segunda-feira, julho 08, 2013

E COMO SE DIZIA…

A arrogância de um e os ziguezagues do outro levaram os dois mocinhos a engalfinharem-se verbalmente: - Não quero jogar mais contigo, e é irrevogável – diz o que desejaria mais poder.
Responde o que tem o bastão do comando: - Ponderarei sobre esse teu capricho (mais um a estragar-me tudo e lá se vão as minhas oportunidades de ficar na fotografia ao lado dos grandes da Europa!)

Mas fizeram as pazes. O que comanda e o “mocinho irrevogável” falaram, tornaram a falar e este último obteve mesmo o cargo de vice-primeiro-ministro, superintenderá na economia e será ele a dizer à troika, com o desassombro de um irrevogável, o que deve ser dito.
Tácticazinhas políticas? Mas que entra a nobre arte da política em tudo isto?! Tácticas de quem não sabe o que significa decência política, nada mais.

Entretanto, mais um atropelo a esta língua lusitana – lusitana, da Terra Lusa, obviamente.
Assim como oficializaram e impuseram tantos dislates neste campo, registemos mais um, pois não esqueçamos que foi concretizado por um eleito do povo: o Dr. Paulo Portas, o menino espertalhão mui revogável.

Irrevogável: que não é revogável; que não se pode anular; definitivo.
Daqui para o futuro, este vocábulo terá uma segundo sentido: no caso em que haja contratações, ajustes, a decisão apresentada como irrevogável declara-se sem efeito. 
Aprenderam a lição?

Achei muito interessante a entrevista de ontem, no jornal Público, ao político Valente de Oliveira.
(…) O escol gerado pelos partidos não traduz uma nata, uma camada preparada, conhecedora, responsável. Corresponde mais a uma lógica das juventudes de há 20 anos. Isto passa-se em todos os partidos, porque a lógica é geral. Temos de rever profundamente a maneira como é segregado o escol dentro dos partidos, que é o que chega à governação. Não chega ter sentido politiqueiro, é preciso estar preparado.

E os artigos nos diversos jornais sobre um “fosso que se alarga entre povos e governos” multiplicam-se.
Cito o artigo de Piero Ignazi - L’Espresso de 05/ 07/2013: “Poder e cidadãos: tudo muda”
(…) O que emerge, em formas diversas e em várias partes do mundo, é uma subtil e corrosiva crítica aos fundamentos do nosso sistema, seja por manifesta incapacidade dos políticos, seja por deslegitimação dos princípios de representatividade e dos mandatos a governar.
Se os líderes políticos não “escutam” e não “respondem”, o fosso entre governantes e governados alargar-se-á cada vez mais.

É difícil não concordar com todos estas opiniões. Os exemplos quase diários comprovam-no.


Em todos os nossos canais televisivos, o mare magnum das análises da semana passada (e continuarão) sobre as performances do ministro das finanças demissionário, o Primeiro-Ministro e o Senhor Portas não ofereceu margem para opiniões contraditórias. Quase todas confluíam para uma nota comum: irresponsabilidade. Acrescentemos impreparação e despudor. E fiquemos por aqui.