SE NÃO AGORA, QUANDO?
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Manifestação das mulheres contra Berlusconi, em Roma
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“Se non ora, quando?” – Se não agora, quando?
Este foi o lema escolhido por centenas de milhares de senhoras italianas para a manifestação anti-Berlusconi de ontem em Roma e em muitas outras cidades do País. Inspiraram-se no título do conhecido livro de Primo Levi.
A confluência na "Piazza del Popolo", em Roma – onde se organizou a manifestação símbolo – foi maciça, imponente, como o demonstra a foto acima reproduzida.
Todavia, verificou-se o mesmo espectáculo nos principais centros de tantas outras cidades, quer no Continente, quer na Sicília e Sardenha.
Não foram consentidas bandeiras ou quaisquer outros emblemas das facções políticas. Foi uma manifestação transversal, onde predominavam as écharpes brancas das senhoras e o entusiasmo.
Observando as reportagens sobre estas manifestações pacíficas e bem organizadas, nas diversas cidades, fiquei impressionada com a afluência de tanta gente: mulheres, homens, muitos jovens, crianças.
Assistimos a um novo fenómeno. Perante a ausência de líderes capazes e com a coragem das ideias, as massas sublevam-se com vigor e originalidade, saem para as ruas e gritam a sua indignação e descontentamento.
No Norte de África, vimos os resultados. Na Itália, uma democracia verdadeiramente em perigo vê as suas instituições diariamente esvaziadas por uma maioria sem o mínimo sentido de Estado, sem ética e sem vergonha.
Mas também aqui, a oposição brilha por fragmentação e estúpidos pessoalismos.
Foram as massas que se organizaram e protestaram contra um modo de fazer política que envergonha e prejudica o País.
E foi necessária a indignação feminina para que as ruas se enchessem e a sociedade civil, finalmente, começasse a despertar de uma apatia incompreensível.
É a esta maioria de ocupadores do Estado que atribuo a responsabilidade e as piores culpas do que, presentemente, acontece na Itália.
Criou um muro granítico à volta de uma espécie de líder, Berlusconi, que nunca deveria ascender ao lugar de primeiro-ministro ou qualquer outro cargo institucional, e por razões bem claras que todos conhecem.
Mas como foi este indivíduo - com os seus potentes meios económicos e mediáticos - quem, praticamente, escolheu essa maioria e, portanto, lhe garante posições rentáveis, defendendo-o, automaticamente defendem os interesses venais que os motivam.
O bizarro sistema eleitoral actual, inventado e votado pela maioria parlamentar de Berlusconi, em 2005, classificado pelo seu inventor, Calderoli da Liga Norte, como “Lei Porcata” (não necessita de tradução) deu origem ao tal muro granítico acima referido.
Bastam duas características para, efectivamente, classificá-la como uma porcaria.
Primeiro ponto: o eleitor vota a lista dos candidatos sem a possibilidade de indicar preferências - este sistema, infelizmente, também se verifica nas eleições portuguesas.
São os partidos quem escolhe e estabelece as respectivas graduações. Obedientemente, votamos o que os partidos impingem.
Segunda característica da “lei porcata” - esta, sim, verdadeiramente aberrante – é o “prémio de maioria”.
Á coligação que obtiver maioria relativa ser-lhe-á garantido um mínimo de 340 assentos na Câmara dos deputados. O número total é de 630 membros.
Uma coligação com uma maioria relativa de 35%, por exemplo, reinará no Parlamento.
Quando me falam que Berlusconi tem a maioria do País, conhecendo a “lei porcellum” (assim baptizada por Giovanni Sartori), sei de antemão que a maioria dos eleitores italianos não está com aquele indivíduo nem nunca esteve.
Não resisto à tentação de transcrever alguns slogans do que os numerosos cartazes de ontem exprimiam: sarcasmo, ironia, insultos, indignação.
Em resposta aos sistemáticos ataques de Berlusconi à magistratura:
Este foi o lema escolhido por centenas de milhares de senhoras italianas para a manifestação anti-Berlusconi de ontem em Roma e em muitas outras cidades do País. Inspiraram-se no título do conhecido livro de Primo Levi.
A confluência na "Piazza del Popolo", em Roma – onde se organizou a manifestação símbolo – foi maciça, imponente, como o demonstra a foto acima reproduzida.
Todavia, verificou-se o mesmo espectáculo nos principais centros de tantas outras cidades, quer no Continente, quer na Sicília e Sardenha.
Não foram consentidas bandeiras ou quaisquer outros emblemas das facções políticas. Foi uma manifestação transversal, onde predominavam as écharpes brancas das senhoras e o entusiasmo.
Observando as reportagens sobre estas manifestações pacíficas e bem organizadas, nas diversas cidades, fiquei impressionada com a afluência de tanta gente: mulheres, homens, muitos jovens, crianças.
Assistimos a um novo fenómeno. Perante a ausência de líderes capazes e com a coragem das ideias, as massas sublevam-se com vigor e originalidade, saem para as ruas e gritam a sua indignação e descontentamento.
No Norte de África, vimos os resultados. Na Itália, uma democracia verdadeiramente em perigo vê as suas instituições diariamente esvaziadas por uma maioria sem o mínimo sentido de Estado, sem ética e sem vergonha.
Mas também aqui, a oposição brilha por fragmentação e estúpidos pessoalismos.
Foram as massas que se organizaram e protestaram contra um modo de fazer política que envergonha e prejudica o País.
E foi necessária a indignação feminina para que as ruas se enchessem e a sociedade civil, finalmente, começasse a despertar de uma apatia incompreensível.
É a esta maioria de ocupadores do Estado que atribuo a responsabilidade e as piores culpas do que, presentemente, acontece na Itália.
Criou um muro granítico à volta de uma espécie de líder, Berlusconi, que nunca deveria ascender ao lugar de primeiro-ministro ou qualquer outro cargo institucional, e por razões bem claras que todos conhecem.
Mas como foi este indivíduo - com os seus potentes meios económicos e mediáticos - quem, praticamente, escolheu essa maioria e, portanto, lhe garante posições rentáveis, defendendo-o, automaticamente defendem os interesses venais que os motivam.
O bizarro sistema eleitoral actual, inventado e votado pela maioria parlamentar de Berlusconi, em 2005, classificado pelo seu inventor, Calderoli da Liga Norte, como “Lei Porcata” (não necessita de tradução) deu origem ao tal muro granítico acima referido.
Bastam duas características para, efectivamente, classificá-la como uma porcaria.
Primeiro ponto: o eleitor vota a lista dos candidatos sem a possibilidade de indicar preferências - este sistema, infelizmente, também se verifica nas eleições portuguesas.
São os partidos quem escolhe e estabelece as respectivas graduações. Obedientemente, votamos o que os partidos impingem.
Segunda característica da “lei porcata” - esta, sim, verdadeiramente aberrante – é o “prémio de maioria”.
Á coligação que obtiver maioria relativa ser-lhe-á garantido um mínimo de 340 assentos na Câmara dos deputados. O número total é de 630 membros.
Uma coligação com uma maioria relativa de 35%, por exemplo, reinará no Parlamento.
Quando me falam que Berlusconi tem a maioria do País, conhecendo a “lei porcellum” (assim baptizada por Giovanni Sartori), sei de antemão que a maioria dos eleitores italianos não está com aquele indivíduo nem nunca esteve.
Não resisto à tentação de transcrever alguns slogans do que os numerosos cartazes de ontem exprimiam: sarcasmo, ironia, insultos, indignação.
Em resposta aos sistemáticos ataques de Berlusconi à magistratura:
«Eu estou com os Ministérios Públicos, velho porco com o “rabo flácido”».
«Ainda bem que a Magistratura existe!».
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Não à pornocracia. Indignemo-nos».
«Não é um País para velhos putanheiros».
«Melhor gay que velho porcalhão».
«É carnaval, mas os artistas estão no Governo».
«Berlusconi, presta um serviço à humanidade: demite-te».
«Pela dignidade das mulheres, demite-te».
«Bastava não votá-lo»
Quanto a demissões, aquele homem pouco ou nada compreende: falta-lhe pundonor, dignidade e qualidades políticas para dar esse passo e não comprar votos, a fim de enfrentar moções de censura, como fez ultimamente.
Mas se não agora, quando? Penso que só as urnas o dirão.
Alda M. Maia
Quanto a demissões, aquele homem pouco ou nada compreende: falta-lhe pundonor, dignidade e qualidades políticas para dar esse passo e não comprar votos, a fim de enfrentar moções de censura, como fez ultimamente.
Mas se não agora, quando? Penso que só as urnas o dirão.
Alda M. Maia
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