E ASSIM VAI A EUROPA!
Falando-se da Europa,
sobretudo das próximas eleições para o Parlamento Europeu, a primeiro e único
pensamento que se me impõe é um convite a todos os nossos candidatos: Senhoras
e Senhores, por favor, dizei qualquer coisa sobre a UE, quais os vossos
programas e iniciativas a desenvolver no cargo que ocupareis, caso os eleitores
vos gratifiquem com o seu voto.
No jornal Público de
ontem, pudemos ler um óptimo serviço de Telma Alves sobre o desinteresse ou
indiferença dos jovens pelas eleições europeias, registando várias opiniões
sobre este fenómeno.
Vejamos, por exemplo,
o que diz Bruno Ferreira Costa, autor do livro “A Abstenção nas Eleições para o Parlamento Europeu”: “É curioso que os jovens sejam os que mais se
abstém, porque, na verdade, são eles também os que mais directamente beneficiam
da cidadania europeia através de programas como o Erasmus, ou mesmo da livre
circulação”.
Mas algum dos nossos
ilustres candidatos se apercebeu ou deu a devida atenção a
este desinteresse, que considero triste e alarmante, e se decidiu enfrentá-lo
com tenacidade, envolvendo os demais partidos?
Alguém, a começar
pelos cabeças de lista, tomou a peito elucidar, clarificando com exemplos
pertinentes, o que poderia mudar nas instituições europeias em sentido
positivo, se os membros do Parlamento pelejassem, denodadamente, por causas e
métodos que reconstruíssem uma Europa que seja a casa de todos: verdadeiramente
unida, solidária e menos mercantilista?
O que é que temos
visto até hoje, no panorama português e até mesmo noutros Países-Membros da
União?
Até hoje e no que
concerne Portugal (mas na Itália o caso é idêntico), temos assistido a enunciados
estéreis, irritantes, monótonos e sempre girando à volta das querelas internas:
acusações recíprocas sobre “o que nós fazemos e vós não fizestes”; “o que nós
fizemos e vós não fazeis”.
Afora isto, em todos
os quadrantes políticos ainda não nos foi dado conhecer nada, absolutamente
nada acerca do que os candidatos entendem como empenho pessoal na política
europeia.
A maioria dos
cidadãos portugueses continua na ignorância de como todo o maquinismo europeu
funciona. Ora, não creio que seja difícil, usando uma linguagem simples e
acessível, elucidá-la a este respeito.
Paralelamente, procurar
infundir nos eleitores, sempre esclarecendo, boas e claras razões que evitem
abstenções elevadas.
Nos resultados das
próximas eleições europeias, o bicho-papão (sob variadas vestes) que assusta a
generalidade dos observadores, isto é, os diversos populismos que tudo condenam
e nada propõem; os eurocépticos que tudo negam; os antieuropeus que privilegiam
um conservadorismo estático; o recrudescimento de nacionalismos egoístas e
xenófobos: oxalá que todos estes movimentos representem uma minoria
insignificante.
Esperemos também que
o Parlamento de Estrasburgo inicie uma nova era e, nas suas três funções principais,
seja o Parlamento a ter a última palavra ou, pelo menos, uma posição forte, sobretudo
em relação ao Conselho Europeu no que este, na verdade, significa: a voz predominante dos mais fortes
economicamente.
E esta voz predominante,
o que ninguém ignora, conduziu-nos aonde nunca desejaríamos e deveríamos ter
chegado.
Mas assim vai a Europa
e é deprimente vê-la classificada como uma “Europa em estado confusional”. Ou,
então, ler títulos deste género: “A Europa dissolve-se e ninguém se preocupa”.
“O
grande desafio, cultural acima de tudo, sobre como unir participação
democrática e cidadania europeia a desenvolvimento, inovação, potência
técnico-económica, capacidade e eficácia decisória, foi diligentemente evitado ou submerso em retóricas e burocratismos” - Massimo Cacciari (o sublinhado é meu)
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