segunda-feira, julho 25, 2011

TAMBÉM TU, NORUEGA!

Ainda há poucos anos, os países nórdicos eram vistos, e justamente, como perfeitos modelos da social-democracia e, reforçando melhor esta ideia, países detentores de democracias sólidas, integralmente cumpridas.

A Noruega é apontada como “um dos países mais evoluídos do mundo e o mais pacífico. Foi designada, durante anos, como a nação com o mais um alto nível de vida”.

Quando chegou o chefe da criação, Deus mexeu nos bolsos e encontrou uma mão-cheia de grãozinhos de pó. Revirou os bolsos, esfregou a ponta dos dedos, o pó caiu e fez a Noruega: mares e montes, ilhas e fiordes. Nenhum lugar do mundo é assim tão belo e tão civilizado”.

Os noruegueses olham a natureza como a coisa mais preciosa e, mais que respeitá-la, sentem-se parte dela.
O petróleo, em qualquer parte do mundo, coincide com a tirania e o obscurantismo. Visto que o petróleo acaba, os noruegueses têm providenciado para que haja uma grande reserva destinada às gerações futuras. Seleccionaram os seus parceiros económicos, excluindo ditadores, violadores dos direitos humanos e corruptos.
Hoje, a Noruega resiste às pressões conjuntas dos Estados Unidos, Canadá e Rússia sobre o petróleo no mar de Barents, a fim de defender um modo de extracção não destrutivo e o futuro da pesca.

Recordo-me dos cemitérios noruegueses que se assemelham a jardins e chamam-se assim mesmo. Nós escrevemos as nossas recordações e saudações nos túmulos dos mortos. Lá, são os mortos que saúdam, quem ficou, com três monossílabos: Takk for alt – obrigado por tudo.
Transcrição de excertos de um belíssimo artigo de Adriano Sofri (La Repubblica, 23/07/2011).

Seria inimaginável, portanto, que este civilizadíssimo país pudesse ter parturido um dos piores monstros de todos os tempos. Mas sucedeu e as autoridades de segurança noruegueses já tinham avisado, em Fevereiro passado, sobre o aumento das actividades da extrema-direita.

O que mais me horrorizou foi a frieza, ódio e crueldade como aquele monstro disparou contra os infelizes jovens reunidos na ilha de Utoya.
A carnificina durou trinta minutos, assumindo o aspecto de uma execução nos moldes mais cruéis e inumanos: “Malditos, sereis todos mortos, pois não tendes o direito de estar no mundo”.
Recusei-me a ver fotografias e quaisquer outras descrições daquela imane tragédia. Bastaram-me os primeiros artigos.

O populismo da direita norueguesa, representado pelo “Partido do Progresso” com 20% de consensos, tem sido o melhor veículo para inculcar ideias racistas, anti-islâmicas e anti-imigrantes. Porém, neste caso, o fenómeno vai muito além do populismo. Desenvolveram-se autênticas seitas que se inspiram nas piores doutrinas nazis. Não somente envenenam a Noruega como os demais países do centro e norte da Europa. E não é um fenómeno actual nem desconhecido!

Foi pena que não se tivesse dado maior atenção aos delírios que correm nas redes sociais e aos delirantes, genuínos psicopatas, que os emitem.
Oxalá que, a partir de hoje, surja uma vigilância atenta, contínua e interventiva, caso a segurança das populações o imponha.

A União Europeia apenas se tem preocupado com o castigo sobre défices, dívidas soberanas e quejandos. Dentro do Parlamento Europeu, ainda não me apercebi de quaisquer campanhas contra a deriva das ideias democráticas, do populismo que infecta tantos governos da União, do fascismo que se instalou na Hungria.
Apenas nos apercebemos de dirigentes políticos que valem pouco; de egoísmos desmedidos; de mediocridades e pequenez na assunção de posições, o que tem evitado que a UE seja um baluarte invejável contra crises normais ou provocadas e infecções democráticas.

Na cimeira de quinta-feira passada, chamou fortemente a minha atenção a sugestão do primeiro-ministro finlandês. Como garantia das novas ajudas à Grécia, propôs os bens do Estado Grego: toda a Acrópole – Pártenon incluído, obviamente - e algumas ilhas.
Parece que a ideia partiu dos “Verdadeiros Finlandeses”, partido da direita populistas (sempre esta gente!) premiado nas eleições recentes. É o caso de relembrar que a mão dos imbecis está sempre grávida.

Que pediriam ao Estado português endividado? Eu sugeriria a Madeira, juntamente com o soba que a governa. Apenas com uma condição: a ilha fica como garantia, sim, senhor, mas tornará para trás, direitinha e revestida com o espírito civilizado que caracteriza a maioria dos povos nórdicos (os populistas são minoria).
Quanto ao soba, oferecemo-lo como um brinde aos compadres “Verdadeiros Finlandeses”, visto que supera, de longe, todas e quaisquer afinidades com aqueles indivíduos e, portanto, ainda lhes pode ensinar muito, sobretudo no que concerne despautérios.