prisão durante dez anos, precisamente pelas suas ideias políticas, mais seis anos de desterro (condenado “al confino”), na ilha Ventotene.
Quem anda pelo Parlamento Europeu, sabe perfeitamente o que significou o empenho e entusiasmo desta personagem. Se não sabe, deveria saber, e não se perdoa que tais ignorantes sejam eleitos parlamentares europeus.
Se não estou errada, existe na sede de Bruxelas uma sala dedicada a Altiero Spinelli.
Ontem, Bárbara Spinelli publicou um artigo sobre a eleição de Sarkozy e, obviamente, sobre a derrota de Ségolène: “L’Homo novus”. Acho-o interessante – aliás, como sempre – e, no que concerne Sarkozy, é uma análise que julgo diversa das múltiplas publicadas.
Traduzo apenas, portanto, a parte que analisa o Senhor Presidente Sarkozy.
*****
“l’HOMO NOVUS”
Barbara Spinelli
La Stampa – 07/05/2007
Os franceses escolheram o “homo novus”, Nicolas Sarkozy, com determinação. Deram-lhe uma maioria de 53 por cento; a Ségolène, 47%. O desejo de uma mudança radical foi mais possante que o medo suscitado pelo líder gaullista, mais vigoroso que o slogan que recomendava: «Tudo menos Sarkozy».
O sexto presidente é homo novus no sentido latino do termo. Na Roma antiga, era homo novus quem chegava da província, quem era de nobreza recente, quem aspirava a altos cargos e não tinha a formação necessária. Cícero foi homo novus e Catão o Censor (…)
Sarkozy não é de estirpe francesa – o pai chamava-se Pál Sárkozy e deixou a Hungria quando o Exército Vermelho ali implantou o comunismo.
Não frequentou sequer, quando jovem, a ENA, a mítica “Escola Nacional de Administração”, a qual é o salvo-conduto para as grandes ascensões políticas.
Em 2004, apoderou-se do controle do próprio partido, UMP, mas sofreu imediatamente um prolongado ostracismo. É um outsider e, como todos os outsider, cultiva ambições desmesuradas.
(…)
“O homo novus tem todos os defeitos do arrivista, mas possui um mérito. Vê a realidade com olhos desapiedados, tendo estudado minuciosamente os defeitos do poder a que ascendeu. Escrutina, melhor que os outros, o que se encravou na sua mecânica. Não foi casual que, durante o duelo televisivo, à sorridente Ségolène tivesse respondido que se ela sonhava ser “Presidente da França que funciona”, ele não: queria tornar-se “Presidente da França que não funciona”. Os outsider apercebem-se dos estalidos dos mais gloriosos monumentos.
A biografia de Sarkozy e o seu carácter explicam, não somente a extraordinária energia da campanha, mas a visão severa que ele tem do país. É uma sua convicção que a França deva olhar-se ao espelho e acabar, de uma vez para sempre, de contar a si mesma a história encantada. A «Grande Nation» já não é grande, mas no mundo dominado por gigantes como a América e China, entorpeceu, ficou paralisada.
Várias vezes afirmou que a França se arrisca a cair na irrelevância e «tornar-se-á num parque destinado a turistas» (…)
«A nossa maneira de fazer política tornou-se insípida, enquanto que a sociedade se manifesta cheia de ardor e impaciência» (…)
“É significativo que ambos os contendentes cessaram de crer na excepcionalidade francesa, metendo-se a procurar lumes em modelos estrangeiros: uma revolução copernicana na francocêntrica iconografia nacional. Os modelos são a Inglaterra mas, sobretudo, o Norte da Europa, onde reformas rigorosas se combinam com a preservação do estado social”.
Não faltam perigos nesta vitória e algumas acusações não são infundadas. Há em Sarkozy um enorme desejo de acertar contas, com tons vingativos. Verifica-se uma ânsia de usar politicamente a história, denegrir com rancoroso ressentimento a memória autocrítica inaugurada por Chirac: um “hábito de arrependimento” que o novo presidente quer abolir.
(…) O risco é o de suscitar o medo para que seja ele o bombeiro. Um risco exacerbado pela influência que Sarkozy exerce na imprensa e TV através de tantos editores que o sustêm. Ségolène e Bayrou denunciaram estas conivências. (...)
Barbara Spinelli
*****
7 Comments:
Humm, não sei se os Franceses fizeram a melhor escolha!
Este Sarkozy tem um perfil muito outsider como se diz no artigo e, à distância, é essa a sensação com que se fica!
A França está transformada num país muito complicado e mais difícil será se se tentar resolver os imensos problemas de exclusão social/étnica com que se debate, à força bruta.
Deixei comentário no post sobre radioamadores.
Ok quanto à sua intervenção no blogdosradioamadores.blogspot.com
Um abraço muito amigo
António
Ciao, António!
Li o seu comentário no blogue dos radioamadores.
Fiquei muito impressionada com a morte do Cristo, como bem compreendeu.
Quanto a Mr. le Président Sarkozy, é fácil adivinhar a minha preferência: Ségolène!
As mulheres francesas, decididamente, são invejosas: preferiram o Sarkó... um bocado provincianotas!
Quiseram o homem da providência, que se arranjem. Só espero que não faça ondas dentro da UE.
Um beijinho à Zaida
Um grande abraço
Alda
Ilustre Colega CT1CIR
E completando o que tinha escrito antes:
Não tinha lido o seu comentário no post onde falei do QRT definitivo de G0LLH.
Obrigada pela sua apreciação... sobre a foto de há quase 20 anos. Estamos todos bonitinhos!...
Um beijo à Carolina
Alda - I1YG
Sabe que estou à espera que me concedam o meu velho indicativo CT1YG?
Estou a ver que tenho que passar a corujar os 80 metros com mais assiduidade para ver se retomo velhas amizades etéreas.
Nos anos 80 fui um campeão do DX e dos concursos internacionais nos 20 metros principalmente.
Tenho diplomas com fartura desse período (www.qsl.net/ct1cir ainda cá anda pela Net, já um bocadote desactualizado.).
Um beijinho muito amigo
António
Fui ler o www.qsl.net/CT1CIR (não conhecia este site). Um rico currículo! Parabéns; vejo que que não descurou nenhuma variante do radioamadorismo.
Alguma vez se abalançou a trabalhar o 5BWAZ? E o 5BDXCC?
Tive a notícia, esta manhã, que me "restituirão" o meu primeiro e velho indicativo CT1YG. Aleluia!
Fiquei contentíssima; devo pensar, agora, em montar a estação... mas sinto-me tão enferrujada!
Um abraço a toda a Família
Alda
Viva, Alda
Muitos parabéns pela retoma do seu antgo indicativo CT1YG
Espero ouvi-la um dia destes. Ontem estive a tentar entrar num pile-up nos 2o m, era uma estação das Nações Unidas, os tubarões itlianos, alemães e americanos eram mais que muitos, naa feito. O meu AL das ondas decamétricas, válvulas, um Yaesu, deveria levar a potência de emissão para os 2 kw mas parece-me bem que está mais enferrujado que o dono. Quano a 5BWAZ é uma ideia. Pode ser que qualquer dia me decida a pedir a reforma, que acho qe já tenho direito a ela. Então aí vou eu!...
Um dia destes vou apresentar um post sobre a minha estação de radioamador. Mas estou indeciso. Não e parece pelas tentativas que já fiz de falar no assunto, que as pessoas em geral se entusiasmem com estes assuntos.
Talvez sejauma quesão e mera ignorância, não acha?
Um beijinho muito amigo aqui de nósos dois, e e a Zaida. A minha xyl anda muito arredia das coisas da Net. Ist para não falar do radioamadorismo, que ela sempre disse que era o seu maior rival. eheheh
António
Ena, tantas gralhas...
Espero que tenha conseguido, por umas tirar as outras.
Um abraço
António
Enviar um comentário
<< Home