SITUAÇÃO POLÍTICA:
HAVERÁ ANALISADORES
OMISSOS?
Refiro-me ao
variegado número de analistas, observadores, comentadores que, nestas duas últimas
semanas, inundaram os nossos meios de comunicação. Paralelamente a estes
comentadores, na sua maior parte observadores neutrais, também houve,
obviamente, as opiniões da classe política, sempre empenhada a demonstrar a sua
perícia em contornar os problemas. É característica normal e não surpreende; quero ressalvar, todavia, alguns políticos da velha guarda.
Reformulo a pergunta:
ainda haverá por aí alguém que não foi convidado e, portanto, não teve
oportunidade de exprimir - com
originalidade, sageza, competência e profundo conhecimento das realidades do
país - ideias novas que conduzam a soluções ou iniciativas credivelmente
praticáveis em todos os sectores da vida nacional em crise? Ideias que os
cidadãos possam compreender e assimilar, predispondo-os a aceitá-las, mesmo se
exigem renúncias e sacrifícios?
Neste momento de
instabilidade governativa, devem efectuar-se eleições ou devemos permanecer à
espera de Godot?
Não sou partidária de
eleições imediatas. O motivo é mais pessoal que baseado em razões já apontadas
por diversos personagens, incluindo a recente mensagem ao país do Presidente da
República.
Eis esse motivo: no caso de haver
eleições já no próximo Outono, eu não saberia a quem dar o meu voto. Penso e
repenso, avalio e torno a avaliar, mas as minhas perplexidades continuam. Isto
sucede-me pela primeira vez e, confesso, é desconfortante. Mas aguardemos.
Cultivo uma profunda
esperança: que um vírus benigno, identificado como dignidade, atacasse Pedro P.
Coelho e este, por incapacidade do exercício de funções, apresentasse a sua
demissão de primeiro-ministro do Governo português. Mas lá por aquelas paragens,
essa espécie de vírus é inexistente. E a “turbulência no governo português” -
assim descrita a situação nos noticiários italianos - paira sobre as nossas
cabeças e sem a certeza de ventos que a afastem. Até quando?
Por último, permito-me
expor um alvitre: se tivesse oportunidade de falar directamente com António
José Seguro, o secretário-geral do PS, e pudesse exprimir-me com uma delicada
familiaridade, colheria a ocasião para lhe solicitar tons menos tribunícios ou
declamatórios, dando a preferência a uma comunicação mais espontânea e natural.
Quando vejo o ar
solene que empresta às suas palavras, imediatamente me vem à ideia uma típica
expressão italiana: Parla come mangi
– fala como comes.
Não por que use uma
linguagem abstrusa ou rebuscada. Simplesmente, é aquela pomposidade, mesmo nos
enunciados mais simples, que me desagrada numa pessoa que, em fim de contas, me
é simpática.
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Falemos agora de um
evento cujo ribombo ultrapassou as fronteiras italianas.
No Governo italiano
há uma ministra – Ministra da Integração – oriunda da República Democrática do
Congo. É a Dra. Cécile Kyenge, médica oftalmologista, licenciada numa
universidade de Roma. Quando, como membro do governo, pela primeira vez se
encontrou com a imprensa, asseriu com toda a naturalidade: Eu não sou de cor; eu sou negra e declaro-o com orgulho.
Um senhor da Liga Norte
chamado Roberto Calderoli e vice-presidente do Senado, há dias, em comício
público, referiu-se à Dra. Cécile Kyenge nestes termos: Consolo-me quando navego na Internet e vejo as fotografias do Governo.
Amo os animais, ursos e lobos como já sabem, mas quando vejo as imagens da
Kyenge, não posso deixar de pensar, embora não diga que o seja, nas semelhanças
com um orangotango.
Vozes indignadas exigiram
a sua imediata demissão de vice-presidente do Senado. Mas o digníssimo Calderoli
não se descompôs: Foi apenas uma piada
simpática. Seria um óptimo ministro… mas no Congo.
Demitir-me?
Nem sequer penso nisso.
Não fiquei
surpreendida com este triste episódio da mais abjecta grosseria e racismo. É
muito comum nos simpatizantes e filiados da Liga Norte. Ademais, a ministra
Kyenge já tinha sido vítima de outras apreciações igualmente ultrajantes, mas
sempre reagiu com muito civismo.
Notícias da última
hora informam que Calderoli telefonou, pedindo-lhe desculpa. Um acto sem
significado. Que se demita e não continue a enxovalhar o Senado da República Italiana.
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