MADONNA MERKEL
OS CAMINHOS DE BERLIM
Li com curiosidade,
mas perplexa, a visita do presidente da câmara de Florença, Matteo Renzi, a
Angela Merkel no passado dia 11 deste mês.
Esclareço que é bem
nota a ambição de Renzi a ultrapassar tudo e todos e chegar aos vértices
máximos da política italiana: é incansável nas entrevistas quase quotidianas e apreciações
discutíveis sobre o próprio partido, o Partido Democrático que guia o actual
governo. Acrescento também que goza de uma apreciável popularidade.
Como chefe executivo
de uma autarquia local, que fins pretendeu alcançar com a romagem a Berlim?
Outra pergunta (embora admita que haja uma explicação lógica): a que propósito
a Senhora Merkel achou oportuna uma troca de impressões, numa visita privada, “sobre a política europeia” com o
presidente da câmara de Florença?
É certo que sobre tal
visita informou antecipadamente o primeiro-ministro italiano, mas é
politicamente correcto imiscuir-se nas intrigas partidárias de outro país,
conhecendo a precariedade do governo de Enrico Letta?
As críticas a Renzi
não se fizeram esperar e este, sensatamente, anulou outras duas visitas em
programa: a François Hollande e David Cameron!...
Volto ao princípio e
concentro-me na minha perplexidade, melhor, na desconfortante impressão que
provo, quando vejo os caminhos de Berlim constituírem metas de peregrinos que
buscam, perante Madonna Merkel, a
consagração política ou aplausos à gestão dos governos que representam.
Onde armazenaram o
equilíbrio e o bom senso? Por que não se procede com um sentido de
responsabilidade, jamais ausente, mas em pé de igualdade no que concerne a
dignidade do próprio país?
A Alemanha é um país
potente? Não esqueçamos que o é no campo económico, nada mais. Os alemães têm o
mesmo grau de dignidade que tem qualquer outro povo soberano: é nesta base que assentam
todas as relações entre Estados.
Há quem afirme que
são os países nórdicos a suportar os desmandos financeiros dos países de Sul.
Informaram-se bem acerca das quotas que cada um deve desembolsar?
Certamente que a
quota da Alemanha é, proporcionalmente, a mais elevada. Mas quanto ganhou com a
moeda única e com sua intransigência e apologia da austeridade?
Vejamos o que escreveu
Barbara Spinelli em 19/06/2013: (…) Segundo
o relatório do FMI, à Europa interessava proteger mais os credores que
esconjurar contágios: prolongar as decisões “concedia o tempo necessário aos
bancos para retirar capitais da periferia da zona euro”. O Banco dos Regulamentos Internacionais cita o caso alemão: 270 mil milhões de euros abandonaram, em 2010 / 2011, cinco países
em crise (Grécia, Irlanda, Portugal, Itália, Espanha).
Relembrar outros
pormenores sobre as vantagens colhidas pela Alemanha e apoiantes nórdicos não é
necessário, pois são bem conhecidos.
Transcrevo excertos de
um artigo de Peter Shneider - escritor alemão e colunista do jornal La
Repubblica - sobre a história de Angela Merkel, descrevendo-a como uma hábil
oportunista.
É
um mistério ainda não esclarecido como Angela Merkel foi capaz de varrer todos
os possíveis concorrentes do seu partido: Christan Wulff, Friederich Merz,
Jürgen Rüttgers, para citar alguns.
(…)
“Quando, na Primavera de 2010, no
horizonte se delineava a crise da Grécia, Angela Merkel – com um olho às
eleições iminentes em Nordrhein-Westfalen – declarou que os alemães não
desembolsariam um cêntimo para aquele país. Porém, quando alguns meses depois,
decidiu aderir ao escudo fiscal, os custos para esta operação tinham já
aumentado. No entanto, a Chanceler nunca explicou aos seus concidadãos que, se
tivesse concedido na altura os milhares de milhões à Grécia, teria prejudicado
os bancos alemães e franceses, fortes especuladores dos arriscadíssimos títulos
de Estado helénicos.
Temporizando
e desenvolvendo tácticas sempre novas, Angela Merkel, entretanto, induziu a
maioria dos seus concidadãos a pensar que eram eles os únicos a pagar as
dívidas da Itália, da Espanha, da Grécia e de todos os outros Estados em crise.
Infelizmente,
como líder de um dos maiores Estados Europeus, Angela Merkel não parece ser a
pessoa certa no lugar certo. Uma história bem diversa da de Gerhard Schröder… “
Concordo plenamente.
Ah! Para finalizar:
parece que pode ainda contar com o “bom aluno português”, um jota que ascendeu
a primeiro-ministro de um desgraçado país que não sabe escolher administradores
que o dignifiquem.
Revê-lo-emos, então,
em pose de menino bem comportado ao lado da regedora da UE.
E que Deus se
amerceie, novamente, deste país multi-centenário, que, embora velho, continua a
não ter juízo.
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