TENTEI, VENCI,
COMANDO
É mais uma versão do
“quero, posso e mando” interpretada pelos modernos candidatos à vida política: sou
eleito (imediatamente se instala a ideia de pertença a uma categoria social
privilegiada); tento chegar aos cargos executivos; venço as respectivas etapas
através do voto, logo, sou eu quem comanda.
Porém, este sentido
de “comando”, praticamente é vetado pelas regras democráticas. Deve
esconder-se, mimetizar-se no vocabulário institucional.
Ninguém comanda, que
heresia!
O máximo órgão
executivo, o Governo, por exemplo, administra, executa as leis emanadas do
Parlamento, providencia a fim de que os problemas do país sejam resolvidos, mas
tudo com a maior transparência e sempre, sempre explicando e clarificando,
honesta e irrefutavelmente, as decisões que exijam sacrifícios ou foram
impostas por circunstâncias adversas.
Uma concepção
perfeita de governo, mas é respeitada e posta em prática com afã e no melhor
modo humanamente possível?
Ninguém é ingénuo até
esse ponto. Bem sabemos que nada disto é real. O que vemos diariamente é, antes
de mais, o tom arrogante destes eleitos do povo. Falam do alto do
poder e a humildade, que é própria da pessoa de elevada formação, simplesmente,
não existe.
Assim, e vamos ao
caso concreto, vejo um primeiro-ministro inculto e politicamente desastroso a
espelhar, na sua infinita impreparação, o que acima pretendo demonstrar: “elegeram-me,
comando e não devo dar contas a ninguém”.
Administrar a coisa
pública responsável e conscienciosamente? Não sabe o que isso significa, pois
nunca o aprendeu: nem na escola da vida e muito menos politicamente.
O homem e o seu
governo fazem e desfazem. Enviam mensagens sem qualquer conteúdo que dê
esperanças. O país afunda, mas ninguém sabe aonde o querem conduzir.
Tudo isto me veio à
ideia, ouvindo uma opinião do Sr. Marques Mendes. Diz este insigne comentador
televisivo que o Governo poderá cair pela acção do Tribunal Constitucional e
não por qualquer outro motivo. O Governo concluirá que não poderá governar
nestas condições e demitir-se-á.
Não sei se entendi
bem, mas a que condições se refere? Ainda estamos numa democracia onde a
Constituição é guia fundamental e deve ser respeitada e tutelada ou qualquer
governo pode ignorá-la a seu bel-prazer? A este ponto se chegou?!
*****
O inefável Berlusconi
foi condenado a sete anos de prisão e interdição perpétuo de exercer cargos
públicos. A notícia da sentença foi amplamente difundida. Já se esperava e é
apenas mais uma.
A minha curiosidade,
porém, concentrou-se nas reacções dos acólitos.
Eis a mais expressiva,
além de muitas outras igualmente aberrantes, sobre o conceito que aquela gente alimenta
sobre os divinos eleitos: “Esta sentença
é um insulto aos 10 milhões de eleitores que elegeram Berlusconi”.
O homem entrou na
política, foi eleito, logo, tornou-se intocável. Por extensão, quem lhe deu o
voto é insultado por um qualquer juiz que o condene. Como se atrevem estes
juízes “cretinos e incapazes” (expressão da pitonisa dos berlusconistas, Daniela Santanchè) a julgar um eleito por 10
milhões de italianos?
O politicamente
correcto levar-me-ia a dizer que respeito as opiniões de qualquer eleitor. Todavia,
confesso-me politicamente incorrecta: quem vota Berlusconi não me merece o
mínimo respeito, e as razões são óbvias.
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