segunda-feira, maio 30, 2011

O QUE É EXCESSIVO NAUSEIA

Decidi anular a atenção e interesse pelo andamento da nossa campanha eleitoral, abstraindo-me de tomar conhecimento do que diz este ou aquele, tal a náusea que me provoca o quase tema único dos partidos em campo: acusações recíprocas e exclusões sobre a formação do Governo.

Ouvi-los? Para quê? São irritantes. Acaso se preocupam - como as pessoas sérias, preparadas e experientes aconselham - a expender, neste período de campanha, um esforço de informar, informar e informar os cidadãos da real situação do país, das medidas claras e ponderadas que entendem pôr em prática, mesmo que sejam dolorosas para todos?

Por que não dotar-se de coragem e falarem sem rodeios nem floreados bem redigidos sobre quaisquer medidas drásticas que serão inevitáveis?
Ainda não se aperceberam que o povo não é estúpido e sabe distinguir os discursos de pura propaganda eleitoral da boa comunicação de um político sério e responsável?

O bom senso e a inteligência não lhes sugerem que o péssimo hábito das improvisações boomerang necessitam de reparações ainda mais desastradas – “aqui o digo, aqui o nego”, “não foi isso o que desejei exprimir” e outras similares - lhes roubam credibilidade?

É desconfortante termos de testemunhar tanta irresponsabilidade, superficialidade, tácticas políticas vãs e inadequadas para o momento que se aproxima de enormes dificuldades económicas e financeiras que teremos de enfrentar e resolver.
Não me repugnaria, e não a creio anormal, uma grande união das forças políticas até que a crise fosse sanada. Porém, vade retro uma ideia símil!
Em que mundo vive esta gente a quem deveremos dar o voto?

São verdadeiramente políticos, isto é, homens (ou senhoras) de Estado e agentes com o propósito de bem governar ou gente ambiciosa a quem nada mais preocupa senão os interesses partidários e o carreirismo?

É um deserto quase total de políticos de uma certa espessura, quando tanto necessitaríamos – sobretudo agora - de figuras clarividentes e de uma verticalidade administrativa inflexível, embora sempre atentas aos problemas sociais. Mas um símile dirigente, Ai Deus e u é?

O Primeiro-Ministro é o bombo de festa dos demais partidos e, por arrastamento, o Governo que preside.
Se José Sócrates se tivesse retirado - à semelhança do primeiro-ministro espanhol, e que eu aprovaria incondicionadamente – em que temas diferentes a oposição iria inspirar-se, a fim de demonstrar, inequivocamente, que nos demais partidos existem alternativas que dão esperança?

A insistência das críticas é de tal modo marteladora e monótona – quer de uma parte quer da outra - que se torna num índice de falta de ideias, de omissão de programas válidos, de propósitos persuasivos, sérios e convincentes.

Certamente que o actual Governo socialista teve muitas culpas, mas pode-se considerar o único culpado? Nenhum outro governo precedente foi isento de medidas erradas e medíocres?

Não seria mais correcto pôr de lado petulâncias e presumíveis infalibilidades, dando lugar a análises honestas das más situações que se criaram e deixaram criar e a que se pretende pôr remédio?
É isto, precisamente, o que todos nós esperamos de quem se dedica a uma positiva administração da res publica.

Na propaganda política, a diminuição do adversário é normal e lícita. Se alicerçada em argumentos concretos e válidos, mas sem insistir sempre sobre o mesmo tema, pode dizer-se que se torna útil e justa.
O que eu não sei admitir nem tolerar são os insultos pessoais nem uma linguagem onde o bom-tom, a diplomacia e a educação brilham pela ausência. Ora, praticamente, tem sido a tónica desta campanha eleitoral.

Acho tudo isso execrável e indigno de um qualquer partido, radical ou moderado, que se repute sério.
A liberdade de expressão não justifica a deselegância oratória ou aleivosias.

Embora severamente crítica, votarei e sei muito bem por quem. Não renuncio a um meu direito e nunca simpatizei com abstencionismos; muito menos com indiferenças ante uma escolha que é de primária importância para todos nós, cidadãos portugueses.

2 Comments:

At 8:05 da tarde, Blogger a d´almeida nunes said...

Viva, Alda

Li este seu texto, objectivo como sempre, e disse logo para comigo próprio: vou deixar um comentário só a dizer
- faço minhas as palavras da articulista

Mas perdi a coragem de me apropriar do brilhante fio condutor deste "post".

Estou a dar comigo com vontade de me dispersar por outros temas, mais naturalistas, mais ao meu jeito, mas, afinal, parece que, por mais que me esforce, não consigo manter-me à margem de momentos como o que vivemos em Portugal.
Vai daí, até escrevo no meu blogue, preto no branco, qual o partido em quem vou votar e tudo.

Já estive quase a apagar o post...
Mas não.
O que foi escrito e publicado, escrito fica.

Mas que vai por aqui uma grande "salada russa" lá isso vai. E que nos estão a passar atestados de menoridade, a todo o momento, também é uma constatação evidente.

Qual vai ser o resultado de tudo isto?
Pura perda de tempo, de dinheiro e de energias!

Um abraço
António

 
At 2:03 da tarde, Blogger Alda M. Maia said...

Deixei agora mesmo um comentário ao que o António escreveu no "Dispersamente".
Não retire nada do que escreveu.

Efectivamente, por mais que nos queiramos alhear do bla bla bla que ribomba em todos os noticiários, a preocupação resta.

Sabe o que me aliviou? A sonora, tremenda bofetada que assestaram a Berlusconi nas administrativas, sobretudo em Milão e Nápoles.

Ver, sobretudo,tanta juventude a manifestar alegria pelo sucedido, foi um espectáculo belíssimo.

Um abraço
Alda

 

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