TEMA INEVITÁVEL
E não poderia ser outro
senão uma sentença – definitiva, finalmente! - do Supremo Tribunal de Justiça
italiano sobre o sujeito Berlusconi, confirmando as sentenças de primeira e
segunda instância dos tribunais de Milão: fraude fiscal.
“É
necessário considerar o papel de Berlusconi, de direcção e de planeador, desde
os primórdios do grupo, de uma actividade delituosa, destinada a uma científica
e sistemática evasão de importância excepcional. Deve também ser considerada a particular capacidade para delinquir,
demonstrada na execução do projecto que consiste em arquitectar um complexo
mecanismo fraudulento, ramificado em
infinitos paraísos fiscais” (…) - extracto da sentença de segunda instância. O
sublinhado é meu.
Três graus de juízo
dilatados no tempo pelos infinitos truques consentidos por lei, a fim de cobrir
o tempo de viagem da salvadora prescrição.
Embora este tempo
fosse encurtado por uma das famosas leis ad
personam - leis salvadoras de quem tem a “particular capacidade para
delinquir”, pois foi essa a primeira razão por que o homem entrou em política e
fez aprovar, apenas obteve o poder. Mas desta vez não funcionaram.
Em toda a algazarra à
volta deste caso, há alguns aspectos que me desconcertam.
Em primeiro lugar, não
compreendo, embora a notícia fosse relevante, o estrondo provocado pelos meios
de informação, sobretudo no que concerne o espaço consentido às externações sem
limites do condenado Berlusconi, nomeadamente na TV de Estado, a RAI. Esta deveria
ter ignorado certas ostentações de arrogância. Foi condenado, virem página e
não continuem a dar-lhe o relevo que ele persiste em impor ao país. Já basta o
martelamento dos canais televisivos de que é proprietário.
Praticamente a redes
unificadas, foi transmitido o vídeo onde se apresenta com o cenário e a
solenidade de grande chefe que envia a sua mensagem ao povo. Enaltece a sua
obra “pela liberdade e contra os comunistas”. Proclama-se a grande vítima de “uma parte da magistratura irresponsável, uma
variante incontrolável, com magistrados que não são eleitos pelo povo e que se
apresenta como um verdadeiro poder do Estado que condiciona permanentemente a
vida política”.
E cá chegamos ao
ponto fulcral do pensamento berlusconiano e que continua a proclamar aos quatro
ventos: o povo é soberano; eu fui eleito por este povo, logo, não se atrevam a
julgar-me “estes funcionários do Estado
que nunca foram eleitos e chegaram à magistratura através de um concurso”.
A coisa mais triste é
ver os seus correligionários, eleitos no Parlamento, a repetir esta cretinice:
imperdoável em quem se ocupa da coisa pública, pois é uma total negação da
separação dos poderes do Estado.
Absoluta ignorância do
que isto significa em democracia ou má-fé? Escolho a má-fé, obviamente.
Estes mesmos
correligionários – digamos súbditos, que está mais perto da verdade, visto que
quem manda e tudo decide é sempre Sílvio – andam muito atarefados para que o
Presidente da República lhe conceda o perdão ou lhe comute a pena de prisão em
pena pecuniária, etc., etc. Enfim, tudo deve ser tentado a fim de que o patrão
continue a sua carreira política e de impunidade. Ah! No caso que deva
interromper essa carreira, foi já indigitada a filha mais velha como sucessora
a chefe do partido. Claro está que a comédia deve continuar!
Itália, acorda!
E para terminar,
adopto o final de um artigo do director do quotidiano alemão Die Welt, Thomas
Schmid, publicado sábado passado, no jornal La Repubblica: “Os italianos merecem melhor”
(…) Admito-o, estou desconcertado e confuso.
Sobre Berlusconi foi dito tudo, e ele ainda está lá. Eu, como europeu que não
renuncia a amar a Itália, posso apenas permitir-me exprimir, aqui de Berlim, um
humilde auspício: libertai-vos, finalmente, dele! Mereceis melhor do que voltar
a ser reféns de um egocêntrico. Felicidades!
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