ANNE SINCLAIR, ÚNICA PERSONAGEM
DIGNA DE RESPEITO
No caso Strauss-Kahn, há uma personagem, não secundária, que sempre vi como pessoa de grande dignidade: Anne Sinclair, a mulher do ilustre arguido.
Após a teatral prisão de Strauss-Kahn em Nova Iorque, exceptuando as declarações de inteira confiança no marido e que entendeu oportuno exprimir, Anne Sinclair absteve-se de quaisquer outras manifestações que a colocassem no centro dos focos mediáticas.
Apenas se quis distinguir como esposa firme e solidária. Famosa e excelente jornalista, conhece perfeitamente os caminhos da discrição e, deste modo, pôde evitar quedas de estilo, o que admirei.
Assim, nas notícias dos últimos dias sobre a inesperada libertação do senhor Dominique Strauss-Kahn (embora permaneça a imputação) e da embrulhada que este caso representa, dando relevo a todos as figuras que o causaram e movimentaram, a única personagem – personagem mal-grado seu - que merece incondicionado respeito é, precisamente, a Senhora Anne Sinclair.
Não me surpreendi com este volte-face das investigações. A dramaticidade que emprestaram à história da empregada de hotel estuprada pelo egrégio cliente pecava por inverosimilhança: excessivos pormenores sobre a violência sexual, ademais sexo oral; situações ambíguas que levantavam perplexidades.
O que me surpreendeu - e continua a surpreender - foi a desenvoltura como se efectuou uma prisão espectáculo, nos moldes extremos que usaram para pôr Strauss-Kahn na cadeia; exigirem uma caução astronómica para lhe concederem prisão domiciliária com guardas à vista a expensas do incriminado e, tudo isto, baseado num depoimento que mereceria uma investigação mais severa, embora jamais negando credibilidade á presumível vítima.
Mas o facto transbordava de sensacionalismo: o grande homem que “tinha o mundo nos bolsos” violentando uma pobre empregada que, por acréscimo, é imigrante de um país africano, deveria ser exposto, previamente, ao escárnio público.
Os jornais, agora, abundam em análises sobre a bondade ou pechas do sistema judiciário americano. Como foi possível um deslize deste género?
Paralelamente, relevam como uma grande virtude o facto de ter sido a acusação pública quem informou os advogados de defesa de Strauss-Kahn sobre a negativa credibilidade da queixosa, a guineense Nafissatou Diallo.
Mas também aqui me surge uma dúvida: o Ministério Público informou-os porque sabia que lidava com dois famosos advogados com fama de obter o impossível e que já tinham em acção excelentes detectives ou continuaria na mesma linha acusatória inicial, caso devesse tratar com uma defesa diversa e com menos recursos materiais? Muito barulho por nada! Será assim?
Desde que rebentou o escândalo, os investigadores públicos e privados apuraram que a “infeliz vítima” era uma inveterada mentirosa, envolvida em actividades ilícitas e exercia a prostituição dentro do hotel onde trabalhava, segundo a revelação de alguns empregados.
Também noticiaram que litigou com Strauss-Kahn, exigindo dinheiro pelo “serviço” prestado e este negou-lho. Um belo esqualor!
Apenas duas considerações. Se provarem claramente (sublinho o se) que a empregada se aproveitou da bulimia erótica de Strauss-Kahn para exercer chantagem, espero que lhe apliquem uma pena severíssima, e somente por duas razões: pelo crime em si e pelo dano que faz a outras mulheres que foram ou são verdadeiras vítimas de estupro.
São bem conhecidos os tormentos por que passam e as dificuldades que encontram, a fim de comprovarem a brutalidade de que foram alvo. Logo, chantagens neste campo são aberrações inadmissíveis.
A segunda consideração diz respeito ao comportamento de Strauss-Kahn.
Que o acto sexual fosse consensual ou não, não consigo encontrar justificação para tanta superficialidade, arrogância e falta de dignidade.
Homem brilhante e de reconhecidas qualidades, é imperdoável que se comporte como menino amimalhado a quem tudo deve ser consentido.
“Gosto de mulheres, e depois?...” – assim afirmou. O depois significa que, após a humilhação a que o submeteram, seria boa altura de começar a olhar as mulheres com mais consideração, sobretudo da cinta para cima.
Quanto à probabilidade de um seu regresso à política activa francesa, no caso de sair indemne do escândalo americano, reúne todos aqueles predicados necessários para candidatar-se a máximo e digno representante da França? Mas que sejam os franceses a responder.
2 Comments:
Boa tarde, Alda
Quase que me apetece escrever simplesmente: mais comentários, para quê? Está tudo aqui bem explanado, o cerne desta questão que atingiu foros de escândalo internacional, está em que se tratava do snr. FMI e homem de alta influência política em França. Só por isso.
Mas, pelo que acabei de ouvir na rádio, a coisa não fica por aqui. Parece que, afinal, há outra, por sinal com ligações muito íntimas ao PS Francês, jornalista com algum nome, etc. que já anunciou que amanhã vai apresentar queixa no tribunal contra o este senhor, também porque terá sido assediada sexualmente. Até pode ter acontecido algo do género, mas...tanto tempo depois, agora, nesta altura, precisamente?!
Quer dizer, é uma profissão de altíssimo risco, ser-se pessoa poderosa, rica, influente, com motivações políticas ao mais alto nível. Querer candidatar-se a Presidente da República Francesa?!
Pois aí é que estará a questão, muito provavelmente!
Um abraço,
Como está, António?
Reparou no tempismo da "nova vítima"?
No início deste escândalo, já se tinha manifestado; agora voltou à carga.
Não compreendo muito bem que género de dignidade têm estas mulheres. Só depois de oito anos é que se sente ofendida?! Eu tê-lo-ia denunciado imediatamente, se pudesse provar o facto.Se não pudesse, a cara dele não ficaria em bom estado.
mas repito: que esqualidez em tudo isto, não acha?
Um abraço e um beijinho à Zaida
Alda
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